A aeronave que caiu na China na manhã desta segunda-feira (21) despencou 7.856 metros em menos de 2 minutos, mostram dados do voo divulgados pelo Flightradar24, site que monitora o movimento de aviões em todo o mundo, em uma trajetória de queda incomum, na avaliação de especialistas.
Os dados ADS-B (Vigilância Dependente Automática por Radiodifusão, na sigla em inglês) mostram ainda que, segundos antes da colisão, quando estava a 2.260 metros de altitude (7.425 pés), a aeronave conseguiu se recuperar um pouco e subir a 2.620 metros (8.600 pés), antes de voltar a cair. Na sequência, quando o sistema para de registrar a altitude, o avião estava a menos de 1 quilômetro do solo.
Segundo o Flightradar24, nos momentos finais a aeronave ia em direção ao chão a uma velocidade de 567 km/h.
Vídeo do que seria o momento da queda, publicado pela imprensa local, chama a atenção pela trajetória da aeronave, quase perpendicular ao solo. Henrique Hacklaender, piloto de aviação comercial há 12 anos e diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, afirma que esse tipo de queda não é comum.
Ele compara o caminho feito pelo voo da China Eastern com a trajetória de queda do voo 1907, da Gol, em 2006, que também caiu de forma brusca, em apenas 63 segundos - na ocasião a aeronave desceu em espiral. Naquele episódio, o veículo brasileiro foi atingido a 37 mil pés (11,3 mil metros de altitude) por outro avião e teve sua estrutura comprometida no ar, o que explica a queda agressiva, segundo Hacklaender.
"Não parece ser o caso agora, porque o piloto consegue recuperar um pouco da atitude, mesmo que por alguns segundos, e depois volta a cair. Por isso o avião não parece ter se despedaçado no ar. Parece um problema de falta de controle da aeronave", diz ele, que lembra que acidentes aéreos não são provocados por uma causa única e que é preciso aguardar a investigação do caso.
O ex-piloto Michel Treskin, do site Aerotime, diz que a recuperação de altitude "mostra que houve algum controle sobre a aeronave". "Parece que alguém tentou tirar a aeronave do mergulho", afirmou ao portal.
Segundo o especialista em segurança da aviação Lito Sousa, pelas imagens divulgadas até agora não é possível saber se houve algum dano às superfícies da aeronave asas e estabilizadores antes da queda. Os registros do local do impacto mostram a destruição total da aeronave, mas as caixas-pretas, objeto que grava dados do voo e o áudio da cabine do piloto, devem ter resistido, afirma ele.
"As caixas-pretas são essenciais para entender o que ocorreu. Se foi algum problema mecânico, a gente deve ver uma ordem de inspeção publicada de maneira urgente. Se essa possibilidade for descartada, a investigação segue o curso normal até que a história desse voo seja construída", afirma.
A agência de segurança aérea dos EUA, NTSB, vai participar da investigação por se tratar de uma aeronave fabricada nos Estados Unidos. O veículo tinha seis anos de uso, de acordo com o Flightradar 24.
Entre os dados do voo divulgados até agora, chama a atenção que nos primeiros 2 km de descida não tenha havido nenhuma variação de proa da aeronave ou seja, o nariz do avião continuou apontando para a mesma direção, afirma Lito. "Esse tipo de perfil de descida é muito estranho. Pouquíssimas falhas causariam uma descida desse tipo", diz ele, afirmando que cabe agora à investigação apurar o que houve.
Li Xiaojin, especialista em aviação chinês, disse à agência de notícias Reuters que "é muito difícil entender o que aconteceu", porque, "normalmente, o avião está em piloto automático na fase de cruzeiro", etapa do voo em que o veículo está no ponto mais alto, depois de terminar de subir e antes da descida. Segundo a agência, dados da Boeing apontam que apenas 13% dos acidentes aéreos entre 2011 e 2020 ocorreram enquanto as aeronaves estavam nessa fase a maior parte acontece na aproximação final e no pouso.
O Boeing 737-800 da China Eastern caiu com 132 pessoas a bordo em uma região montanhosa no sul da China, durante um voo doméstico por volta das 14h desta segunda, no horário local, ainda madrugada no Brasil. O voo havia saído de Kunming, capital da província de Yunnan, em direção a Guanzhou, capital de Guangdong, na fronteira com Hong Kong, quando caiu próximo a Wuzhou.
Segundo a imprensa estatal chinesa, depois do acidente a companhia aérea suspendeu a operação da frota de 109 Boeings 737-800 que possui. O modelo, que tem histórico de segurança considerado bom, sucedeu o 737 MAX, que teve a operação bloqueada após acidentes fatais na Indonésia e na Etiópia.
O último acidente aéreo fatal na China com aeronaves de grande porte ocorreu em 2010, quando 44 das 96 pessoas a bordo de um Embraer E-190 da Henan Airlines morreram após a aeronave cair ao se aproximar do aeroporto de Yichun, no sudeste do país.
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