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Por que papa Francisco está fazendo uma viagem tão longa se sua saúde está tão frágil?

Por que papa Francisco está fazendo uma viagem tão longa se sua saúde está tão frágil?

Sua intensa viagem à Ásia envolve três países onde os católicos são uma minoria.

Publicado em 10 de setembro de 2024 às 08:52

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Imagem BBC Brasil
Grande imã da Mesquita de Istiqlal, Nasaruddin Umar, conversa com o papa Francisco após encontro inter-religioso na Mesquita de Istiqlal, em Jacarta, em 5 de setembro. (Getty Images)

Aleem Maqbool

O papa Francisco parece se divertir confundindo e surpreendendo as pessoas. E aqui está ele outra vez. Ao longo dos anos, ele já pareceu indicar muitas vezes que estaria reduzindo suas atividades. E, em seguida, ele reaparece. Com quase 88 anos, o papa sofre com dores no joelho que dificultam sua mobilidade. Ele também tem problemas abdominais causados por uma diverticulite e apresenta dificuldades respiratórias, devido à retirada da maior parte de um dos seus pulmões.

No segundo semestre do ano passado, o papa declarou que seus problemas médicos dificultam suas viagens ao exterior. Pouco depois, ele cancelou uma visita aos Emirados Árabes Unidos, aumentando as especulações sobre a gravidade do seu estado de saúde. Mas isso foi quase um ano atrás. Em setembro, Francisco enfrenta a mais longa viagem ao exterior dos seus 11 anos e meio de pontificado.

Com uma agenda repleta de compromissos, seu roteiro inclui, além do Timor Leste, três países onde os católicos são minoria: Indonésia, Papua-Nova Guiné e Singapura. Por que o papa está viajando tanto e para tão longe de casa? Seus apoiadores acreditam que ele seja levado pela sua paixão.

"Obviamente, ele tem imensa energia, que é fruto da total paixão pela sua missão", explica o padre Anthony Chantry, diretor da organização missionária do papa, Missio, no Reino Unido. Ele foi recentemente nomeado pelo Vaticano para o Dicastério para a Evangelização. "Ele diz que todos nós temos a incansável missão de nos aproximarmos das pessoas, para dar o exemplo", afirma Chantry.

Evangelização

A "missão" cristã evoluiu ao longo dos séculos. Seu objetivo ainda é difundir o evangelho, mas, agora, com foco declarado sobre a justiça social e o trabalho beneficente. A longo da viagem, o papa Francisco irá encontrar missionários, incluindo um grupo argentino que se estabeleceu em Papua-Nova Guiné.

Mas em diversas visitas à Ásia, incluindo a atual, ele também se aproxima da China, um país com profundas suspeitas em relação à Igreja, sua missão e seus propósitos. O papa enfatiza com frequência a importância da evangelização para todos os católicos. Mas, em muitas partes do mundo, ainda é difícil separar a ideia de "missionários" e "evangelização" do histórico da colonização europeia.

Com a diminuição do número de católicos na Europa, estariam a "missão" e a "evangelização" da Ásia e da África agora relacionadas à expansão da Igreja naquelas partes do mundo? "Acho que ele está pregando o evangelho de amor que não irá fazer mal a ninguém", afirma o padre Chantry. "Ele não está tentando obter apoio para a Igreja, não é disso que trata a evangelização."

"Isso não deve ser chamado de proselitismo, que não é o que fazemos há muito tempo. Não é a agenda do Santo Padre e não é a agenda da Igreja. O que fazemos é compartilhar e ajudar as pessoas de todas as formas possíveis, independentemente da sua fé ou de não terem fé.". Chantry afirma que ser um missionário cristão nos dias de hoje, que é o exemplo sendo deixado por Francisco, envolve fazer o trabalho do bem e ouvir. Mas, às vezes, também é questionar ideias, "quando necessário".

"Acreditamos que Deus irá fazer o resto e, se isso levar as pessoas a aceitarem Jesus Cristo, está ótimo", explica ele. "E, se ajudar as pessoas a apreciar mais a sua própria espiritualidade, sua própria cultura, acho que será mais uma vitória". O papa, certamente, fala há muito tempo sobre a harmonia e o respeito entre as religiões. Uma das imagens mais emblemáticas da sua viagem atual foi o momento em que o papa beijou a mão do grande imã da Mesquita Istiqlal em Jacarta, na Indonésia, levando-a até o rosto.

Francisco foi recebido calorosamente pelas pessoas que saíram para vê-lo no mais populoso país de maioria muçulmana do mundo.

A última parada da maratona asiática do papa Francisco será em Singapura, onde cerca de 75% da população são de etnia chinesa – mas a minoria católica do país está fortemente envolvida em trabalhos missionários, nas regiões mais pobres.

Há séculos, Singapura é uma espécie de centro regional estratégico para a Igreja Católica. Tudo o que o papa disser e fizer ali provavelmente será acompanhado de perto na China e pelos católicos que vivem no país.

É difícil ter uma noção concreta dos números, mas estimativas indicam cerca de 12 milhões de pessoas.

A falta de clareza destes números se deve, em parte, ao fato de que os católicos da China estão divididos entre a Igreja Católica chinesa oficial e uma igreja clandestina, leal ao Vaticano, que evoluiu no regime comunista.

Ao tentar unir os dois grupos, o papa Francisco foi acusado de satisfazer o governo de Pequim, desapontando os católicos do movimento clandestino, que não aceitaram a interferência do governo chinês, enfrentando a contínua ameaça de perseguição.

Imagem BBC Brasil
Papa Francisco celebrou missa na Pro-Catedral da Santa Cruz e se reuniu com missionários e religiosas em Vanimo, Papua-Nova Guiné, em 8 de setembro, para agradecer o trabalho missionário da Igreja. (Getty Images)

Caminho cauteloso

Os acordos firmados entre a China e o Vaticano nos últimos anos parecem ter deixado uma situação na qual o governo chinês nomeia os bispos católicos e o papa os reconhece.

A China defende que esta é uma questão de soberania, mas o papa Francisco insiste que detém a palavra final, embora não pareça.

"Ele não irá agradar a todos, todo o tempo", explica o padre Anthony Chantry. "Mas acho que o que o Santo Padre realmente quer é indicar que a Igreja não é uma ameaça ao Estado."

"Ele está trilhando um caminho muito cauteloso e repleto de dificuldades, mas acho que o que ele está tentando fazer é simplesmente estabelecer uma relação respeitosa com o governo chinês."

Estando certo ou errado, tudo é feito em nome de trazer mais pessoas para o rebanho.

Alguns dos predecessores de Francisco, de muitas formas, foram mais inflexíveis. Eles pareciam aceitar mais uma comunidade católica menor e "mais pura", sem fazer concessões nas relações exteriores, nem na visão da Igreja sobre questões como o divórcio e a homossexualidade.

Enquanto alguns papas claramente se sentiam mais à vontade com os estudos e a teologia do que com as viagens e as imensas multidões, outros se dedicaram à política do cargo.

Acompanhando as viagens do papa Francisco, fica muito claro que ele, muitas vezes, pode se sentir cansado e sobrecarregado durante os eventos diplomáticos. Mas ele se rejuvenesce rapidamente com as multidões que surgem para vê-lo. E fica energizado com as pessoas comuns que o encontram, principalmente os jovens.

Este certamente não é um papa que evita os holofotes. Estar entre as pessoas – o que alguns chamam de sua missão – parece ser sua força vital.

Para o padre Anthony Chantry, esta longa viagem papal é apenas mais uma amostra de como Francisco acredita que a Igreja deve se relacionar com os católicos e não católicos.

"Todo o impulso é nos aproximarmos dos demais", explica ele. "Precisamos fazer com que todos se sintam bem-vindos. Acho que ele [o papa Francisco] faz isso muito bem, mas não acredito que ele esteja tentando ganhar pontos por lá, é simplesmente ele."

Desde sua eleição em 2013, muitas das ações de Francisco deixaram irritados os católicos tradicionalistas. Eles costumam achar que o pontífice leva seu espírito de proximidade com as pessoas longe demais.

As ações do papa durante sua viagem dificilmente irão reverter as opiniões contrárias, neste mês de setembro.

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