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Putin anuncia míssil nuclear e hipersônicos na véspera do 1° ano da guerra

Putin anuncia míssil nuclear e hipersônicos na véspera do 1º ano da guerra

Presidente russo já havia anunciado que suspendeu a participação da Rússia no Novo Start, o último dos tratados de controle de armas em vigor

Publicado em 23 de fevereiro de 2023 às 12:13

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Na véspera do aniversário de primeiro ano da Guerra da Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, voltou a fazer ameaças nucleares contra o Ocidente ao prometer a entrada em serviço de um novo míssil dois dias depois de suspender a participação de seu país no último tratado de controle dessas armas.

O líder também disse que "dará atenção à tríade nuclear", jargão para os três meios de emprego de ogivas nucleares: mísseis em solo, bombardeiros e submarinos. E anunciou a produção em massa de 2 dos 3 modelos hipersônicos que já tem em operação, o Kinjal (lançado de caças) e o Tsirkon (usado em navios).

 Presidente da Russia Vladimir Putin deixa o Palácio do Itamaraty após reunião da VI cúpula dos BRICS e da Unasul, que teve a presidente Dilma Rousseff como anfitriã
Presidente da Russia Vladimir Putin deixa o Palácio do Itamaraty após reunião da VI cúpula dos BRICS e da Unasul, que teve a presidente Dilma Rousseff como anfitriã. (Pedro Ladeira | Folhapress)

Com efeito, a primeira fragata russa equipada com o Tsirkon, a Almirante Gorchkov, aportou na quarta (22) na África do Sul para exercícios conjuntos com a Marinha local e com navios da aliada China, algo que não passou despercebido em Washington.

O anúncio, feito em mensagem pelo Dia do Defensor da Pátria na Rússia, deve ser lido no contexto do contencioso com Estados Unidos e seus aliados em especial acerca do novo míssil, já que há dúvidas técnicas acerca da capacidade russa de introduzir em grande quantidade no seu arsenal o RS-28 Sarmat, conhecido como Satã-2 no Ocidente.

O modelo é uma das "armas invencíveis" anunciadas por Putin em 2018. É o mais avançado modelo intercontinental do mundo, podendo levar de 10 a 15 ogivas nucleares ou 24 planadores hipersônicos Avangard, também com cargas atômicas, a alvos até 18 mil km distantes.

Ele já foi testado com sucesso, mas há fortes indícios de que um ensaio nesta semana fracassou. A Rússia havia emitido uma notificação de aeronavegabilidade informando a trajetória de um lançamento de foguete da base de Plesetsk (noroeste do país) até o campo de provas de Kura, em Kamtchatka (extremo oriente, a mais de 6.000 km de distância).

As comitivas da Rússia e da Ucrânia se encontraram em Belarus   para uma primeira negociação entre as duas partes, disse Mykhailo Podolyak, um   assessor do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Veículos são parados em um bloqueio colocado por militares da defesa civil em uma estrada que leva ao centro de Kiev. ( EMILIO MORENATTI/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

Era o desenho clássico de um teste de míssil intercontinental, previsto para qualquer momento do dia 17 ao 22. Nada aconteceu, e a rede americana CNN disse que o Sarmat foi lançado na segunda (20), quando o presidente Joe Biden fazia sua histórica visita a Kiev, mas falhou quando seu segundo estágio se separou.

A Folha ouviu a mesma história de um analista militar moscovita especialista em forças nucleares, que pediu anonimato. Questionado sobre o tema, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o assunto era do Ministério da Defesa -que não fez comentários.

Seja como for, falhas em testes ocorrem e o Sarmat é uma realidade que serve à agressiva retórica de Putin ante o Ocidente, com quem o russo diz já estar numa guerra por procuração na Ucrânia. Até janeiro, Kiev recebeu o equivalente a dez vezes seu orçamento de defesa em ajuda militar, a maior parte dos EUA.

Na terça (21), Putin anunciou em discurso sobre o Estado da União ao Parlamento que havia suspendido a participação russa no Novo Start, o último dos tratados de controle de armas em vigor — os outros dois foram enterrados pelo governo Donald Trump.

Na prática, isso significa o fim de inspeções mútuas e trocas de documentos que já estavam travadas devido à guerra. Os russos dizem que vão respeitar a limitação de ogivas estratégicas operacionais (1.550 para cada lado) e meios de emprego previstos no tratado até sua expiração, em 2026.

Isso tem um motivo, segundo o analista russo: Moscou não teria como aumentar imediatamente sua capacidade de emprego de armas nucleares, ao contrário dos EUA. Putin tem um arsenal nominal maior do que o dos EUA, mas não há tantos mísseis capazes de carregar as ogivas em reserva.

Seja como for, o fim do Novo Start, assinado em 2010 e em vigor desde 2012, irritou os EUA por um motivo adicional. Sem um arcabouço pronto para negociações, a intenção de Washington de incluir a China em um futuro tratado fica ainda mais difícil -Pequim tem estimadas 320 ogivas operacionais, mas o Pentágono diz que em uma década poderá ter um nível semelhante ao russo e americano.

Desde as vésperas da invasão, quando fez um grande exercício de forças estratégicas, Putin lança mão de ameaças nucleares para lembrar o Ocidente acerca de sua condição de potência no setor. O discurso anunciando a guerra falou que interferências externas seriam punidas de forma inédita na história, um recado claro.

De lá para cá, houve testes de armas, inclusive um com o Sarmat, e muita saliva gasta por autoridades russas. De forma geral, o Ocidente tem sido cauteloso, aumentando o envio de armas a Kiev de forma escalonada.

De tempos em tempos, é especulado também que Putin poderia usar uma arma nuclear tática, de uso pontual contra tropas, na Ucrânia, mas o próprio presidente disse que isso seria inútil militarmente e politicamente.

A guerra, que o mundo acreditava que duraria poucas semanas, completará um ano na madrugada desta sexta (24). Na frente de batalha, os russos seguem apertando o cerco a pontos no leste, principalmente as ruínas da cidade de Bakhmut, visando controlar as áreas em mãos ucranianas das regiões que Putin anexou ilegalmente em setembro.

O movimento ocorre desde o fim do ano passado, com avanços de Moscou, mas não decisivos, apesar da melhora da posição russa com a entrada em combate de parte dos 320 mil reservistas mobilizados entre setembro e outubro. A guerra segue estagnada, sem nenhum dos lados ter perspectiva de derrotar completamente o outro.

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