Ex-assessor de segurança nacional dos EUA, John Bolton afirma em seu novo livro que Donald Trump deveria ter sido investigado pela Câmara, no inquérito do impeachment, não apenas por pressionar a Ucrânia a incriminar seu rival democrata Joe Biden, mas também por situações em que o republicano tentou intervir em questões de segurança por razões políticas.
As informações são do New York Times, que teve acesso antecipado ao polêmico e aguardado livro "The Room Where It Happened: A White House Memoir" (a sala onde aconteceu: um livro de memórias da Casa Branca), cujo lançamento está previsto para o dia 23, pela editora Simon e Schuster. O livro, ainda na pré-venda, já é o mais vendido na Amazon americana.
"The Room Where It Happened: A White House Memoir" é também o primeiro livro de memórias escrito por um funcionário do alto escalão do governo Trump, que participou de grandes eventos da política externa do mandato e fez carreira como político conservador.
O ex-assessor de segurança nacional, John Bolton, durante evento na Universidade Duke, na Carolina do Norte Jonathan Drake -17.mai.2020/Reuters **** Ainda de acordo com o jornal, Bolton descreve vários episódios em que o presidente teve vontade de interromper investigações criminais "para conceder favores pessoais aos ditadores de que ele gostava", em casos ocorridos na China e na Turquia. "O padrão parecia ser a obstrução da Justiça como um modo de vida, o que não poderíamos aceitar", escreve Bolton.
Bolton também alega que Trump vinculou abertamente negociações comerciais a intenções políticas pessoais. Ele teria, por exemplo, pedido ao dirigente chinês, Xi Jinping, para comprar muitos produtos agrícolas americanos para ajudá-lo a conquistar estados agrícolas nas eleições deste ano.
Trump, escreve o ex-assessor, estava "implorando a Xi para garantir que ele vencesse. Ele ressaltou a importância dos agricultores e do aumento das compras chinesas de soja e trigo no resultado das eleições".
Em um trecho publicado pelo Washington Post, Bolton afirma que Trump disse que invadir a Venezuela seria "legal" e que isto "era realmente parte dos Estados Unidos", embora o governo tenha dito publicamente não ser a favor do uso da força para derrubar o ditador venezuelano, Nicolás Maduro.
Outros trechos do livro mostram que Trump desconhece informações básicas da geopolítica mundial, como o fato de o Reino Unido ser uma potência nuclear. O republicano também teria perguntado se a Finlândia faz parte da Rússia, segundo Bolton.
Além disso, conselheiros que se dizem leais fazem troça de seu chefe pelas costas, de acordo com o livro. Durante uma reunião de Trump em 2018 com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, o secretário de Estado, Mike Pompeo, enviou a Bolton uma nota depreciativa do presidente, dizendo: "Ele é um baita mentiroso".
Na terça (16), o governo Trump processou Bolton para tentar impedir a publicação, argumentando que o manuscrito contém informações sigilosas que comprometem a segurança nacional. Além disso, a Casa Branca alega que o texto não foi aprovado internamente, procedimento a que devem se submeter antigos e atuais funcionários. Trump alegou nesta semana que, se o livro sair, Bolton estará violando a lei.
Trump demitiu Bolton em setembro do ano passado, após 519 dias de trabalho, em meio a diferenças em uma ampla gama de questões de política externa. O procurador-geral dos EUA, William Barr, informou na segunda (15) que o Departamento de Justiça estava tentando convencer Bolton a concluir o processo de liberação e excluir os trechos sigilosos que, na visão da Casa Branca, sejam necessários.
As alegações de Bolton vêm à tona apenas quatro meses depois de o Senado, controlado pelos republicanos, votar para absolver Trump no processo de impeachment levado a cabo pela Câmara dos Deputados, de maioria democrata.
O estopim foi uma ligação telefônica com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, na qual Trump pede para que a Ucrânia investigue e tente incriminar seu rival Joe Biden, contra quem vai concorrer nas eleições de 3 de novembro.
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