A Rússia disparou nesta quinta (24) um míssil de cruzeiro Kalibr de um submarino no mar Negro, região altamente contestada com o Ocidente, como parte de seu principal exercício militar anual.
O Kavkaz (Cáucaso)-2020 ocorre ao longo do Distrito Militar Meridional russo, que abrange a sensível região homônima e vai até as águas do mar Negro -que margeiam a rival Ucrânia e a Turquia, com quem Moscou tem uma relação que alterna disputa e parceria.
O míssil foi lançado pelo submarino de ataque diesel-elétrico Kolpino, e atingiu um alvo em terra a 185 km dali. É uma sutil lembrança aos ucranianos que a fronteira marítima do país encerra seus perigos.
O mar Negro tem sido foco de atividade militar intensa desde que Vladimir Putin anexou a Crimeia em 2014, na esteira de um golpe que derrubou o presidente pró-Rússia da Ucrânia.
Os russos já arrendavam a base de Sebastopol, sede da Frota no Mar Negro, da Ucrânia. A partir dali, militarizaram toda a península de maioria étnica russa.
Os exercícios militares envolvendo os distritos das Forças Armadas russas ocorrem todos os anos e seguem um rodízio geográfico. A proximidade da Ucrânia, desta vez, levou o país vizinho a marcar um jogo de guerra próprio nesta semana, somando 12 mil homens, com participação de forças da Otan (aliança militar ocidental).
Além disso, cerca de 4.000 militares, incluindo um grande contingente americano, fizeram um treinamento conjunto ao mesmo, já programado, no país.
A desconfiança segue em alta. Na quarta (23), caças russos Su-27 interceptaram um bombardeiro estratégico americano B-52, com capacidade nuclear, que testava o poder de reação de Moscou sobre o mar Negro.
Isso não teve a ver com os jogos de guerra, contudo. Eles são desenhados tanto para treinamento tático e de comando e controle, como para fazer essas demonstrações de força ao Ocidente, em especial no momento em que a tensão em torno da crise na Belarus opõe os rivais.
Outro ponto de tensão é a renovada disputa territorial entre dois países do Cáucaso, a aliada russa Armênia e o Azerbaijão -que desistiu de participar do exercício este ano, mas mandou observadores. Moscou já havia tentado diluir as tensões com manobras militares de surpresa em julho.
O exercício Cáucaso-2020 é focado em ações pontuais, que nunca somam mais de 12,9 mil militares para não ensejar inspeção regulamentada pela Organização para Segurança e Cooperação na Europa, da qual a Rússia faz parte.
São ao todo envolvidos 80 mil militares, incluindo cerca de mil de países como China e Paquistão. A Índia, tradicional participante, cancelou sua presença neste ano devido aos atritos com Pequim, com quem travou confronto fronteiriço nos Himalaias.
Além de ações antiterrorismo, exercícios com 450 blindados, 250 tanques e 200 sistemas antiaéreos, houve uma novidade: a criação de uma unidade específica para operar drones de observação e ataque de tropas.
Os russos têm aprendido à força a lidar com essa tecnologia: são alvos constantes de drones rudimentares de rebeldes sírios em sua base em Hmeimim, no norte do país árabe convulsionado pela guerra civil.
Agora, usando três modelos distintos segundo a agência estatal Tass, testam a eficácia em simulação de combate de táticas de saturação de área com os chamados enxames de drones. Tais aparelhos não tripulados operam em altitudes que vão de 100 m a 5 km.
Não foi divulgado se participou do exercício o drone experimental Okhotnik, que foi revelado sendo controlado em voo por um caça de quinta geração Su-57 no ano passado, causando um certo furor entre analistas militares.
Os exercícios militares russos, assim como os ucranianos, terminam no sábado (26).
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