Aconteceu de novo. As pesquisas eleitorais dos Estados Unidos mais uma vez subestimaram a quantidade de votos que Donald Trump receberia no pleito e traçaram um cenário mais favorável ao candidato democrata do que se confirma na realidade.
Só que, desta vez, os levantamentos devem acertar a vitória de Joe Biden, diferentemente do que ocorreu há quatro anos -quando previram a eleição de Hillary Clinton, mas o republicano acabou na Casa Branca.
E isso acontece apesar de as sondagens de 2020 terem cometido um erro ainda maior do que aquele de quatro anos atrás. Em 2016, as pesquisas do voto popular nacional erraram o resultado final por 1,8 ponto percentual, enquanto na contagem até agora o erro é muito maior, de 6,2 pontos.
A vantagem que Biden tinha sobre seu rival nas pesquisas anteriores ao início da eleição, porém, era mais que o dobro da que Hillary tinha sobre o adversário. Isso permitiu ao ex-vice de Barack Obama chegar a esta quarta-feira (4) ainda como favorito na disputa.
Para confirmar a vitória, o democrata ainda precisa conquistar mais um estado para chegar a 270 delegados no Colégio Eleitoral, número mínimo necessário para ser eleito o 46º presidente do país.
Para isso, o democrata teve que vencer apertadas disputas contra Trump em Michigan e em Wisconsin, dois estados do Meio-Oeste que Trump havia ganhado há quatro anos.
As pesquisas desses dois locais ilustram bem os problemas dos levantamentos deste ano. Na véspera da eleição, Biden tinha uma vantagem de 8,1 pontos percentuais sobre Trump em Michigan e de 8,2 pontos em Wisconsin, de acordo com a média das pesquisas calculadas pelo site especializado FiveThirtyEight.
Na contagem até agora, o democrata tem uma vantagem de apenas 0,9 ponto no primeiro e 0,6 ponto no segundo. Ou seja, as pesquisas erraram por 7,2 pontos e 7,6 pontos respectivamente. Isso representa uma uma variação acima da margem de erro.
Há quatro anos, o erro dessas pesquisas a favor de Hillary nesses dois estados foi de 4,5 e 6 pontos -menor, portanto, do que o que ocorreu agora.
Números semelhantes foram registrados em Ohio, onde as pesquisas indicavam uma vantagem pró-Trump neste ano de 0,8 ponto. Nas urnas, isso se transformou em uma vitória do republicano por 8,1 pontos, variação de 7,3 pontos, acima dos 6,2 pontos de quatro anos atrás.
O cenário se repete repete de maneira ainda mais intensa na Pensilvânia, onde o erro nas pesquisa a favor de democratas saltou de 4,4 pontos em 2016 para 12,9 pontos em 2020.
Juntos, esses quatro estados são importantes porque fazem parte do chamado Cinturão da Ferrugem, região que votou em Obama em 2008 e 2012, mas que há quatro anos foi de Trump.
Foi exatamente a surpreendente vitória nesses locais que levou o republicano à Casa Branca e os institutos de pesquisa, ao divã.
Nesses últimos quatro anos, o setor buscou entender o que tinha acontecido de errado e chegou à conclusão de que a principal razão foi um erro na amostra de pessoas brancas sem ensino superior, grupo que apoiou Trump de maneira enfática e foi sub-representado nas pesquisas.
Embora os institutos tenham afirmado que trabalharam para corrigir o problema e entender melhor esse perfil de eleitor, os números iniciais da votação agora de 2020 indicam que o erro se repetiu.
Pesquisas mostravam que 59% desse grupo pretendia votar a favor do presidente, mas na boca de urna ele teve um desempenho melhor, de 64%.
O republicano também foi melhor do que o esperado em outros perfis de eleitores. Entre mulheres, Trump saltou 35% antes da eleição para 43% na boca de urna, por exemplo. Entre negros, foi de 4% para 12%, e entre brancos pulou de 50% para 57%.
O presidente também teve um desempenho surpreendente entre a parcela acima dos 65 anos, na qual ganhou 10 pontos percentuais, indo de 41% para 51%.
Os números da apuração e da boca de urna ainda são provisórios e podem mudar, mas é altamente improvável uma virada grande o suficiente para as sondagens acertarem. Quando a contagem acabar, os pesquisadores devem novamente tentar entender o que aconteceu -não está claro, por exemplo, se a quantidade recorde de votos antecipadas influiu nos levantamentos.
Um estrato no qual aparentemente Trump não conseguiu virar de maneira nacional foi o dos latinos --Biden cresceu mais de 10 pontos percentuais entre eles na reta final.
O grupo, porém, deu menos apoio ao democrata na Flórida do que era esperado e do que tinha dado a Hillary em 2016. Isso permitiu ao republicano conquistar o estado ainda no início da votação, dando a impressão que ele poderia conseguir surpreender na eleição geral e conquistar a reeleição.
No fim, tudo indica que ele deve chegar mais perto desse objetivo do que as pesquisas indicavam, mas que ficará pelo caminho.
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