Em meio ao aumento de tensões com o temor de uma invasão da Ucrânia por parte da Rússia, como acusam governos de potências ocidentais, o Kremlin voltou sua artilharia verbal nesta sexta-feira (11) contra o Reino Unido, que tem se alinhado aos Estados Unidos nesta crise.
O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, disse nesta sexta em reunião com seu homólogo britânico, Ben Wallace, que as relações entre Moscou e Londres estão em seu ponto mais baixo, segundo as agências de notícias do país. "Infelizmente, o nível da nossa cooperação está perto de zero e prestes a cruzar o meridiano zero e se tornar negativo, o que não é desejável", afirmou.
Moscou já vinha zombando abertamente da ministra das Relações Exteriores britânica, Liz Truss, que cometeu uma gafe geográfica ao dizer que apoiaria "aliados do Báltico através do Mar Negro", mar que fica a mais de mil quilômetros dos países bálticos.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos questionaram a movimentação do lado francês para apaziguar a crise. No começo da semana, o presidente da França, Emmanuel Macron, foi a Moscou se reunir com Vladimir Putin e anunciou que ouviu do russo a promessa de que não escalaria o conflito na terça, o francês também se reuniu com Volodimir Zelenski, em Kiev, para negociar com o lado ucraniano.
Autoridades americanas expressaram em público dúvidas quanto aos resultados da viagem, em um momento em que a Rússia tem mais de 100 mil soldados, armas e outros equipamentos dispostos em diferentes pontos da fronteira com o país vizinho. "Certamente, se houvesse um progresso diplomático, agradeceríamos, mas acreditamos quando vemos com nossos próprios olhos na fronteira", disse na terça-feira (8) a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki.
No dia seguinte à viagem de Macron, para minimizar qualquer promessa que Moscou poderia ter feito à França, o Pentágono disse que a Rússia continuava reforçando suas forças na fronteira.
Na quinta-feira (10), Moscou mobilizou seus tanques pela Belarus para realizar exercícios com fogo real, o que provocou advertência da Otan. Também enviou seis navios de guerra através do Bósforo para manobras navais planejadas no Mar Negro e no vizinho Mar de Azov.
A subsecretária de Estado, Wendy Sherman, disse em entrevista ao canal americano MSNBC na quinta-feira (10) que as manobras militares realizadas em Belarus por forças desse país e russas equivalem, "do nosso ponto de vista, a uma escalada, não uma desescalada", como disse o presidente francês.
Macron se reúniu na tarde desta sexta-feira por telefone com os líderes dos Estados Unidos, Joe Biden, do Reino Unido, Boris Johnson, e da Alemanha, Olaf Scholz. A conversa incluiu ainda o presidente polonês Andrzej Duda, o chefe de governo italiano, Mario Draghi, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. Na mesa também estavam o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
Washington voltou a dizer, nesta sexta, que uma invasão pode acontecer a qualquer momento, talvez antes do final dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, que terminam em 20 de fevereiro, e que a Rússia está concentrando ainda mais tropas perto da Ucrânia.
Imagens de satélite publicadas por uma empresa privada dos EUA mostraram novas unidades militares russas em vários locais próximos à fronteira da Ucrânia.
Biden voltou a pedir que os americanos que estão na Ucrânia deixem o país e, sob o trauma da desastrada retirada do Afeganistão, disse que não vai enviar tropas para resgatar cidadãos em caso de um ataque russo. "As coisas podem enlouquecer rapidamente", disse o presidente à rede americana NBC News.
O governo ucraniano criticou, mais uma vez, a medida, tida por Kiev como alarmista, e afirmou que "não há evidência de mudança radical na situação". A Ucrânia tem repetido que quer uma saída diplomática, e, no último fim de semana, chamou as previsões de invasão eminente de "apocalípticas".
Não foi o suficiente para acalmar outras nações. Com o alarme se espalhando, o Japão e a Holanda também pediram nesta sexta que seus cidadãos deixem a Ucrânia imediatamente. A missão diplomática holandesa deve ser retirada de Kiev e movida para Lviv, no oeste da Ucrânia, longe da fronteira russa. Israel também disse que está retirando a missão diplomática da capital dado "o agravamento da situação".
A Rússia nega intenção de invadir a Ucrânia, mas diz que pode tomar "ações militares", sem especificar, caso demandas de segurança não sejam atendidas, como a garantia de que o país vizinho não vai ingressar na Otan, o que países como os Estados Unidos consideram inaceitável.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta