No dia da eleição, Deni Blanco costumava vender comida do lado de fora das seções de votação em La Paz. Era uma maneira fácil de ganhar algum dinheiro extra. Neste ano, porém, por causa da pandemia do novo coronavírus, ela mudou de ramo: vendeu canetas.
"Minha irmã viu na TV que desta vez cada eleitor deveria trazer sua própria caneta para votar. Então, ela disse: 'Por que não as vendemos?'", disse Blanco, em um local de votação na Ciudadela Ferroviaria, região pobre de La Paz. Ela vendia seu produto por 1 boliviano (cerca de R$ 0,80) cada e, após duas horas de votação, afirmou que havia comercializado pelo menos 50 unidades.
De acordo com números oficiais, 8.463 bolivianos morreram em decorrência da Covid-19. O país tem a 7.ª maior taxa de mortalidade per capita do mundo pela doença.
Os paceños, como são conhecidos os moradores de La Paz, disseram que estavam se sentindo seguros ao votar com os protocolos estabelecidos pelas autoridades de saúde, mas que foi difícil manter o distanciamento em meio a filas de até 3 horas nas seções de votação. "As pessoas não respeitam o distanciamento social", disse Eric Echevarria, que votou pela primeira vez neste ano.
Segundo a determinação do governo, para votar, os eleitores teriam de estar de máscaras. Já os funcionários da Justiça Eleitoral tinham de usar também uma proteção acrílica na frente do rosto.
A pandemia também mudou os horários de votação. Antes, os cidadãos costumavam votar a qualquer hora entre 8 horas e 17 horas. Com a pandemia, os eleitores foram divididos em grupos, com parte votando pela manhã e parte durante a tarde.
Os bolivianos também costumavam colocar os dedos em uma tinta roxa para tirar a impressão digital após votar. Dessa vez, o próprio eleitor deveria usar uma haste com algodão para passar a tinta, embora nem todos tenham seguido a regra. "Pessoas como eu que podem molhar o dedo direto na tinta, afinal não estou doente", disse Deisy Mamani, eleitora da zona sul de La Paz.
A eleição de ontem havia sido adiada duas vezes por causa da pandemia. A primeira data era maio deste ano. Com o vírus se espalhando pelo país, que hoje tem quase 140 mil casos, a disputa foi adiada para setembro e, depois de novo pico de notificações, para ontem.
No começo de setembro, o governo adicionou mais de 1,6 mil mortes pela doença em um só dia na contabilidade oficial, o que levantou suspeitas que esses óbitos tinham sido descartados deliberadamente. O Ministério da Saúde disse, porém, que a atualização veio após os laboratórios da região de Santa Cruz liberarem resultados que estavam represados.
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