Afegãs não terão permissão para praticar qualquer esporte, informou um dos líderes culturais do Talibã, Ahmadullah Wasiq, ao SBS News, uma rede de TV da Austrália.
Segundo o porta-voz, o esporte feminino é desnecessário e pode "expor" as mulheres. O talibã citou o críquete.
"No críquete e em outros esportes, as mulheres não terão um código de vestimenta islâmico. É óbvio que elas serão expostas e não seguirão o código de vestimenta, e o Islã não permite isso", afirmou Wasiq. "Não é necessário que elas joguem".
Segundo ele, as afegãs poderiam enfrentar situações em que o rosto e o corpo não estão cobertos.
"É a era da mídia e haverá fotos e vídeos, pessoas assistirão", afirmou Wasiq.
A entrevista versava sobre críquete, que é bastante popular no país — o próprio Talibã permitiu na sexta (3) a realização de um jogo, algo que não fazia quando governava o país com mão de ferro de 1996 a 2001, até ser expulso do poder pela invasão americana encerrada no dia 30 de setembro.
Não houve nenhum decreto formal sobre isso, mas o comentário vai em linha com o anúncio do novo governo afegão, feito pelo Talibã na terça (7): radicais de velha guarda ocupam boa parte dos cargos, sem nenhuma presença feminina.
O Ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício, a temida polícia política dos anos do Talibã 1.0, foi recriado. Não está claro com quais poderes, em especial num momento em que cresce a suspeita externa sobre o discurso dos extremistas de que agora seria tudo diferente e que haveria mais liberdade.
Tudo dentro de um escopo da sharia, a lei islâmica que o Talibã segue de forma literal, como se vivesse na Idade Média.
O fato de que sua face relativamente mais cosmopolita, o mulá Abdul Ghani Baradar, não ficou com a chefia principal do governo do líder supremo Hibatullah Akhundzada, sugere que o grupo enfim não mudou tanto.
Nos anos talibãs, quando o abrigo dado a Osama bin Laden durante a preparação do 11 de Setembro causou a derrubada do grupo pelas mãos ocidentais, mulheres eram relegadas a papéis domésticos — não podiam estudar e raramente tinham atendimento médico.
Agora, o Talibã liberou o estudo, desde que separado de homens. Desde quinta (2), há protestos pontuais de mulheres em Cabul e outras cidades, a maioria sendo dispersado com mais ou menos violência.
O Talibã anunciou no domingo que permitirá que mulheres afegãs possam continuar estudando em universidades particulares, mas determinou regras para a presença feminina, segundo noticiou a agência AFP.
As estudantes não poderão se misturar com homens e terão que usar as vestimentas abaya (um vestido longo) e o niqab (véu que deixa apenas os olhos à mostra). Elas também deverão deixar a sala de aula cinco minutos antes e aguardar até que os homens deixem o campus da universidade.
"O povo do Afeganistão continuará sua educação superior em segurança, à luz da lei Sharia, sem estar em um ambiente misto de homem e mulher", disse o ministro da educação em exercício do Talibã, Abdul Baqi Haqqani, de acordo com a AFP.
O grupo também exigirá que apenas mulheres ou homens mais velhos "cuja moralidade tenha sido comprovada" ministrem aulas para afegãs.
O ministro acrescentou que o Talibã quer "criar um currículo islâmico razoável que esteja em linha com nossos valores islâmicos, nacionais e históricos e, por outro lado, seja capaz de competir com outros países".
Quando governou o Afeganistão pela primeira vez, entre 1996 e 2001, o Talibã proibiu meninas e mulheres de estudar e trabalhar. Agora, o grupo promete "honrar" os direitos conquistados pelas mulheres, desde que alinhados à lei islâmica.
Um alto funcionário do Talibã disse à Reuters que divisórias em salas de aula, como cortinas, são "completamente aceitáveis" e que, dados os "recursos e mão de obra limitados do Afeganistão", era melhor "ter o mesmo professor ensinando os dois lados da classe".
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