Uma eleição extremamente dividida e que, apesar do favoritismo do democrata Joe Biden, ainda está indefinida. Essa é a avaliação de capixabas que vivem nos Estados Unidos e que têm poder de voto nas eleições presidenciais no país. Na próxima terça-feira (3), milhões de cidadãos norte-americanos vão às urnas para escolher entre manter o atual presidente, o republicano Donald Trump, ou mudar o comando da Casa Branca elegendo Biden.
Apesar do democrata aparecer com uma média de 7 pontos percentuais de vantagem nas pesquisas até esta sexta-feira (30), a avaliação de brasileiros nascidos no Espírito Santo entrevistados por A Gazeta é que não há como saber quem vencerá. Isso porque os Estados Unidos têm um sistema indireto de eleição, pelo colégio eleitoral, em que a vitória é de quem conseguir o maior número de delegados e não necessariamente de quem obteve mais votos.
São 538 delegados no total, distribuídos entre os Estados de acordo com a quantidade de habitantes de cada um. Logo, quem conseguir vencer nos Estados mais populosos, ainda que perca no total geral de votos, pode ganhar por ter um número maior de delegados. Alguns Estados são historicamente republicanos, outros sempre votam com os democratas. Mas o que acaba definindo todas as eleições são os chamados "swing states": 13 Estados que somam 170 delegados e que variam de lado a cada disputa.
Um deles é o Estado de Ohio, onde vive a capixaba Léia Teixeira desde 1999. Natural de Vila Velha, ela tem direito ao voto nos EUA, mas prefere não revelar em quem vai votar. Segundo ela, os candidatos estão em dois extremos diferentes, o que faz a disputa ficar mais tensa e polarizada. "O pessoal aqui está bem sangue quente, um clima intenso. Mas não dá para dizer quem ganha, ainda mais por conta do sistema de colégio eleitoral. Está muito acirrado", declarou.
Léia ainda destacou que, diante da pandemia do coronavírus, que já forma uma segunda onda de casos nos EUA, os dois candidatos fazem campanhas bem diferentes. "O Biden tem feito uma campanha enxuta, respeitando bastante o distanciamento. Já o Trump faz grandes encontros. São comícios tão cheios de gente que parece aquele ônibus vindo da Praia da Costa para São Torquato em um domingo", brinca.
Já o construtor Jeferson de Oliveira, nascido em Vitória, mora há 20 anos em Massachusetts, um tradicional reduto democrata em eleições presidenciais (apesar do atual governador ser republicano). Ele, inclusive, deixa claro que irá votar em Biden e que se identifica mais com o partido. Ainda assim, diz que não tem muito o que reclamar da gestão de Trump. Sua aposta é que o democrata irá ganhar.
"Aqui eu vejo que o Joe Biden está bem na frente. Todo mundo guarda na memória o excelente trabalho do Obama e quer voltar para esse tempo, ao meu ver. Tem muita gente na dúvida, é claro, mas meu palpite é que o Biden ganha. Ele fez um bom trabalho como vice do Obama. Na outra eleição, eu votei na Hillary Clinton e nós perdemos para o Trump, apesar de que não tenho muito o que reclamar da administração dele. Mas acho que retomar o plano de governo do Obama seria o ideal para melhorar a economia e o país", disse
Mesmo alinhado aos democratas, Jefeson concorda com o tratamento que o candidato republicano tem dado aos imigrantes: "Do meu ponto de vista, ele está mais do que certo. A gente viu uma grande quantidade de brasileiros deportados tentando entrar nos EUA ilegalmente, e assim a coisa começa errada, com as pessoas chegando sem a autorização do país. Acho que quem entra ilegal não é uma boa pessoa, mesmo sendo para buscar boas condições".
Jeferson é casado com a jornalista Giovanna Santos, também de Vitória, com quem tem um casal de filhos nascidos nos Estados Unidos. Giovanna só se mudou de forma definitiva para o país neste ano, e, por isso, ainda não tem o direito de votar. Ela torce para os democratas, mas como observadora do cenário político vê um clima de incerteza sobre quem leva.
"Por causa do coronavírus, a gente não consegue observar muito o movimento da cidade, mas vejo muitas plaquinhas pró-Biden que as pessoas colocam em frente suas casas no jardim. Já quando a gente passa por New Hampshire, que é um Estado vizinho, vejo mais faixas sinalizando apoio ao Trump. Então, não dá para arriscar um palpite de quem ganha, mesmo com o Biden na frente. Em 2016, por exemplo, a Hillary também estava melhor nas pesquisas, ganhou a votação, mas não foi eleita", disse.
Essa também é a opinião da capixaba Tathiana Queiroz Gozzi de Lima, natural de Vitória. Ela vive em Orlando, na Flórida, desde dezembro de 2016, e também não pode votar ainda. Apesar da disputa extremamente acirrada e tensa, ela descreve que não tem visto manifestações agressivas entre os dois lados.
"Aqui em Orlando, às vezes, a gente vê carreatas de um ou outro lado, mas são bem pontuais e nada tão expressivo ou agressivo. Mas está bem dividido. No geral, eu vejo a população latina e os negros a favor de Biden, enquanto os conservadores e militares apoiam Trump. Mas a gente tem que levar em consideração que a população negra nos EUA é muito grande, maior que a população branca, e que a comunidade latina também é grande, sobretudo aqui na Flórida, que é um dos Estados decisivos", contou.
Mesmo sem direito ao voto, Tathiana tem uma preferência clara: "Eu preferiria que o Biden ganhasse. O Trump, para mim, passa muita insegurança, acho ele muito inconstante. A gente não sabe muito o que esperar dele. Eu preferiria que o Biden ganhasse para ver o que vai acontecer. Todos dizem que ele apoiaria mais os imigrantes, e são muitas as pessoas aqui sem documentos. A vitória dele vai trazer tranquilidade para esse povo que está aqui buscando seu lugar ao sol", opinou.
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