Em apenas duas semanas, rebeldes saíram de seu enclave no noroeste da Síria e capturaram uma série de grandes cidades, até chegar a Damasco e derrubar o presidente Bashar al-Assad, 13 anos após o início da guerra civil do país.
Em comboios de pequenos veículos e motocicletas, os combatentes liderados pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) se movimentaram rapidamente pela rodovia norte-sul que forma a espinha dorsal do país, para tomar a capital sem resistência.
Mas enquanto muitos no país comemoram a queda de uma dinastia familiar que governou a Síria com punho de ferro, o futuro é incerto e a situação permanece em fluxo, com vários grupos rebeldes diferentes controlando diferentes partes do país.
A queda do regime de Assad foi provocada pelo avanço repentino e inesperado dos rebeldes do HTS, mas, embora o grupo controle as principais cidades da Síria, ele não governa o país inteiro.
A Síria tem sido controlada por anos por uma colcha de retalhos de grupos rebeldes, incluindo o HTS em Idlib e grupos liderados por curdos no nordeste do país, alguns dos quais também tomaram território nos últimos dias e semanas.
Nenhum dos grupos rebeldes lamentará a queda do regime de Assad, mas encontrar um consenso sobre como governar o país ainda pode ser difícil e no norte do país houve confrontos entre facções concorrentes.
Após anos atrás de linhas de frente inalteradas, os rebeldes realizaram um avanço relâmpago, culminando na derrubada do presidente e na tomada da capital no fim de semana.
Após tomar a segunda maior cidade da Síria, Aleppo, no final de novembro, os rebeldes continuaram sua ofensiva, movendo-se para o sul para tomar o controle da cidade de Hama na última quinta-feira (5/12).
O avanço continuou em ritmo acelerado, com a terceira cidade da Síria, Homs, caindo no sábado, pouco antes de as forças do governo também perderem o controle da capital.
A Síria, com uma população de cerca de 22 milhões de pessoas, está localizada na costa leste do mar Mediterrâneo. Faz fronteira com a Turquia ao norte, Líbano e Israel a oeste e sudoeste, Iraque a leste e Jordânia ao sul.
A Turquia, as potências ocidentais e alguns Estados árabes do Golfo apoiaram vários elementos da oposição síria em diferentes graus durante o conflito.
O movimento Hezbollah, sediado no Líbano e apoiado pelo Irã, lutou ao lado do exército sírio, mas foi severamente enfraquecido por seu conflito com Israel.
Isso é visto como uma razão fundamental pela qual o avanço rebelde foi tão bem-sucedido.
Israel, preocupado com o que chama de "entrincheiramento militar" do Irã na Síria, lançou ataques aéreos contra os militares sírios.
Aviões de guerra israelenses teriam realizado centenas de ataques aéreos na Síria, mirando instalações militares do Exército Sírio, incluindo armazéns de armas, depósitos de munição, aeroportos, bases navais e centros de pesquisa.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês), sediado no Reino Unido, diz ter documentado mais de 300 ataques de Israel desde a queda do regime de Assad no domingo, incluindo na capital, Damasco, Aleppo e Hama.
Relatos dão conta de que muitas das instalações atingidas foram completamente destruídas.
Israel diz que suas ações são para evitar que armas caiam "nas mãos de extremistas" enquanto a Síria transita para uma era pós-Assad.
Israel também diz que tomou temporariamente o controle de uma zona tampão desmilitarizada nas Colinas de Golã, dizendo que o acordo de 1974 com a Síria havia "entrado em colapso" com a tomada do país pelos rebeldes.
As Colinas de Golã são um planalto rochoso a cerca de 60 km a sudoeste de Damasco.
Israel tomou o território da Síria nos estágios finais da Guerra dos Seis Dias de 1967 e o anexou unilateralmente em 1981. O movimento não foi reconhecido internacionalmente, embora os EUA o tenham feito unilateralmente em 2019.
Na cidade de Manbij, no norte, houve confrontos entre forças apoiadas pela Turquia e rebeldes liderados pelos curdos.
Ambos os lados alegam ter tomado partes da cidade.
Analistas do Instituto para o Estudo da Guerra disseram no início da semana que ainda não conseguiam determinar quem estava no controle de Manbij.
Em 2015, a Rússia enviou milhares de tropas para a Síria para ajudar a manter o presidente Assad no poder.
Em troca dessa assistência militar, a Rússia recebeu o controle por 49 anos de duas bases militares importantes.
O porto de Tartus é a única grande base naval ultramarina da Rússia e também sua única base naval no Mediterrâneo.
Junto com a base aérea de Hmeimim, que é frequentemente usada para transportar os paramilitares da Rússia para dentro e para fora da África, as duas bases desempenham um papel importante na capacidade russa de operar como uma potência global.
O Kremlin disse que manterá discussões com a nova administração da Síria sobre o futuro de ambos os locais.
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