O mundo acordou nesta quinta-feira (24) com a informação de que Rússia havia iniciado o ataque contra a Ucrânia. Essa é a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial e a maior operação do gênero desde que os Estados Unidos invadiram o Iraque, em 2003. Mas, afinal, esse conflito pode virar uma Terceira Guerra Mundial? Qual a chance desse conflito se espalhar pelo globo e atingir outras nações?
Fomos atrás de respostas sobre os efeitos dessa nova tensão e se ela pode ficar restrita à Rússia e à Ucrânia ou se é possível que países como os Estados Unidos e membros da Europa possam interferir, levando a bombardeios pelo Planeta. Segundo especialistas em crise política e relações internacionais, de acordo com o atual cenário, é baixa a possibilidade de a crise se estopim de um embate maior.
É importante destacar que a invasão é o ponto alto das tensões instaladas em meados de novembro de 2021. Os conflitos ideológicos foram intensificados esta semana quando o presidente russo, Vladimir Putin, decidiu reconhecer a independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia - movimento que serviu de pretexto para a entrada de tropas russas no país.
O interesse ucraniano de entrar para a Otan (aliança militar ocidental) vem sendo apontado como a principal causa da crise. A doutora em Ciência Política e membro do think tank russo Russian International Affairs Council Ekaterina Chimiris, diz que “motivos adicionais são a expansão da Otan para outros países e forças nativas adicionais da Otan perto de nossas fronteiras”, afirma.
O economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena pontua que a proximidade da Ucrânia com a Otan, na visão russa, significou perda de seu poder de influência e risco de manutenção da soberania política e territorial.
“A Ucrânia tem grandes quantidades de mísseis da época da União Soviética e teria capacidade de desenvolver energia atômica. Nesse ponto, a visão russa é que a expansão da Otan na Ucrânia seria uma grande ameaça à segurança russa. Apesar dos preceitos russos, nada disso é uma desculpa crível para uma invasão da maneira que estamos vendo”, pondera.
As hostilidades entre Rússia e Ucrânia não são novas e remontam ao fim da Guerra Fria. Mas uma série de acontecimentos recentes, que incluem crises internas, expansão de esferas de influência e revoltas pró-democracia ajudam a explicar por que Putin escolheu este momento para avançar novamente contra seu vizinho.
O professor de Relações Internacionais da UVV e analista de risco político, Daniel Carvalho, relembra que após os movimentos de Putin, comunidades internacionais impuseram sanções econômicas à Rússia na tentativa de dissuadir o presidente russo das investidas militares.
“Quando não teve as preocupações com a segurança levadas a sério pelas comunidades internacionais, Putin entendeu que era hora de atacar. Isso é o que a gente chama de guerra de posicionamento. Ele pode não estar tão interessado em anexar a Ucrânia, mas quer passar uma mensagem para o ocidente dizendo o que ele é capaz de fazer”, analisa o professor
Questionado se o conflito vai resultar na Terceira Guerra Mundial, Carvalho acredita que Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido devem continuar agindo para atingir o modelo econômico russo e aumentar a presença militar nos países vizinhos à Ucrânia que integram a Otan.
“Acho muito pouco provável (Terceira Guerra) porque, sem querer diminuir a Ucrânia, ela não é tão relevante, não dá para dizer que ela está em uma posição estratégica, historicamente, de disputa. Ela sempre esteve na zona de influência russa, não tem recursos o suficiente para justificar o engajamento militar dos Estados Unidos, Reino Unido”, analisa.
Lucena também não acredita que um conflito militar será travado com outros países além de Rússia a Ucrânia. Assim como explana Carvalho, o doutor em Relações Internacionais diz que o mais provável é que os demais países que integram a Otan anunciem sanções cada vez mais radicais e fortes do ponto de vista econômico.
“A Rússia é a maior potência atômica do planeta, junto com Estados Unidos A Rússia tem quatro mil ogivas nucleares. Nenhuma nação realizaria um combate militar com soldados russos se não fosse pela defesa do próprio território, como está acontecendo com a Ucrânia. Quem se envolver nesse conflito, estaria trazendo o conflito para suas regiões territoriais”, revela.
Na opinião do embaixador aposentado, José Vicente de Sá Pimentel, a maneira dos demais países lidarem com o assunto vai depender da qualidade e da razoabilidade dos responsáveis em negociar acordos de paz.
"O governo ucraniano é um governo independente. Essa tensão impacta mundialmente. Evidentemente, na economia, devido à produção de petróleo e gás da Rússia. O impacto no Brasil é praticamente imediato. A bolsa e o dólar vão reagir", alertou.
Levando em consideração os movimentos russos e as respostas dos países que integram a Otan, os especialistas avaliam que um cessar-fogo da Rússia não está perto. O professor de Relações Internacionais e analista de risco político, Daniel Carvalho, que as sanções impostas à Rússia pelos os outros países deveriam acertar o setor energético administrado por Putin.
“A Alemanha já cancelou o projeto para fazer o gasoduto que sairia da Rússia e iria direto para Alemanha. Mas, daí, para acreditar que os países parariam de comprar o gás russo, acho complicado", opina.
O economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, lembra que já há sanções em prática que dão conta da impossibilidade de refinanciamento de títulos russos no mercado europeu e americano. Para ele, será a nova política de pressão.
“Por outro lado, não acredito que Rússia vai a uma guerra total até dominar totalmente a Ucrânia. Acho que vai avançar em locais estratégicos e tentar sentar para negociar assim que as sanções começarem a incomodar a sociedade russa. Vamos ver momentos bastantes tensos a partir dos próximos dias”, destaca Lucena.
O interesse ucraniano de entrar para a Otan vem sendo apontado como a principal causa da crise. Para a doutora em Ciência Política e membro do think tank russo Russian International Affairs Council Ekaterina Chimiris, no entanto, essa possível candidatura não é a única razão para o conflito. “Motivos adicionais são a expansão da Otan para outros países e forças nativas adicionais da Otan perto de nossas fronteiras”, afirma.
Criada em 1949 com o objetivo de promover segurança coletiva contra a União Soviética, a aliança era composta inicialmente apenas por países ocidentais.
A partir de 1999, no entanto, a Otan passou a se expandir para a Europa central e o leste europeu, um movimento que a Rússia vê como uma ameaça a sua hegemonia na região. Em 2008, a aliança prometeu que duas ex-repúblicas soviéticas – Geórgia e Ucrânia – seriam um dia aceitas como membros, enfurecendo o Estado russo.
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