A OMS (Organização Mundial da Saúde) está preocupada com a "séria cegueira" de governos que permitem aglomerações de pessoas e não adotam medidas para conter a pandemia de coronavírus, disse nesta segunda (11) o diretor-executivo da Organização Mundial de Saúde, Michael Ryan, sem citar nominalmente nenhum país.
Entre os dez países com maior número de mortes por coronavírus no mundo, Brasil e Estados Unidos são os únicos que não adotaram restrições em nível nacional e também os únicos com taxa de contágio acima de 1, segundo estimativa do Imperial College. O número indica que a pandemia está fora de controle.
Ryan classificou como um erro grave a crença de que a maioria das pessoas não mostra sintomas e que "o vírus vai passar sozinho". "A ideia de que podemos deixar mais gente ter contato com a doença é um cálculo muito perigoso. Os países não podem fazer essa matemática, precisam fazer tudo para proteger a saúde e a economia ao mesmo tempo", afirmou.
Segundo Maria van Kerkhove, líder técnica da entidade, já há mais de 90 estudos para medir a presença de anticorpos, e os resultados indicam que a imensa maioria da população ainda não teve contato com o vírus. Em geral, a porcentagem de infectados que desenvolveram defesas varia de 1% a 10%, dependendo da metodologia do estudo e do tipo de teste feito.
"Alguns mostram uma presença um pouco maior, de 14% ou 15%, mas ainda não conseguimos avaliar criticamente todas as pesquisas", disse a líder técnica da OMS.
Maria afirmou também que não se sabe qual seria o nível de contaminação necessária para que a população estivesse protegida no caso do coronavírus, a chamada "imunidade de rebanho".
O número é usado em saúde pública para determinar que porcentagem de uma população tem que ser vacinada para que todos possam ser considerados protegidos. No caso do coronavírus, ainda não se sabe nem por quanto tempo a presença de anticorpos garante a imunidade.
"O termo é mais próprio para a veterinária, em que um animal individualmente não importa tanto. Temos que ter cuidado em usar esse conceito com humanos", disse Ryan. Segundo ele, o relaxamento das quarentenas pode levar a uma segunda onda de infecção, se não houver um programa intensivo para identificar novos casos, rastrear contatos e isolar doentes e suspeitos.
Ryan disse que os recentes surtos na Coreia do Sul e na Alemanha mostram esse risco, mas põe em evidência também o preparo dos dois governos para localizar rapidamente os focos de perigo e impedir a disseminação do vírus. "É preciso elogiar os países que estão com os olhos abertos, tentando sair da cegueira", afirmou Ryan.
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