Após dias de silêncio, o presidente Donald Trump disse avaliar que seu discurso no dia 6 de janeiro foi adequado, e negou qualquer responsabilidade sobre a invasão ao Congresso feita logo depois, por apoiadores dele.
"Se você ler meu discurso.. o que eu disse foi totalmente apropriado", respondeu Trump, nesta terça (12), ao ser perguntado pelos repórteres sobre sua responsabilidade no ataque ao Congresso, antes de embarcar para uma viagem ao Texas.
O presidente Donald Trump, ao deixar o helicóptero Marine One, na base de Andrews, nos arredores de Washington Carlos Barria/Reuters ** O presidente fará uma visita a um trecho do muro na fronteira do México, em Alamo. Ampliar esta barreira foi uma de suas principais promessas de campanha, por simbolizar o combate à entrada de imigrantes. Trump tem apenas mais oito dias no cargo.
Trump também chamou o pedido de impeachment contra ele de "absolutamente ridículo". Disse que o processo causa um ódio tremendo e que é uma "continuação da maior caça às bruxas da história da política."
Deputados democratas apresentaram o pedido na segunda (11). A petição, de quatro páginas, acusa o presidente de "incitar a violência contra o governo dos Estados Unidos", por estimular uma multidão a invadir o Congresso, na semana passada, em meio à certificação dos resultados eleitorais.
"Incitada pelo presidente, uma multidão invadiu o Capitólio, atacou equipes de segurança, ameaçou membros do Congresso e o vice (...) e se engajou em atos violentos, mortais, destrutivos e sediciosos", diz o pedido, assinado por deputados democratas.
O pedido cita falas de Trump, como "se vocês não lutarem para valer, vocês não terão mais um país", e menciona os esforços dele para subverter a eleição que perdeu, como o telefonema ao secretário de Estado da Geórgia, a quem pediu que "encontrasse votos" para mudar o resultado.
"Ele ameaçou a integridade do sistema democrático, interferiu na transição pacífica de poder e colocou a divisão de poderes do governo em perigo. Assim, como presidente, ele traiu a confiança, o que gerou claros danos ao povo dos Estados Unidos", prossegue a petição.
A expectativa é que o pedido seja votado na Câmara nesta quarta (13). Houve acordos para realizar em poucos dias um processo que poderia durar meses. Um dos fatores que acelera as coisas é que não será preciso fazer investigações e marcar depoimentos, pois Trump é acusado de má conduta por falas e ações em público.
Antes, ainda nesta terça (12), a Câmara deve votar uma resolução para pedir ao vice-presidente Mike Pence para que ele acione a 25ª emenda, retire Trump do poder e assuma a Presidência do país, de modo interino.
A 25ª emenda é uma regra constitucional segundo a qual o presidente poderia ser removido sob a justificativa de incapacidade. A decisão sobre fazer isso, no entanto, cabe apenas ao próprio Pence e aos secretários (equivalentes a ministros) de governo.
Caso Pence não acione a emenda, os democratas planejam avançar rapidamente com o impeachment, que será o segundo de Trump em um só mandato, um recorde. Ele já foi alvo de um processo de impeachment, aprovado na Câmara, mas rejeitado pelo Senado, em fevereiro de 2020.
A aprovação do 2º impeachment na Câmara é dada como certa, pois os democratas possuem maioria na Casa: eles têm 222 representantes, de um total de 435. Em seguida, o processo seguirá para o Senado, e aí surgem dúvidas.
A primeira questão é quando o envio será feito. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, poderia esperar algumas semanas para enviar o processo, dando tempo para que os dois novos senadores eleitos na Geórgia tomem posse.
Com a chegada deles, haverá 50 senadores que votam com os democratas e 50 republicanos. O voto de desempate, no entanto, caberá à vice-presidente eleita, a democrata Kamala Harris.
A retirada de um presidente do cargo por impeachment exige maioria de dois terços (67 de 100 senadores). Em seguida, há outra votação para julgar a perda de direitos políticos, que podem ser retirados via aprovação por maioria simples (51 senadores).
Com isso, o impeachment de Trump dependerá de que ao menos 17 senadores republicanos votem contra ele. Alguns deles criticaram o presidente nos últimos dias, mas não está claro se votariam para puni-lo.
Há também a questão de que o Senado está em recesso até a semana que vem. Para que os senadores voltem à ativa e analisem o impeachment antes disso, seria preciso um acordo entre os líderes dos dois partidos.
O processo de impeachment dificilmente deve conseguir tirar Trump do cargo antes do fim de seu mandato, em 20 de janeiro. O objetivo, no entanto, é outro: impedir que ele concorra novamente à Presidência. Nos EUA, o processo de impeachment prevê duas penas: a perda de mandato e a proibição de que o réu volte a ocupar cargos federais, este último a depender de uma votação por maioria simples após a condenação.
Trump também poderia perder os benefícios dados a ex-presidentes, como aposentadoria, plano de saúde e segurança particular.
O processo pode seguir mesmo após o republicano deixar a Casa Branca, uma vez que a Constituição do país não estabelece prazos para que o afastamento seja feito. No entanto, como nunca um presidente dos EUA foi processado após deixar o cargo, o tema pode ir parar na Suprema Corte.
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