O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta (27) que preparou tropas a pedido do ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, mas que as forças russas só serão empregadas "se necessário".
Desde o dia 9 de agosto, quando bielorrussos saíram às ruas contra resultados eleitorais considerados fraudados, o país tem registrado diariamente manifestações em várias cidades, pedindo novas eleições.
Considerados ilegais pelo governo, os protestos foram reprimidos com brutalidade nos primeiros três dias, e prisões voltaram a ocorrer desde segunda (24).
"A Rússia parte do pressuposto de que todos os problemas na Belarus serão resolvidos pacificamente. Ainda não há necessidade do uso de forças russas na Belarus, espero que não haja, e Moscou e Minsk concordam com isso", disse ele em entrevista a jornalistas russos.
Segundo o presidente russo, a intervenção não acontecerá "até que a situação saia do controle, quando elementos extremistas começarem a cruzar fronteiras, incendiar carros, casas, bancos, tentarem tomar prédios administrativos e assim por diante''.
Putin afirmou ainda que, em relação à crise política no país vizinho, a Rússia tem agido de forma "mais comedida e neutra do que muitos outros países, europeus e americanos".
A União Europeia declarou não reconhecer a reeleição de Lukachenko e deve anunciar nesta semana sanções contra autoridades bielorrussas. Putin, por sua vez, cumprimentou o ditador da Belarus pela vitória na mesma noite da eleição.
Embora se diga comedido, ele afirmou estar acompanhando de perto os acontecimentos. "Este é um país muito próximo, talvez o mais próximo de nós, etnicamente, lingusticamente e culturalmente. Temos milhões de laços familiares diretos. A cooperação mais próxima na indústria. Grande parte das importações agrícolas."
Para analistas poloneses e alemães especializados em política e cultura russa e nas relações russas com países da ex-União Soviética, não está clara a estratégia de Putin em relação ao país vizinho.
"A reação pública contida de Moscou aos apelos de ajuda de Lukachenko podem sugerir que o Kremlin está considerando os vários cenários na república vizinha, incluindo uma renúncia", escreveram os analistas do Centro de Estudos Orientais de Varsóvia Jadwiga Rogoza, Piotr Zochowski e Katarzyna Chawrylo.
Para eles, a forma e a abrangência de qualquer apoio russo vão depender de quatro aspectos: 1) a evolução dos eventos na Belarus, 2) a avaliação dos ganhos e perdas no controle russo sobre o país vizinho, 3) a situação interna na própria Rússia e 4) a atitude do Ocidente.
"A curto prazo, Moscou provavelmente tentará, tanto abertamente quanto secretamente, evitar o colapso descontrolado do regime bielorrusso, ao mesmo tempo em que sondará possíveis substitutos para Lukachenko", afirmam os especialistas em Rússia.
A prioridade de Putin será obter garantias de que a integração dos dois países será estreitada e os interesses de longo prazo da Rússia, respeitados. Ao mesmo tempo, o Kremlin quer deixar claro que não aceitará interferência ocidental nos assuntos bielorrussos, afirmam os analistas poloneses.
A Belarus é estrategicamente importante para Putin em muitos níveis, começando por sua localização, entre a Rússia e a Europa Central. O Exército bielorrusso está intimamente integrado ao russo e depende da potência vizinha para garantir sua independência.
Em termos econômicos, Belarus é subsidiada pela Rússia em energia e depende do país vizinho para obter receitas de exportação.
Para os analistas do centro de estudos polonês, Putin não vê com bons olhos revoltas sociais de base: "Mesmo que o humor dos bielorrussos que protestam contra Lukachenko não seja antirrusso, o que invalida comparações com a Ucrânia, a Rússia prefere o status quo a uma vitória da revolução".
Uma "vitória democrática" traria não só o risco de inflamar a oposição russa como seria interpretada como um fenômeno pró-Ocidente.
Analistas do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP) veem quatro saídas possíveis para a Belarus.
Na primeira, Lukachenko retoma o controle do país, mas de maneira instável, e novos distúrbios podem surgir com a crise econômica.
Em um segundo cenário, o ditador anuncia uma transição política, com reforma constitucional e eleições em 2021, na qual o atual governo e a Rússia devem atuar com mão pesada, mas não se exclui também uma atuação ativa da União Europeia.
Um terceiro cenário é o de uma escalada de violência, que propiciaria uma intervenção russa. Para os analistas poloneses, porém, embora não seja descartável, a intervenção é uma opção que Moscou prefere evitar, pois traria nova onda de sanções contra seu país.
Além isso, Putin correria o risco de criar um sentimento anti-Rússia hoje inexistente na Belarus e de descontentar seu público interno, que vê com simpatia as manifestações bielorrussas.
No último cenário previsto por András Rácz, Cristina Gherasimov e Milan Nic, do DGAP, Lukachenko encontraria uma desculpa para deixar o poder e novas eleições seriam realizadas, com a vitória do candidato mais leal à Rússia.
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