O mundo ainda está surpreso com o ataque sem precedentes de combatentes do Hamas no dia 7 de outubro, a retaliação de Israel e a esperada invasão por terra da Faixa de Gaza.
A BBC recebeu centenas de perguntas sobre o conflito, seu impacto e como ele poderá terminar. Muitas pessoas perguntam se outros países podem se envolver na guerra.
Nossos repórteres, vários deles atualmente na região, responderam algumas das questões mais frequentes do público.
Craig Johnson, de Skelmersdale (Reino Unido), pergunta: se o Irã se envolver diretamente no conflito, isso levaria os Estados Unidos e seus aliados a entrar diretamente na guerra? Poderia causar a Terceira Guerra Mundial?
Jeremy Bowen, editor internacional da BBC, está no sul de Israel e responde:
Questionado sobre a possibilidade de intervenção do Irã ou do seu aliado libanês, o Hezbollah, o presidente americano Joe Biden respondeu: "não façam isso".
Os americanos acabaram de enviar dois porta-aviões de combate para o leste do Mediterrâneo, enviando uma mensagem muito forte para que o Irã não se envolva no conflito.
Eles dizem que, se alguém intervier, precisará enfrentar o poderio militar americano, não apenas Israel.
Uma das principais linhas de tensão do Oriente Médio é a que separa os Estados Unidos e seus aliados, de um lado, e os iranianos, do outro.
Os dois lados conhecem os riscos. Se o conflito evoluir para uma guerra real, ele irá causar um enfrentamento de importância global no Oriente Médio.
Luciano Sisi, das Fronteiras Escocesas (Reino Unido), pergunta: qual é o objetivo de Israel com a anunciada guerra terrestre?
Lyse Doucet, chefe dos correspondentes internacionais da BBC, responde do sul de Israel:
Nas guerras anteriores, Israel prometeu "atingir em cheio o Hamas", para destruir sua capacidade de disparar foguetes em direção a Israel — incluindo sua vasta rede de túneis subterrâneos.
Mas, desta vez, é diferente. Israel promete "destruir o Hamas", uma organização que, segundo eles, deve ser aniquilada, como o grupo Estado Islâmico.
Israel tem poderio militar para destruir a infraestrutura do Hamas, demolir os seus túneis e paralisar suas redes de comando e controle.
Mas não está claro até que ponto Israel tem conhecimento do que os aguarda na Faixa de Gaza. Afinal, a destreza militar do Hamas – incluindo seu conhecimento surpreendentemente preciso da segurança israelense, que permitiu ao grupo ludibriar as formidáveis defesas do país — impressionou Israel.
O Hamas provavelmente irá demonstrar o mesmo nível de sofisticação quando enfrentar a reação israelense, que certamente será feroz.
E, ao contrário do grupo Estado Islâmico, o Hamas é também uma organização social e política integrada à sociedade palestina.
Uma ofensiva militar pode destruir o metal e o concreto, mas não a coragem das pessoas. Sua determinação de morrer pela causa só ficará mais fortalecida.
Andrew Parker, do Reino Unido, pergunta: qual foi o objetivo do ataque inicial do Hamas?
Frank Gardner, repórter de segurança da BBC, responde:
A razão fornecida na época pelo porta-voz do Hamas, Mohammed Al-Deif, foi: "chega".
Segundo ele, o ataque foi uma resposta ao que o Hamas chamou de provocações e humilhações constantes sofridas pelos palestinos, nas mãos dos israelenses na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Mas os analistas acreditam que pode haver outras razões não declaradas.
Antes do ataque, Israel e a Arábia Saudita mantinham negociações adiantadas para a normalização das suas relações.
Essas negociações enfrentavam a oposição do Hamas e do seu apoiador, o Irã. Os sauditas, agora, suspenderam as conversações.
Mas pode ter havido mais do que isso.
Os líderes do Hamas podem ter observado as profundas divisões na sociedade israelense, causadas pelas formas do judiciário introduzidas pelo governo de direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Eles pretendiam impor a Israel um golpe doloroso. E conseguiram.
Diana, no Reino Unido, pergunta: os muçulmanos falam na família e na irmandade do Islã. Como os muçulmanos do Egito justificam a decisão de manter fechada sua fronteira com a Faixa de Gaza?
Jeremy Bowen, editor internacional da BBC, responde do sul de Israel:
O Islã é uma religião, mas não transcende necessariamente a política de segurança nacional.
Estou certo de que milhões de muçulmanos egípcios querem aliviar o sofrimento dos civis na Faixa de Gaza.
Mas o governo egípcio, mesmo em tempos tranquilos, não permite o acesso rotineiro à Faixa de Gaza pela passagem de Rafah. O Egito foi um parceiro subalterno nas ocasiões anteriores em que Israel cercou a Faixa de Gaza, desde que o Hamas assumiu o poder em 2007.
O Hamas tem raízes na organização Fraternidade Muçulmana, fundada no Egito um século atrás. A Fraternidade quer remodelar os Estados e a sociedade de acordo com os ensinamentos e a fé islâmica.
Mas o exército egípcio se opõe. Ele derrubou um presidente muçulmano eleito em 2013.
O atual regime do Egito tem relações com o Hamas. No passado, ele foi a ligação entre o Hamas e Israel, mas não quer receber um fluxo de entrada de refugiados palestinos.
Os acampamentos na Faixa de Gaza existem até hoje, 75 anos depois que foram formados para abrigar refugiados expulsos de Israel logo após a independência e que nunca receberam autorização para voltar para casa.
Simon, no Reino Unido, pergunta: O mundo emitiu uma ordem de prisão internacional contra o presidente russo, Vladimir Putin. Por que não houve a mesma reação contra os líderes do Hamas? Não foi um crime de guerra em massa?
Paul Adams, repórter de questões internacionais da BBC, responde:
Israel não se considerava em guerra com o Hamas antes de 7 de outubro, apesar dos períodos anteriores de conflito que remontam a muitos anos atrás.
Para Israel, este foi um ato de terrorismo, não de guerra.
O governo de Benjamin Netanyahu busca por justiça por seus próprios meios e já matou pelo menos dois comandantes do Hamas considerados responsáveis pelos massacres. E, sem dúvida, irá tentar matar muitos outros.
Pode-se questionar a liderança política da organização — estabelecida no Catar e no Líbano — que, segundo algumas fontes, desconhecia os planos do seu braço militar de atacar o território de Israel.
Sadul Hoque, de Londres, pergunta: Se todos concordam que Israel está matando civis e irá matar muito mais nos novos ataques, por que as Nações Unidas e outros países não intervêm?
James Landale, repórter de diplomacia da BBC, responde:
O principal motivo que leva muitos países a não pressionar Israel a suspender os ataques aéreos é porque eles concordam que o país foi atacado pelo Hamas e tem o direito de se defender.
O que eles pedem é contenção sobre a forma como Israel se defende.
O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak afirmou: "discuti com o primeiro-ministro israelense a necessidade de minimizar o impacto sobre os civis da melhor maneira possível". E as Nações Unidas também apelaram a Israel que evitasse a morte de civis.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse alguns dias atrás: "a legislação humanitária internacional e as leis sobre direitos humanos devem ser respeitadas e mantidas; os civis devem ser protegidos e nunca ser usados como escudos".
Israel insiste que seus aviões militares e sua artilharia estão atingindo alvos do Hamas na Faixa de Gaza. Mas muitos civis, de fato, estão sendo mortos e feridos nesses ataques.
Os palestinos afirmam que isso ocorre porque os ataques israelenses são excessivos e indiscriminados. Já para Israel, o motivo é porque o Hamas usa civis como escudos humanos.
Um leitor anônimo pergunta: como é possível que as Forças Armadas israelenses tenham inteligência e vigilância suficientes para saber exatamente onde o Hamas está posicionado na Faixa de Gaza, mas não sabiam que o Hamas iria atacar Israel, nem observaram nenhum sinal de aviso sobre o ataque?
Yolande Knell, correspondente da BBC no Oriente Médio, responde de Jerusalém:
No passado, as forças armadas de Israel abriram seu centro de vigilância da Faixa de Gaza para os jornalistas. Claramente, eles têm excelentes informações em tempo real sobre a movimentação em terra, obtidas por meio de drones e outras câmeras.
Eles também têm uma ampla rede de informantes.
Pudemos observar nos combates de maio, contra a Jihad Islâmica, a precisão das informações de Israel sobre o paradeiro dos principais militantes.
Nas suas comunicações, as autoridades militares israelenses concordam que houve falhas importantes de inteligência e de segurança em relação ao ataque mortal sem precedentes do Hamas.
Mas podemos ter a certeza de que eles têm uma longa e precisa lista de alvos do Hamas que serão perseguidos assim que começarem as ações em terra.
Mais ao norte da Faixa de Gaza, aumentam as tensões entre Israel e o Líbano. Um leitor quer saber: se o Líbano se envolver no conflito, qual é o tamanho das forças do Hezbollah em comparação com o Hamas?
O jornalista brasileiro Hugo Bachega, repórter da BBC no sul do Líbano, responde:
O Hezbollah é um movimento social, político e militar libanês. Ele é considerado por Israel, há muito tempo, uma força mais poderosa do que o Hamas.
O grupo é fortemente armado e apoiado pelo Irã. Estima-se que ele detenha 130 mil foguetes e mísseis, segundo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
A maior parte deste arsenal é composta de pequenos foguetes de artilharia de superfície portáteis e não teleguiados. Mas também há mísseis antiaéreos e antinavios, além de foguetes teleguiados capazes de atingir o centro do território de Israel.
São armas muito mais sofisticadas do que o arsenal do Hamas.
O líder do Hezbollah afirmou que dispõe de 100 mil combatentes, mas as estimativas independentes variam entre 20 mil e 50 mil. Muitos deles são treinados e têm experiência de combate, por terem lutado na guerra civil da Síria.
Em comparação, o Hamas possui cerca de 30 mil combatentes, segundo Israel.
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