> >
Os gráficos que mostram como Terra atingiu 'linha vermelha' de aquecimento em 2024

Os gráficos que mostram como Terra atingiu 'linha vermelha' de aquecimento em 2024

O ano passado foi o mais quente já registrado no mundo, elevando as temperaturas acima de um marco politicamente simbólico.

Publicado em 10 de janeiro de 2025 às 09:44

Ícone - Tempo de Leitura 5min de leitura
Imagem BBC Brasil
(BBC)

Mark Poynting, Erwan Rivault e Becky Dale

O planeta deu um grande passo em direção ao aquecimento acima de 1,5 °C, segundo revelam novos dados, apesar de os líderes mundiais terem prometido há uma década que tentariam evitar isso.

O serviço climático europeu Copernicus, um dos principais fornecedores de dados globais, afirmou nesta sexta-feira (10/1) que 2024 foi o primeiro ano a ultrapassar o limite simbólico, além de ter sido o mais quente já registrado.

Isso não significa que a meta internacional de 1,5ºC tenha sido descumprida, pois ela se refere a uma média de longo prazo ao longo de décadas, mas esse resultado nos deixa mais perto disso, uma vez que as emissões de combustíveis fósseis continuam a aquecer a atmosfera.

Na semana passada, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, descreveu a recente série de recordes de temperatura como "colapso climático".

"Precisamos sair deste caminho para a ruína — e não temos tempo a perder", disse ele em sua mensagem de Ano Novo, pedindo que os países reduzam as emissões de gases que causam o aquecimento global em 2025.

Imagem BBC Brasil
(BBC)

As temperaturas médias globais de 2024 ficaram cerca de 1,6 °C acima das do período pré-industrial — antes de os seres humanos começarem a queimar grandes quantidades de combustíveis fósseis —, de acordo com os dados do Copernicus.

Com isso, 2024 bateu o recorde estabelecido em 2023 em pouco mais de 0,1ºC — e agora os últimos 10 anos são os 10 anos mais quentes já registrados.

O Met Office, centro nacional de meteorologia britânico, a Nasa, agência espacial americana, e outros grupos climáticos devem divulgar seus próprios dados ainda nesta sexta-feira.

A expectativa é de que todos concordem que 2024 foi o ano mais quente já registrado, embora os números precisos possam variar um pouco.

O calor do ano passado se deve principalmente às emissões de gases que aquecem o planeta, como o dióxido de carbono, que ainda estão em níveis recordes.

Os padrões climáticos naturais, como o El Niño, em que as águas na superfície do Oceano Pacífico tropical oriental ficam excepcionalmente quentes, tiveram um papel menor.

"De longe, a maior contribuição que impacta nosso clima são as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera", afirmou Samantha Burgess, vice-diretora do Copernicus, à BBC.

O marco de 1,5°C se tornou um símbolo poderoso nas negociações internacionais sobre o clima desde que foi acordado em Paris em 2015, com muitos dos países mais vulneráveis considerando-o uma questão de sobrevivência.

Os riscos das mudanças climáticas — como ondas de calor intensas, aumento do nível do mar e perda de vida selvagem — seriam muito maiores com um aquecimento de 2ºC do que com 1,5ºC, de acordo com um relatório de referência da ONU de 2018.

No entanto, o mundo tem se aproximado cada vez mais de romper a barreira de 1,5ºC.

"É difícil prever quando exatamente vamos ultrapassar o limite de 1,5ºC de longo prazo, mas é óbvio que já estamos muito perto agora", adverte Myles Allen, do Departamento de Física da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e um dos autores do relatório da ONU.

Imagem BBC Brasil
(BBC)

A trajetória atual provavelmente faria com que o mundo ultrapassasse 1,5ºC de aquecimento de longo prazo no início da década de 2030. Isso seria politicamente significativo, mas não significaria o fim da linha para a ação climática.

"Não é como se 1,49ºC fosse bom, e 1,51ºC fosse o apocalipse. Cada décimo de grau é importante, e os impactos climáticos pioram progressivamente quanto maior for o aquecimento", explica Zeke Hausfather, cientista climático da Berkeley Earth, um grupo de pesquisa nos EUA.

Até mesmo frações de um grau de aquecimento global podem provocar condições climáticas extremas mais frequentes e intensas, como ondas de calor e chuvas fortes.

Em 2024, o mundo sofreu com temperaturas escaldantes na África Ocidental, seca prolongada em partes da América do Sul, chuvas intensas na Europa Central e algumas tempestades tropicais particularmente fortes na América do Norte e no sul da Ásia.

Estes fenômenos foram apenas alguns dos que se tornaram mais intensos devido às mudanças climáticas no ano passado, de acordo com o grupo World Weather Attribution.

Inclusive nesta semana, quando os novos números foram divulgados, a cidade de Los Angeles foi atingida por incêndios florestais devastadores, alimentados por ventos fortes e falta de chuva.

Embora haja muitos fatores que contribuíram para os eventos desta semana, os especialistas dizem que as condições propícias aos incêndios na Califórnia estão se tornando mais prováveis em um mundo em aquecimento.

Imagem BBC Brasil
(BBC)

Não foram apenas as temperaturas do ar que estabeleceram novos patamares em 2024.

As temperaturas da superfície do mar também alcançaram uma nova máxima diária, enquanto a quantidade total de umidade na atmosfera atingiu níveis recordes.

O fato de o mundo estar batendo novos recordes não é uma surpresa: sempre se esperou que 2024 fosse quente, devido ao efeito do fenômeno climático El Niño — que terminou por volta de abril do ano passado —, além do aquecimento causado pelos seres humanos.

Mas a margem de vários recordes nos últimos anos não era tão esperada, e alguns cientistas temem que isso possa representar uma aceleração do aquecimento.

"Acho que é seguro dizer que as temperaturas de 2023 e 2024 surpreenderam a maioria dos cientistas do clima — não achávamos que veríamos um ano acima de 1,5ºC tão cedo", diz Hausfather.

"Desde 2023, tivemos cerca de 0,2°C de aquecimento extra que não podemos explicar totalmente, além do que esperávamos das mudanças climáticas e do El Niño", concorda Helge Gößling, físico climático do Instituto Alfred Wegener, na Alemanha.

Várias teorias foram sugeridas para explicar este calor "extra", como uma redução aparente na cobertura de nuvens baixas que tende a resfriar o planeta, e o aquecimento prolongado do oceano após o fim do El Niño.

"A questão é se essa aceleração é algo persistente ligado às atividades humanas, que significa que teremos um aquecimento mais acentuado no futuro, ou se é parte da variabilidade natural", acrescenta Gößling.

"No momento, é muito difícil dizer."

Apesar desta incerteza, os cientistas enfatizam que os seres humanos ainda têm controle sobre o clima futuro, e reduções acentuadas nas emissões podem diminuir as consequências do aquecimento.

"Mesmo que 1,5°C tenha ido por água abaixo, provavelmente ainda podemos limitar o aquecimento a 1,6°C, 1,7°C ou 1,8°C neste século", afirma Hausfather.

"Isso vai ser muito, muito melhor do que continuarmos queimando carvão, petróleo e gás sem parar, e acabarmos em 3°C ou 4°C (de aquecimento) — ainda importa muito."

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais