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Papa Francisco conclui sínodo com aceno de abertura para mulheres na Igreja

Papa Francisco conclui sínodo com aceno de abertura para mulheres na Igreja

Texto do evento diz que não há empecilhos para participação feminina em papéis de liderança e incentiva continuidade do debate sobre diaconato feminino

Publicado em 26 de outubro de 2024 às 20:42

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MILÃO, ITÁLIA - O Sínodo da Sinodalidade, convocado há quatro anos pelo papa Francisco para debater o futuro da Igreja, chegou ao fim neste sábado (26), com a conclusão da segunda assembleia de bispos, no Vaticano, e a divulgação de um documento com indicações ao papa.

O texto diz que "não há razões que impeçam as mulheres de assumirem papéis de liderança na Igreja" e pede para que o debate sobre o diaconato feminino continue. Foi o trecho do documento que mais atraiu contrariedade dos participantes do sínodo.

O papa Francisco. (Daniel Marenco/Folhapress )

Os diáconos, que hoje só podem ser homens, inclusive casados, são o primeiro degrau na hierarquia católica, abaixo de padres e bispos. Eles podem realizar batizados, casamentos e funerais, mas não podem celebrar a eucaristia, ouvir a confissão ou realizar a unção dos enfermos (extrema-unção). Há evidências de que o diaconato para as mulheres vigorou em grande parte do Ocidente até o século 12.

O processo deste sínodo, que chegou a ser visto por alas progressistas como um caminho para reformas e por conservadores como um risco de cisma, terminou oficialmente sem propor mudanças profundas no catolicismo, apesar do aceno à maior abertura às mulheres.

Uma das mais controversas deste sínodo, a questão da participação mais decisiva das mulheres já tinha sido a que mais atraiu objeção na assembleia do ano passado e, como consequência, havia perdido espaço na pauta oficial desta sessão. A pedido de Francisco, os temas mais divisivos estão sendo estudados com profundidade por dez grupos, paralelamente ao sínodo, até o meio de 2025.

Mesmo assim, o tema das mulheres, emerso durante o processo inicial de escuta que envolveu paróquias de todos os continentes, foi alvo de análise dos 368 participantes, entre cardeais, bispos e leigos, incluindo 54 mulheres com direito a votar no documento final.

"Em virtude do batismo, homens e mulheres gozam de igual dignidade no povo de Deus. No entanto, as mulheres continuam a encontrar obstáculos para obter um reconhecimento mais pleno dos seus carismas, da sua vocação e do seu lugar nos vários âmbitos da vida da Igreja", diz o texto, mencionando que as mulheres representam a maioria dos fiéis e são ativas nas paróquias.

"As mulheres contribuem para a investigação teológica e estão presentes em cargos de responsabilidade nas instituições ligadas à Igreja, nas cúrias diocesanas e na Cúria Romana. [...] Não há razões que impeçam as mulheres de assumirem papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido. A questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal também permanece em aberto. O discernimento deve continuar a este respeito", diz.

Esse parágrafo foi aprovado e incluído no texto, com 258 votos a favor, mas foi aquele que recebeu a maior parte dos votos contrários, 97, indicando a rejeição de quase cem integrantes do sínodo contra o trecho dedicado às mulheres. O documento tem 155 parágrafos, e cada um deve ser aprovado por dois terços dos integrantes para ser considerado válido.

Outro tema que havia sido retirado da pauta oficial, a inclusão da comunidade LGBTQIA+ não foi abordada no documento final, exceto por uma breve menção "àqueles que compartilharam o sofrimento de se sentirem excluídos ou julgados pela sua situação conjugal, identidade e sexualidade".

Em seu discurso de encerramento, Francisco afirmou que os temas divisivos, confiados aos dez grupos de estudo, precisam de "tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja".

"Essa não é a forma clássica de adiar indefinidamente decisões. É aquele que corresponde ao estilo sinodal com o qual também deve ser exercido o ministério petrino: escuta, convocação, discernimento, decisão e avaliação. E nesses passos são necessárias pausas, silêncios, orações. É um estilo que vamos aprendendo juntos, aos poucos", afirmou o papa.

No documento final, há a recomendação por mudanças no treinamento para futuros padres, mais envolvimento de leigos na escolha de bispos e mais transparência e responsabilidade em todos os níveis da Igreja.

O sínodo — a palavra vem do grego e remete a "caminhar junto" — é um mecanismo de consulta ativado pelo papa, que indica o tema que precisa ser aprofundado. Neste sábado, Francisco anunciou que não publicará uma exortação apostólica, com diretrizes ao clero, como era esperado. "O documento [final] já tem indicações muito concretas que podem servir de guia para a missão das igrejas, nos diversos continentes, nos diversos contextos", afirmou.

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