Forças rebeldes na Síria entraram em Damasco neste fim de semana em meio a relatos de que o presidente Bashar al-Assad fugiu do país após 13 anos de guerra civil.
O primeiro-ministro Mohammed al-Jalali disse que está pronto para apoiar a continuidade da governança no país — com uma transição pacífica.
A tomada de Damasco acontece apenas 12 dias depois de o grupo militante islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e facções aliadas lançarem uma grande ofensiva no noroeste.
Os rebeldes já haviam capturado a segunda cidade de Aleppo e foram tomando controle do país em direção sul pela rodovia que leva até a capital, enquanto o exército sírio entrava em colapso.
O chefe do HTS, Abu Mohammed al-Jawlani, foi acusado no passado de cometer abusos de direitos humanos.
Nos últimos anos, ele tem tentado apresentar uma imagem mais moderada ao mundo, mas os EUA continuam oferecendo uma recompensa de US$ 10 milhões por sua captura.
Abu Mohammed Al-Jawlani é um pseudônimo. Seu nome real e idade não são confirmados.
Al-Jawlani disse à emissora americana PBS que nasceu com o nome Ahmed al-Sharaa e que sua família síria veio da área de Golã. Ele disse que nasceu em Riade, capital da Arábia Saudita – onde seu pai trabalhava na época – e que cresceu em Damasco.
No entanto, também há relatos de que ele nasceu em Deir ez-Zor, no leste da Síria, e há rumores vagos de que ele estudou medicina antes de se tornar um militante islâmico.
De acordo com relatórios da ONU e da UE, ele nasceu em algum momento entre 1975 e 1979. A Interpol diz que ele nasceu em 1979. Uma notícia do antigo jornal libanês As-Safir diz que ele nasceu em 1981.
Acredita-se que Al-Jawlani tenha se juntado ao grupo jihadista Al-Qaeda no Iraque após a invasão do país em 2003 por uma coalizão de forças liderada pelos EUA.
A coalizão rapidamente removeu o presidente Saddam Hussein e seu Partido Baath do poder, mas enfrentou resistência de diversos grupos militantes.
Em 2010, as forças dos EUA no Iraque prenderam al-Jawlani e o mantiveram em Camp Bucca, uma base perto da fronteira com o Kuwait. Lá, acredita-se que ele conheceu jihadistas que mais tarde formariam o grupo Estado Islâmico (EI), incluindo o futuro líder do EI no Iraque, Abu Bakr al-Baghdadi.
Al-Jawlani disse à mídia que depois que o conflito armado eclodiu na Síria contra o governo do presidente Bashar al-Assad em 2011, al-Baghdadi ordenou que ele fosse ao país para iniciar um braço da organização lá.
Al-Jawlani se tornou comandante de um grupo armado chamado Frente Nusra (ou Jabhat al-Nusra), que era secretamente afiliado ao EI. O grupo foi muito bem-sucedido no campo de batalha.
Em 2013, al-Jawlani cortou os laços da Frente Nusra com o EI e colocou seu grupo sob controle da Al-Qaeda.
No entanto, em 2016, ele anunciou em uma mensagem gravada que também havia rompido com a Al-Qaeda.
Em 2017, al-Jawlani disse que seus combatentes se uniram a outros grupos rebeldes na Síria para formar o Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Al-Jawlani comanda o grupo inteiro.
Sob o comando de al-Jawlani, o HTS se tornou o principal grupo rebelde em Idlib e arredores, no noroeste da Síria.
A cidade tinha uma população antes da guerra de 2,7 milhões, que, segundo algumas estimativas, aumentou para quatro milhões devido à chegada de pessoas deslocadas.
O grupo controla o "Governo da Salvação", que atua como uma autoridade local na província de Idlib, fornecendo serviços de saúde, educação e segurança interna.
Al-Jawlani disse à rede PBS em 2021 que não seguiu a estratégia de jihad global da Al-Qaeda. Ele disse que seu principal objetivo era derrubar o presidente da Síria, Al-Assad, e que os EUA e o Ocidente compartilhavam esse objetivo.
"Esta região não representa uma ameaça à segurança da Europa e dos EUA", disse ele. "Esta região não é um local de preparação para a execução de jihad estrangeira."
Em 2020, o HTS fechou as bases da Al-Qaeda em Idlib, apreendeu armas e prendeu alguns de seus líderes. Ele também reprimiu as operações do Estado Islâmico em Idlib.
O HTS impõe a lei islâmica em áreas que controla, mas de uma maneira bem menos rigorosa do que os grupos jihadistas.
Ele se envolve publicamente com cristãos e outros não muçulmanos. Grupos jihadistas o criticam por ser muito moderado.
No entanto, grupos de direitos humanos acusaram o HTS de reprimir protestos públicos e de abusos de direitos humanos. Al-Jawlani nega essas alegações.
O HTS foi classificado como uma organização terrorista por vários governos ocidentais e do Oriente Médio, e pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Por causa dos vínculos anteriores de al-Jawlani com a Al-Qaeda, o governo dos EUA está oferecendo uma recompensa de US$ 10 milhões por qualquer informação que leve à sua captura.
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