Com ventos de até 240 km/h, o furacão Ian provocou inundações e cortes de energia elétrica a 2,5 milhões de habitantes na Flórida, onde chegou ontem após passar por Cuba.
O fenômeno alcançou o território dos Estados Unidos na categoria 4, preocupando as autoridades locais.
Segundo o governo americano, até a tarde de hoje, uma morte foi registrada, mas estima-se que novos óbitos poderão ser confirmados.
Morando em Winter Garden há seis meses, o empresário brasileiro José Luiz Mello, 45, e a família enfrentaram a chegada de um furacão pela primeira vez.
A preparação para lidar com os possíveis estragos começou na segunda-feira (26/09), quando os primeiros alertas começaram a ser emitidos pelo governo local.
"Começamos a nos assustar com as notícias que chegavam e fomos ao supermercado fazer compra de alimentos não perecíveis, enlatados de fácil preparo, água, lanternas e pilhas, antes que tudo esgotasse. Também abastecemos o carro para caso fosse preciso evacuar a cidade", conta.
Além dos suprimentos, o empresário conta que fez diversas modificações no imóvel na tentativa de evitar estragos e manter a família em segurança.
A televisão foi retirada do painel e deixada no chão para não cair com os ventos, os móveis foram arrastados para longe das janelas e a família passou a dormir em colchões colocados no closet e no banheiro - locais onde não há janelas de vidro que pudessem se estilhaçar com a força do vento.
Uma mala de mão com roupas e documentos também foi preparada para caso ele, a esposa Lidiane Mello, 41, e os dois filhos Isabella e Daniel, tivessem que sair de casa às pressas para um abrigo.
"É uma situação bastante assustadora. Ainda bem que o furacão perdeu força e chegou aqui como tempestade. Mas mesmo assim, essa tempestade em nada se assemelha às que temos no Brasil. Foi muita chuva e ventos fortíssimos, nossa casa não chegou a ter danos, mas nossos vizinhos relataram que sentiram as janelas e o chão tremerem e algumas alagaram. Ficamos bem assustados", acrescenta José Luiz.
Desespero também sentido pela dona de casa Thais Martins, 35, que mora na região leste de Orlando. Durante a madrugada, ela e o marido viram a rua alagar, atingindo da casa em que eles moram com os dois filhos.
Um carro que estava na garagem e outro estacionado na rua ficaram cheios de água. Eles tentaram deixar o imóvel e ir para um abrigo, mas não deu tempo.
"Ficamos acordados a madrugada toda acompanhando a chegada do furacão. Por volta das 3 horas a chuva começou a ficar intensa e alagar a rua, acordamos as crianças e íamos para um abrigo, mas a água subiu tão rápido que não deu tempo de sair de casa", recorda.
Com medo, Thais e o marido retiraram os móveis dos cômodos atingidos pela água e passaram a colocá-los no alto para não estragarem. A dona de casa relata que a chuva intensa durou até às 5 horas da manhã.
"A rua virou uma piscina e não tínhamos o que fazer. Apenas aguardamos o volume de água abaixar para começar a arrumar tudo", diz.
Já acostumada com os alertas de furacão se aproximando da costa dos Estados Unidos, a jornalista Stephanie Haidar, 27, não correu aos supermercados logo que recebeu o aviso da aproximação do furacão Ian.
Porém, quando viu que realmente a cidade seria atingida, os estoques de alimentos, papel higiênico e água, por exemplo, estavam vazios.
"A geladeira que tenho em casa é daquela que sai água na porta, a alternativa foi encher as garrafinhas que tenho aqui com essa água e guardar, porque em caso de falta de energia a geladeira não funciona e eu ficaria sem água", conta.
Por precaução, a jornalista também deixou a banheira cheia de água e os equipamentos eletrônicos todos carregados para caso o abastecimento de água e energia fossem interrompidos na cidade.
"Assim como lavar os utensílios da cozinha e eu continuar trabalhando, mesmo offline", acrescenta.
Ao contrário de Stephanie, a corrida ao supermercado para estocar comida foi a primeira medida que a Taciele Alcolea Martins da Silva, 31, tomou ao saber que o furacão Ian se aproximava da Flórida. Ela e a família estão em viagem de férias em Orlando desde o dia 15 e pretendiam permanecer na cidade até amanhã (30).
Porém, devido à emergência, os aeroportos foram fechados e o voo dela de retorno ao Brasil foi cancelado. Ela conseguirá deixar os Estados Unidos apenas na próxima semana.
"Os telefones não funcionavam, não conseguíamos contato com a empresa área e nem remarcar a nossa passagem. Foi bem tumultuado e só conseguimos agendar um novo voo porque a agência que compramos a viagem nos ajudou, se fossemos continuar tentando sozinhos, não tínhamos conseguido e não sei o que iríamos fazer", conta.
Apesar de continuar na cidade por mais alguns dias, as malas da família já estão prontas. Elas foram arrumadas há dois dias, quando os alertas de emergência começaram a ser emitidos pelo governo e havia a possibilidade de todos precisarem sair do imóvel e deixarem a cidade com urgência.
"Quando fomos ao supermercado, antes de a tempestade chegar, já não encontramos quase nada. As prateleiras onde ficam salgadinho, pão e esses alimentos que não precisam cozinhar, estavam vazias. Água conseguimos um fardo, porque também já estava acabando e o combustível precisamos andar por alguns postos procurando, porque não tinha mais também", lembra.
Taciele está hospedada com mais seis familiares, sendo três crianças, em uma casa e não podem sair às ruas por recomendação das autoridades locais. O máximo que conseguem, devido aos fortes ventos, é olhar pela janela e ver a tempestade do lado de fora.
"Estamos tentando entreter as crianças aqui dentro com jogos e brincadeiras. Mas não é fácil ficar nessa situação de apreensão", diz.
O furacão Ian perdeu força, sendo rebaixado para tempestade tropical. No entanto, o governo americano não descarta a possibilidade de que ele se intensifique ao se aproximar do Oceano Atlântico. Ele deve afetar os estados da Geórgia e da Carolina do Sul, amanhã (30), segundo as autoridades.
- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63084136
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