Uma pausa de quatro dias nos confrontos entre Israel e o Hamas entrou em vigor na última sexta-feira (24) como parte de um acordo para permitir a liberação de reféns nas mãos do grupo da Faixa de Gaza em troca da liberdade de prisioneiros palestinos, com ambos os lados dizendo que a pausa será temporária.
Nos termos do pacto, que foi mediado pelo Catar, um grupo de mais 13 reféns israelenses, apenas mulheres e crianças, deverão ser libertados mais tarde neste sábado — esse número deve chegar a 50 ao longo dos quatro dias.
Nesta sexta, primeiro dia da trégua, o Hamas liberou os primeiros 24 reféns. O grupo incluiu 13 israelenses, além de 10 cidadãos tailandeses e um filipino.
Por seu lado, Israel se comprometeu a libertar 150 prisioneiros palestinos. Nesta sexta, os primeiros 39 foram libertados e se espera mais 42 sejam soltos neste sábado. Segundo autoridades israelenses, dentre os prisioneiros a serem libertados estão mulheres, crianças e adolescentes palestinos mantidos presos em Israel.
Para Peter R. Neumann, professor de estudos de segurança no King's College de Londres, há uma vantagem tática para o Hamas em ter uma pausa no combate.
O especialista analisa que isso permitirá que o grupo se recupere de sete semanas de combate extenuante, no qual resistiu em grande parte ao ataque israelense, mas também sofreu algumas perdas significativas.
"Não há dúvida de que o Hamas usará parte desse tempo para restabelecer cadeias de comando, reabastecer suprimentos e realocar combatentes para posições de onde possam causar mais danos às tropas israelenses em avanço."
"Importante, isso também lhes dará a oportunidade de mover os reféns restantes para locais de onde Israel terá ainda mais dificuldade em libertá-los."
Em resumo, na análise do professor, mesmo que não haja outros benefícios não declarados, o acordo de reféns oferece ao Hamas vantagens táticas e estratégicas significativas.
"Embora seja indiscutivelmente uma boa notícia para os libertados e suas famílias, a dura verdade é que isso potencialmente tornará mais difícil — e custoso — libertar aqueles que foram deixados para trás."
Embora o acordo de cessar - fogo temporário entre Israel e o Hamas ofereça um espaço para respirar no conflito em andamento, Neumann aponta que isso não sinaliza o fim da crise de reféns, nem mesmo o início de seu fim.
"Isso proporciona ao Hamas uma vantagem em um drama que provavelmente se prolongará e não terá um desfecho claro."
A libertação de dezenas de reféns idosos, mulheres e crianças nos próximos dias será recebida com grande alívio pelos israelenses.
Isso significa, complementa o professor, que o Hamas continuará mantendo mais de 150 reféns, mas para eles, isso pode se mostrar mais vantajoso do que um número maior.
"Em primeiro lugar, os quase 240 reféns originalmente capturados provavelmente impuseram um grande fardo à organização. Reféns precisam ser constantemente cuidados, monitorados e, se necessário, movidos. Se alguns deles são idosos, doentes ou têm necessidades médicas especiais, as coisas se tornam mais complicadas."
Ao "se livrar" de quem precisa de atenção especial, diz Neumann, o Hamas não está exibindo compaixão, mas principalmente liberando recursos necessários em outros lugares.
"Isso é especialmente verdadeiro para cerca de duas dezenas de trabalhadores da Tailândia e Nepal que não têm valor estratégico para o Hamas, pois não são israelenses nem judeus."
Outra razão, aponta ele, é que os reféns restantes são mais fáceis de retratar como "legítimos", pois são principalmente soldados israelenses ou homens em idade de combate.
"O Hamas argumentará que são ‘combatentes inimigos’, até mesmo prisioneiros de guerra. É crucial destacar que isso aumentará a pressão sobre o governo Netanyahu para concordar com uma troca de prisioneiros."
Assim como no passado, quando Israel concordou em liberar centenas — em uma ocasião, mais de mil — palestinos em troca de pequenos números de soldados israelenses, o professor avalia que o Hamas exigirá a libertação de milhares de seus membros que estão atualmente em prisões israelenses.
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