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Os polêmicos cheques de US$ 1 milhão que Elon Musk distribui a eleitores antes de votação em Estado americano

Os polêmicos cheques de US$ 1 milhão que Elon Musk distribui a eleitores antes de votação em Estado americano

O procurador-geral do Estado tentou impedir o pagamento, argumentando que se tratava de uma oferta ilegal de compra de votos.

Publicado em 31 de março de 2025 às 07:44

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Imagem BBC Brasil
Este cheque foi entregue para Ekaterina Diestler. (Getty Images)

Nadine Yousif

O bilionário Elon Musk distribuiu cheques de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,8 milhões) a eleitores de Wisconsin, nos Estados Unidos, depois que a Suprema Corte do Estado se recusou a intervir.

Musk anunciou o prêmio no início da semana passada, às vésperas da acirrada eleição para a Suprema Corte de Wisconsin, que será realizada nesta terça-feira (1/4). Nos EUA, esses cargos na Justiça são apontados em eleições.

O procurador-geral de Wisconsin, o democrata Josh Kaul, havia entrado com um processo para impedir a distribuição, argumentando que Musk estava violando uma lei estadual que proíbe dar presentes em troca de votos.

A disputa, que pode transferir o controle da Suprema Corte do Estado para os republicanos, se tornou um ponto de tensão — e a eleição judicial mais cara da história americana.

Em um comício na noite de domingo (30/3), Musk disse que "queremos apenas que os juízes sejam juízes", antes de entregar dois cheques de US$ 1 milhão a eleitores que haviam assinado uma petição para impedir juízes "ativistas".

Kaul havia tentado argumentar que a doação era uma tentativa ilegal de comprar votos. Os advogados de Musk, em resposta, alegaram que Kaul estava "reprimindo o discurso político de Musk, e cerceando seus direitos da Primeira Emenda".

Os advogados de Musk acrescentaram que os pagamentos eram "destinados a gerar um movimento de base em oposição a juízes ativistas, e não a advogar especificamente a favor ou contra qualquer candidato".

Depois que dois tribunais de instâncias inferiores deram razão a Musk, Kaul fez um apelo de última hora à Suprema Corte do Estado para impedir os pagamentos. Mas o tribunal se recusou, por unanimidade, a ouvir o caso.

Musk e o presidente americano, Donald Trump, apoiam um candidato conservador, o juiz do condado de Waukesha, Brad Schimel, na esperança de mudar o controle do tribunal de tendência liberal.

O juiz Schimel está concorrendo com a juíza do condado de Dane, Susan Crawford, que tem o apoio dos juízes liberais da Suprema Corte do Estado.

Os advogados do bilionário do setor de tecnologia também argumentaram que os juízes que endossaram publicamente a juíza Crawford na disputa pela Suprema Corte deveriam ser impedidos de decidir sobre o assunto, alegando que se trata de uma questão de parcialidade.

Imagem BBC Brasil
Musk agora chefia o Departamento de Eficiência Governamental, e se tornou uma das figuras mais influentes na Casa Branca. (Getty Images)

A disputa pela Suprema Corte de Wisconsin está sendo vista por analistas políticos como uma espécie de referendo sobre o segundo mandato de Trump, apenas alguns meses após sua posse.

Também precede casos importantes que vão chegar ao tribunal sobre direito ao aborto, divisão de distritos eleitorais e regras de votação que podem afetar as eleições de meio de mandato de 2026.

O próprio Musk considerou a eleição como uma chance de impedir a redistribuição dos distritos eleitorais que poderia favorecer os democratas no Congresso.

Ele doou US$ 14 milhões para a campanha do juiz Schimel, no que está se revelando ser a corrida eleitoral judicial mais cara da história do país, com US$ 81 milhões em gastos no total.

Apesar do apoio, o juiz Schimel pareceu se distanciar de Musk nos últimos dias, dizendo ao jornal Milwaukee Journal Sentinel na sexta-feira que não tinha planos de comparecer ao comício em que Elon Musk distribuiu os cheques.

"Não tenho ideia do que ele está fazendo. Não tenho ideia do que seja este comício", afirmou o juiz Schimel ao jornal.

Esta não é a primeira vez que Musk anunciou um prêmio para os eleitores. No ano passado, ele também ofereceu sortear US$ 1 milhão por dia em dinheiro aos eleitores de Wisconsin e de seis outros Estados decisivos para a eleição presidencial de novembro, se eles assinassem uma petição de apoio aos direitos da Primeira e Segunda Emendas.

Mais tarde, um juiz da Pensilvânia decidiu que a distribuição era legal, argumentando que os promotores não conseguiram provar que se tratava de uma loteria ilegal.

Musk se tornou um dos aliados mais próximos do presidente Donald Trump, tendo financiado sua campanha presidencial de 2024 com centenas de milhões de dólares. Ele agora chefia o controverso Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), encarregado de cortar os gastos do governo federal, que já promoveu demissões em massa de funcionários públicos.

O homem mais rico do mundo, que é CEO da Tesla e da SpaceX, também interveio na política no exterior, fazendo uma aparição em vídeo em um comício do partido de direita radical Alternativa para Alemanha (AfD) antes da eleição parlamentar no país. E lançou ataques online contra políticos britânicos, incluindo o primeiro-ministro, Keir Starmer, e foi acusado de incitar violentos protestos anti-imigração que abalaram o Reino Unido no ano passado.

Após essas polêmicas, e depois do controverso gesto de Musk com o braço levantado após a posse de Trump em 20 de janeiro — que muitos interpretaram como uma saudação fascista —, imagens de carros e concessionárias da Tesla vandalizados com pichações contra o homem mais rico do mundo têm circulado nas redes sociais.

Houve protestos do lado de fora de dezenas de concessionárias da Tesla, não apenas nos EUA, mas também no Canadá, no Reino Unido, na Alemanha e em Portugal.

Além disso, vários proprietários de Tesla decidiram se desfazer de seus veículos devido ao crescente perfil politizado de Musk, conforme depoimentos publicados na imprensa europeia e americana.

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