O embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, disse nesta quinta-feira (21) que "as palavras e a maneira de comunicação" serão "muito importantes" na relação entre o governo Jair Bolsonaro e a nova administração americana.
"As palavras e a maneira de comunicação vão ser muito importantes. Todos nós vamos ter que ter muita atenção nas palavras, nas comunicações e trabalhar de maneira bastante disciplinada para chegar aonde todos queremos, que é uma relação produtiva para os dois lados, baseada em valores e princípios democráticos e em interesses comuns que temos no mundo", disse o diplomata, em videoconferência com jornalistas.
A fala de Chapman ocorre após uma série de declarações de Bolsonaro defendendo Donald Trump e ecoando teorias do republicano – sem provas – de que as eleições nos EUA foram fraudadas.
O chanceler Ernesto Araújo também fez publicações demonstrando simpatia com os manifestantes pró-Trump que invadiram o Congresso nos EUA em 6 de janeiro, em falas criticadas por diplomatas brasileiros e por interlocutores que trabalharam no passado em outras administrações democratas.
Questionado sobre as manifestações de Bolsonaro e Araújo, Chapman não os criticou nem os citou diretamente. Ele destacou que trabalha a partir do presente e disse que, agora, é momento de "criar e continuar a estabelecer novos canais de comunicação entre as duas administrações".
"Ontem foi um novo começo, o começo de uma administração do presidente [Joe] Biden. Ele foi legalmente eleito, apoiado pela maioria dos eleitores e dentro do sistema que nós temos do Colégio Eleitoral. Esse é o fato que temos que enfatizar sempre", disse.
"É importante colocarmos a nossa relação [com o Brasil] dentro desse cenário de realidade, dentro da legalidade da nossa eleição. Ela foi decidida com clareza, legalmente e democraticamente, além de ter sido avalizada pelo Congresso e acompanhada pelos nossos órgãos de Justiça", acrescentou.
Chapman comemorou o fato de Bolsonaro ter enviado, na quarta (20), uma carta a Biden cumprimentando-o pela posse e elencando as prioridades brasileiras no relacionamento bilateral. O brasileiro foi um dos últimos líderes a felicitar Biden, tendo publicado uma mensagem apenas no dia em que o Colégio Eleitoral confirmou o resultado do pleito celebrado mais de um mês antes.
No documento, Bolsonaro se desfez da retórica pró-Trump e deu ênfase a possíveis cooperações na área do meio ambiente, que deve ser uma das prioridades de Biden.
Chapman argumentou que o novo mandatário americano já deixou claro que sustentabilidade será um dos "pilares" de sua agenda, principalmente a partir da indicação do ex-candidato à Casa Branca John Kerry para o posto de enviado especial para Mudanças Climáticas.
Ele indicou que o assunto deve também entrar com mais força nas conversas com o Brasil.
Bolsonaro é alvo de críticas no Brasil e no exterior por ataques contra ativistas ambientais e pelo aumento do desmatamento na Amazônia e a onda de incêndios no Pantanal.
A preservação na Amazônia entrou inclusive na campanha americana. Num debate com Trump, Biden defendeu pressão contra o Brasil pela proteção do bioma, e Bolsonaro classificou a fala como "lamentável".
"Nova administração, novo dia. E novas oportunidades para esclarecer o que está ocorrendo e e para comunicar mais e melhor, sendo bastante francos e honestos como somos com países amigos", disse o embaixador.
Chapman citou a volta dos EUA ao Acordo de Paris, anunciada pela nova gestão democrata, e disse que é importante trabalhar bilateralmente para chegar a novos entendimentos. "No ano passado tivemos boas conversas, assinamos acordos, isso é importante. Mas eu acho que o presidente Biden o secretário Kerry vão querer ver mais oportunidades de avançar nesse diálogo e fazer coisas concretas. Isso já é bastante evidente para todo mundo, incluindo o governo brasileiro."
Segundo o embaixador, Bolsonaro faz referência a isso na carta que enviou a Biden. "Vamos dar um pouco de tempo para que essas conversas comecem e vamos esperar que vamos chegar a entendimentos importantes. Não apenas para Brasil e Estados Unidos, mas também para o planeta".
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