Kamala Harris e Donald Trump terminaram suas campanhas para as eleições nos Estados Unidos com comícios na Pensilvânia e no Michigan, respectivamente - mas por quê?
Em suma, porque esses são dois dos sete Estados onde os resultados ainda não foram definidos com as pesquisas apontando um equilíbrio tão grande que torna o resultado imprevisível - e que, portanto, podem decidir o próximo presidente americano.
A Pensilvânia é considerado importante porque o candidato que vence entre os eleitores do Estado recebe valiosos 19 votos no Colégio Eleitoral.
Em 2020, a Pensilvânia foi uma das últimas regiões a ter seu resultado confirmado, com Joe Biden - que é originalmente do Estado - saindo como o vencedor.
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Já Michigan representa 15 votos no Colégio Eleitoral e é considerado um Estado de vitória obrigatória para ambos os candidatos presidenciais.
Por várias décadas, Michigan fez parte do chamado blue wall (paredão azul, em tradução para o português), formado pelos Estados em que o Partido Democrata historicamente tem mais força.
Mas Trump contrariou essa tendência quando venceu no Estado em 2016, antes de Joe Biden retomar o controle democrata por ali em 2020.
Trump fez o último discurso de sua campanha na cidade de Grand Rapids, no Michigan, onde foi recebido com aplausos.
Ele falou longamente sobre vários tópicos, incluindo imigração e desemprego, e também aproveitou a oportunidade para criticar Kamala Harris - dizendo que ela havia quebrado o país, mas que ele o levaria a "novos patamares de glória".
Kamala, enquanto isso, mal mencionou seu concorrente. Ela fez seu último discurso na Filadélfia, no Estado da Pensilvânia, onde se concentrou no "otimismo" de sua campanha e disse em um apelo aos jovens eleitores: "Eu vejo seu poder e estou muito orgulhosa de vocês".
Mais de 240 milhões de americanos estão aptos a votar neste 5 de novembro. Mas, no sistema eleitoral do país, obter a maioria do voto popular nacionalmente não é garantia de vitória.
Para chegar à Casa Branca, um candidato precisa de pelo menos 270 dos 538 votos no chamado Colégio Eleitoral, formado por delegados enviados pelos Estados.
O número de delegados de cada Estado varia, e é proporcional ao tamanho da população. São esses delegados que elegem o presidente.
Na maioria dos casos, o vencedor leva todos os votos do Colégio Eleitoral daquele Estado, mesmo que sua vitória tenha sido por uma margem pequena.
Assim, é possível que um candidato vença o voto popular nacionalmente e, mesmo assim, perca na contagem de votos do Colégio Eleitoral.
Isso aconteceu com a democrata Hillary Clinton em 2016, que foi derrotada por Donald Trump.
Na complicada matemática para chegar aos 270 votos, são cruciais os chamados swing states (Estados-pêndulo, em tradução livre), já que um ano podem pender para os democratas e, na eleição seguinte, para os republicanos.
Na maioria dos 50 Estados americanos, a disputa não costuma ser competitiva, e um dos dois principais partidos historicamente tem mais força, deixando pouca chance de vitória para o adversário.
Exemplos dessa dinâmica são a Califórnia, considerada um Estado democrata, ou o Texas, que tem um histórico de votação em republicanos.
Mas, nos sete Estados identificados como decisivos neste ano, tanto a vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris quanto o ex-presidente Donald Trump, que deverá concorrer pelo Partido Republicano, podem vencer a disputa.
Outra característica para que um Estado seja considerado decisivo é ter pesquisas de intenção de voto com pequena diferença entre os dois candidatos que sejam "consistentemente dentro da margem de erro", diz à BBC News Brasil o cientista político Todd Belt, professor da Universidade George Washington, em Washington.
Na eleição atual, segundo as pesquisas mais recentes, os dados sugerem uma pequena vantagem para Trump em Nevada, Geórgia, Carolina do Norte e Arizona. Kamala aparece com uma liderança pequena em Wisconsin e Michigan.
Já na Pensilvânia, os dois candidatos aparecem empatados.
Com 19 votos no Colégio Eleitoral - o maior número entre todos os Estados-pêndulo - a Pensilvânia se tornou o grande prêmio desta eleição.
O modo como a Pensilvânia vota também é frequentemente visto como um indicador de quem vencerá o país: o candidato que venceu o Estado em 10 das últimas 12 eleições presidenciais chegou à Casa Branca.
Por tudo isso, os eleitores locais têm sentido mais responsabilidade no momento de ir às urnas.
“Muitas pessoas estão dizendo que é aqui que vai ser decidido… e acho que elas podem estar certas”, disse à BBC Bill Donovan, eleitor democrata que viajou de universidade em universidade em Pittsburgh para abordar estudantes e garantir que eles se registraram para votar.
“Isso nos dá um pouco mais de incentivo para continuar quando sentimos vontade de voltar para casa.”
O Estado foi inundado por propagandas das campanhas de Kamala e Trump, que junto com seus companheiros de chapa fizeram mais de 50 aparições em cidades da Pensilvânia desde meados de julho.
Entre 22 de julho e 8 de outubro, a campanha de Kamala gastou US$ 159,1 milhões (R$ 921,6 milhões) em publicidade na Pensilvânia, de acordo com um relatório recente da AdImpact.
Já a campanha de Trump gastou US$ 120,2 milhões (R$ 696,3 milhões) no mesmo período.
O poder que vem com o voto por ali é exatamente a razão pela qual Dimitri Chernozhukov, um estudante universitário de 21 anos da Lafayette College na cidade de Easton, escolheu cursar uma universidade no Estado.
"Meu voto importa aqui", disse o eleitor de Trump. "Quando eu estava me registrando na Pensilvânia, eu me certifiquei de que todos os formulários estavam corretos porque esse voto importa."
Com cerca de 9 milhões de eleitores registrados na Pensilvânia, a participação é essencial para o sucesso de qualquer campanha.
Os números de registro mostram que a filiação política está dividida quase 50-50, com cerca de 3,9 milhões de democratas e 3,6 milhões de republicanos registrados.
Há também cerca de 1,4 milhão de eleitores registrados como independentes ou filiados a terceiros, que ambas as campanhas cortejaram.
Os eleitores democratas estão principalmente agrupados ao longo das fronteiras leste e oeste do Estado, em áreas urbanas como Pittsburgh e Filadélfia.
O meio do Estado, que é rural, inclina-se fortemente para os republicanos.
Dois condados especificamente - Erie no oeste da Pensilvânia e Northampton no leste da Pensilvânia - são vistos como condados indicadores, o que significa que eles geralmente influenciam a forma como o país vota em geral. Ambos os condados favoreceram Trump em 2016, mas foram para Biden em 2020.
No Michigan, quando Kamala substituiu o presidente Joe Biden como a candidata democrata em julho, seus eleitores estavam esperançosos com a possibilidade de crescimento de sua campanha.
No início de agosto, Kamala Harris tinha uma vantagem de cerca de 1,7 ponto percentual em relação a Trump, segundo uma média das pesquisas realizadas pelo site 538.
A diferença chegou a 3,4 pontos na média das pesquisas seguintes, mas caiu consideravelmente desde o início do mês de outubro, deixando o caminho dos democratas para a vitória no Estado menos certo.
Atualmente, ela tem cerca de 1 ponto de vantagem em relação a Donald Trump no Michigan.
Localizado no Meio-Oeste dos EUA, o Estado deu consistentemente a vitória para os democratas por décadas até 2016, quando se tornou um importante campo de batalha entre os dois partidos por seus 15 votos no Colégio Eleitoral.
Na disputa de 2020, entre Joe Biden e Donald Trump, o candidato democrata acabou com uma liderança confortável e venceu o Estado por 150 mil votos. Mas analistas preveem uma corrida muito mais apertada neste ano.
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