Changpeng Zhao ficou conhecido no final de 2022, quando estourou um dos maiores escândalos do mundo das criptomoedas.
O fundador da Binance, maior plataforma de moedas digitais do mundo, anunciou que considerava comprar sua rival FTX, que estava desmoronando.
Zhao logo mudou de ideia e deixou seu concorrente sangrar, arrastando o restante das criptomoedas para um declínio vertiginoso.
Finalmente, a FTX faliu e o seu fundador, Sam Bankman-Fried, foi processado e condenado pelo sistema judicial dos Estados Unidos por fraude e lavagem de dinheiro.
Foi assim que, após o colapso da FTX, Zhao se tornou o novo "rei das criptomoedas".
Mas não por muito tempo.
Nesta terça-feira (21/11), Zhao anunciou sua renúncia ao cargo de CEO da Binance, após se declarar culpado por lavagem de dinheiro.
"Cometi erros e devo assumir a responsabilidade. Isso é o que é melhor para nossa comunidade, para a Binance e para mim", disse ele em mensagem publicada no X, antigo Twitter.
O Departamento de Justiça anunciou que exigia que a Binance pagasse US$ 4,3 bilhões (R$ 16,6 bilhões) em multas e confiscos e que ajudasse usuários de todo o mundo a escapar das sanções de Washington.
“A Binance permitiu quase US$ 900 milhões (R$ 4,4 bilhões) em transações entre usuários dos Estados Unidos e do Irã e facilitou milhões de dólares em transações entre usuários dos EUA e usuários na Síria e nas regiões ucranianas ocupadas pela Rússia na Crimeia, Donetsk e Luhansk”, disse um porta-voz.
O Departamento de Justiça também disse que a plataforma facilitou a movimentação de dinheiro por criminosos e terroristas.
“Entre agosto de 2017 e abril de 2022, houve transferências diretas de aproximadamente US$ 106 milhões (R$ 520 milhões) em bitcoins para carteiras Binance.com da Hydra.
A Hydra era um mercado russo na darkweb, frequentemente usado por criminosos, que facilitava a venda de bens e serviços ilegais”, disse o departamento.
A Binance agora deve relatar atividades suspeitas às autoridades federais.
“Isso impulsionará nossas investigações criminais sobre atividades cibernéticas maliciosas e captação de recursos terroristas, incluindo o uso de bolsas de criptomoedas para apoiar grupos como o Hamas”, acrescentou o Departamento de Justiça.
Binance e Zhao estão sob o radar das autoridades desde 2018, mas foi só em junho deste ano que as autoridades americanas apresentaram as primeiras acusações contra eles.
Richard Teng, chefe de mercados regionais da Binance, foi nomeado o novo diretor-executivo.
Em uma publicação no X, Zhao disse que “não foi fácil separar-se emocionalmente” da empresa.
E, como parte do acordo com as autoridades, ele terá que pagar uma multa de US$ 50 milhões (R$ 245 milhões) e ficará impedido de ter qualquer tipo de participação no negócio.
Mas como Zhao se tornou uma das figuras mais influentes no mundo das criptomoedas?
Conhecido na indústria como Changpeng “CZ” Zhao, o empresário nasceu na Província chinesa de Jiangsu, em 1977.
Filho de pais professores, Zhao contou em uma publicação no blog da Binance os problemas que a família dele enfrentou na China na década de 1980 e como ele fugiu do país aos 12 anos, após o massacre da Praça Tiananmen.
"No dia 6 de agosto de 1989, minha mãe e eu deixamos a China e migramos milhares de quilômetros para o Canadá. Para quem conhece a história chinesa, isso ocorre dois meses depois dos acontecimentos de 4 de junho de 1989", escreveu Zhao.
"Lembro que a fila do lado de fora da embaixada canadense durou três dias", comentou no blog. "Isso mudou minha vida para sempre e abriu possibilidades infinitas para mim."
Zhao passou a adolescência em Vancouver, onde trabalhou em vários empregos, inclusive no McDonald's, vendendo hambúrgueres.
Mais tarde, estudou ciência da computação na Universidade McGill em Montreal e depois estagiou na Bolsa de Valores de Tóquio antes de trabalhar para a Bloomberg Tradebook em Nova York.
Alguns anos depois, Zhao voltou à China para trabalhar em diversas empresas de tecnologia e em 2017 fundou a Binance.
Porém, o governo chinês proibiu a operação de plataformas de criptomoedas no país e Zhao migrou novamente, consolidando seus negócios em outras latitudes.
A Binance entrou nas grandes ligas e rapidamente se tornou a maior plataforma de compra e venda de criptomoedas do mundo.
No entanto, os problemas ao longo do caminho não demoraram a aparecer. As autoridades britânicas proibiram as operações da Binance em 2022, enquanto nos Estados Unidos foi aberta a primeira investigação legal contra ela por supostas operações ilegais no país.
Em março, os reguladores americanos tentaram proibir a Binance, alegando que a empresa operava ilegalmente no país.
O processo da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC) afirma que a empresa fazia negócios nos Estados Unidos sem registrar-se adequadamente junto às autoridades.
Acusou a Binance de violar inúmeras leis financeiras dos EUA, incluindo regras destinadas a prevenir a lavagem de dinheiro.
Na época, a Binance defendeu suas práticas.
Afirmou ter feito “investimentos significativos” para garantir que os usuários dos EUA não estivessem ativos na plataforma, incluindo o bloqueio daqueles identificados como cidadãos ou residentes dos EUA, ou que tivessem um número de celular nos EUA.
Depois veio o processo em junho passado, quando a empresa foi acusada de formar uma "extensa rede de enganação" pela Securities and Exchange Commission. A agência disse que a plataforma de negociação e Zhao, seu fundador, ignoraram regras destinadas a proteger os investidores para continuarem operando nos Estados Unidos.
Na época, a Binance disse que se defenderia "de forma enérgica". Essa defesa terminou nesta terça-feira com a aceitação da culpa por Zhao.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta