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Rússia x Ucrânia: conflito pode se tornar a 3ª Guerra Mundial?

Rússia x Ucrânia: conflito pode se tornar a 3ª Guerra Mundial?

A Rússia começou a atacar a Ucrânia nesta quinta-feira (24). A Gazeta ouviu especialistas para saber o impacto deste conflito no mundo

Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 16:55

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Ukrainian tanks move into the city, after Russian President Vladimir Putin authorized a military operation in eastern Ukraine, in Mariupol, February 24, 2022. REUTERS/Carlos Barria ORG XMIT: GDN
Tanques ucranianos entram na cidade após o presidente russo, Vladimir Putin, autorizar uma operação militar no leste da Ucrânia, em Mariupol. (Carlos Barria/ Reuters/Folhapress)

O mundo acordou nesta quinta-feira (24) com a informação de que Rússia havia iniciado o ataque contra a Ucrânia. Essa é a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial e a maior operação do gênero desde que os Estados Unidos invadiram o Iraque, em 2003. Mas, afinal, esse conflito pode virar uma Terceira Guerra Mundial? Qual a chance desse conflito se espalhar pelo globo e atingir outras nações?

Fomos atrás de respostas sobre os efeitos dessa nova tensão e se ela pode ficar restrita à Rússia e à Ucrânia ou se é possível que países como os Estados Unidos e membros da Europa possam interferir, levando a bombardeios pelo Planeta. Segundo especialistas em crise política e relações internacionais, de acordo com o atual cenário, é baixa a possibilidade de a crise se estopim de um embate maior.

É importante destacar que a invasão é o ponto alto das tensões instaladas em meados de novembro de 2021. Os conflitos ideológicos foram intensificados esta semana quando o presidente russo, Vladimir Putin, decidiu reconhecer a independência de duas regiões separatistas no leste da Ucrânia - movimento que serviu de pretexto para a entrada de tropas russas no país.

O interesse ucraniano de entrar para a Otan (aliança militar ocidental) vem sendo apontado como a principal causa da crise. A doutora em Ciência Política e membro do think tank russo Russian International Affairs Council Ekaterina Chimiris, diz que “motivos adicionais são a expansão da Otan para outros países e forças nativas adicionais da Otan perto de nossas fronteiras”, afirma.

O economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena pontua que a proximidade da Ucrânia com a Otan, na visão russa, significou perda de seu poder de influência e risco de manutenção da soberania política e territorial.

“A Ucrânia tem grandes quantidades de mísseis da época da União Soviética e teria capacidade de desenvolver energia atômica. Nesse ponto, a visão russa é que a expansão da Otan na Ucrânia seria uma grande ameaça à segurança russa. Apesar dos preceitos russos, nada disso é uma desculpa crível para uma invasão da maneira que estamos vendo”, pondera.

As hostilidades entre Rússia e Ucrânia não são novas e remontam ao fim da Guerra Fria. Mas uma série de acontecimentos recentes, que incluem crises internas, expansão de esferas de influência e revoltas pró-democracia ajudam a explicar por que Putin escolheu este momento para avançar novamente contra seu vizinho.

O professor de Relações Internacionais da UVV e analista de risco político, Daniel Carvalho, relembra que após os movimentos de Putin, comunidades internacionais impuseram sanções econômicas à Rússia na tentativa de dissuadir o presidente russo das investidas militares.

Militares da Ucrânia em blindados seguindo em estrada em Kramatorsk
Militares da Ucrânia em blindados seguindo em estrada em Kramatorsk. (VADIM GHIRDA)

“Quando não teve as preocupações com a segurança levadas a sério pelas comunidades internacionais, Putin entendeu que era hora de atacar. Isso é o que a gente chama de guerra de posicionamento. Ele pode não estar tão interessado em anexar a Ucrânia, mas quer passar uma mensagem para o ocidente dizendo o que ele é capaz de fazer”, analisa o professor

Questionado se o conflito vai resultar na Terceira Guerra Mundial, Carvalho acredita que Estados Unidos, Alemanha, França e Reino Unido devem continuar agindo para atingir o modelo econômico russo e aumentar a presença militar nos países vizinhos à Ucrânia que integram a Otan.

“Acho muito pouco provável (Terceira Guerra) porque, sem querer diminuir a Ucrânia, ela não é tão relevante, não dá para dizer que ela está em uma posição estratégica, historicamente, de disputa. Ela sempre esteve na zona de influência russa, não tem recursos o suficiente para justificar o engajamento militar dos Estados Unidos, Reino Unido”, analisa.

Lucena também não acredita que um conflito militar será travado com outros países além de Rússia a Ucrânia. Assim como explana Carvalho, o doutor em Relações Internacionais diz que o mais provável é que os demais países que integram a Otan anunciem sanções cada vez mais radicais e fortes do ponto de vista econômico.

“A Rússia é a maior potência atômica do planeta, junto com Estados Unidos A Rússia tem quatro mil ogivas nucleares. Nenhuma nação realizaria um combate militar com soldados russos se não fosse pela defesa do próprio território, como está acontecendo com a Ucrânia. Quem se envolver nesse conflito, estaria trazendo o conflito para suas regiões territoriais”, revela.

Na opinião do embaixador aposentado, José Vicente de Sá Pimentel, a maneira dos demais países lidarem com o assunto vai depender da qualidade e da razoabilidade dos responsáveis em negociar acordos de paz.

"O governo ucraniano é um governo independente. Essa tensão impacta mundialmente. Evidentemente, na economia, devido à produção de petróleo e gás da Rússia. O impacto no Brasil é praticamente imediato. A bolsa e o dólar vão reagir", alertou.

CESSAR FOGO

Levando em consideração os movimentos russos e as respostas dos países que integram a Otan, os especialistas avaliam que um cessar-fogo da Rússia não está perto. O professor de Relações Internacionais e analista de risco político, Daniel Carvalho, que as sanções impostas à Rússia pelos os outros países deveriam acertar o setor energético administrado por Putin.

“A Alemanha já cancelou o projeto para fazer o gasoduto que sairia da Rússia e iria direto para Alemanha. Mas, daí, para acreditar que os países parariam de comprar o gás russo, acho complicado", opina.

O economista e doutor em Relações Internacionais, Igor Lucena, lembra que já há sanções em prática que dão conta da impossibilidade de refinanciamento de títulos russos no mercado europeu e americano. Para ele, será a nova política de pressão.

“Por outro lado, não acredito que Rússia vai a uma guerra total até dominar totalmente a Ucrânia. Acho que vai avançar em locais estratégicos e tentar sentar para negociar assim que as sanções começarem a incomodar a sociedade russa. Vamos ver momentos bastantes tensos a partir dos próximos dias”, destaca Lucena.

EXPANSÃO DA OTAN

O interesse ucraniano de entrar para a Otan vem sendo apontado como a principal causa da crise. Para a doutora em Ciência Política e membro do think tank russo Russian International Affairs Council Ekaterina Chimiris, no entanto, essa possível candidatura não é a única razão para o conflito. “Motivos adicionais são a expansão da Otan para outros países e forças nativas adicionais da Otan perto de nossas fronteiras”, afirma.

Criada em 1949 com o objetivo de promover segurança coletiva contra a União Soviética, a aliança era composta inicialmente apenas por países ocidentais. 

A partir de 1999, no entanto, a Otan passou a se expandir para a Europa central e o leste europeu, um movimento que a Rússia vê como uma ameaça a sua hegemonia na região. Em 2008, a aliança prometeu que duas ex-repúblicas soviéticas – Geórgia e Ucrânia – seriam um dia aceitas como membros, enfurecendo o Estado russo.

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