O Talibã endureceu o código de conduta e impôs nos últimos dias uma série de restrições ao comportamento dos cidadãos no Afeganistão, como a proibição de que mulheres viajem sozinhas de avião e de que funcionários públicos trabalhem sem barba e a segregação dos parques por gênero.
O Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, responsável por esse tipo de regra, não confirmou publicamente as medidas, mas várias fontes disseram às agências de notícias AFP e Reuters que elas já estão em vigor.
Nesta segunda-feira (28), representantes do regime fundamentalista estavam patrulhando as entradas dos serviços públicos para verificar se os funcionários estavam usando barba e vestimentas típicas da etnia pashtun - blusa e calças largas e um chapéu ou turbante, segundo disseram três fontes à Reuters. Eles também foram instruídos a garantir que fizessem suas orações nos horários corretos.
No domingo, os parques passaram a ser segregados por sexo, com as mulheres autorizadas a entrar três dias por semana e os homens, nos outros quatro dias, incluindo o fim de semana, o que significa que nem casais e famílias podem frequentar esses locais juntos.
As mulheres, que enfrentam a maior parte das rígidas restrições ditadas pelo grupo, também foram atingidas pelas novas medidas. Depois de fecharem as escolas de ensino médio para as meninas, no mesmo dia em que haviam prometido abri-las, os talibãs ordenaram que as companhias aéreas só permitam que embarquem em seus voos passageiras acompanhadas por um parente do sexo masculino.
Os talibãs já haviam proibido as mulheres de viajarem sozinhas por terra, caso o trajeto supere 72 quilômetros, mas até agora elas tinham permissão para embarcar em voos.
O grupo fundamentalista prometeu que apresentaria uma versão mais tolerante do rígido código de comportamento que seu regime impôs em seu primeiro período no poder, de 1996 a 2001, mas, desde agosto, reverteu duas décadas de avanços nos direitos das afegãs. Elas foram excluídas da maioria dos cargos públicos e do ensino médio e são obrigadas a usar roupas de acordo com uma interpretação estrita do Alcorão, o livro sagrado do islamismo.
Dois funcionários das companhias aéreas Ariana Afghan e Kam Air afirmaram na noite deste domingo (27) que os talibãs ordenaram que não permitam às mulheres que viajem sem a presença de um parente do sexo masculino. A decisão foi adotada após uma reunião na quinta-feira entre representantes do Talibã, das duas companhias aéreas e autoridades migratórias do aeroporto, informaram à AFP os dois funcionários, que pediram anonimato.
O regime afirmou que não divulgou nenhuma diretriz para proibir as viagens de mulheres sozinhas em aviões, mas uma carta enviada por um executivo da Ariana Afghan aos trabalhadores da companhia confirma as novas instruções, que devem ser aplicadas a todos os voos. "Nenhuma mulher pode viajar em um voo local ou internacional sem um parente masculino", afirma o documento.
Dois agentes de viagens procurados pela AFP também confirmaram que pararam de emitir passagens para mulheres que viajam sozinhas. Um passageiro de um voo da Kam Air que iria de Cabul a Islamabad na sexta-feira também disse que algumas mulheres que viajavam sem um parente do sexo masculino não conseguiram embarcar. Ainda não está claro se a regra se aplica a mulheres estrangeiras, mas a imprensa local informou que uma afegã com passaporte americano foi impedida de pegar um voo na semana passada.
Os fundamentalistas também parecem ter iniciado uma repressão aos meios de comunicação, que haviam prosperado sob governos anteriores apoiados pelos EUA. Nesta segunda-feira, na província de Kandahar (no sul do país), os serviços de inteligência talibãs executaram operações contra quatro emissoras de rádio que tocam música e prenderam seis jornalistas. No domingo, o grupo ordenou a interrupção dos programas da BBC nas emissoras sócias do grupo britânico.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas expressou preocupação com a decisão do Talibã de negar às meninas o acesso ao ensino médio e pediu ao grupo que reabrisse as escolas sem demora. "Os membros reafirmaram o direito à educação para todos os afegãos, incluindo meninas", disse um comunicado do colegiado. Os EUA cancelaram reuniões com o Talibã em Doha, que deveriam abordar questões econômicas, em reação à decisão.
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