A variante do coronavírus detectada no Reino Unido, B.117, causa doenças mais graves que a versão original e provoca mais mortes, de acordo com estudo publicado nesta quarta (10) no periódico British Medical Journal (BMJ).
O trabalho, que foi revisado por cientistas independentes, foi feito por epidemiologistas das universidades de Exeter e Bristol. Os autores compararam duas amostras equivalentes em idade, sexo, etnia e status socioeconômico, cada uma com 54.906 pacientes.
No grupo infectado com a variante B.117 houve 227 mortes, contra 141 no contaminado pelas versões anteriores do vírus. Os pesquisadores estimaram que a variante é 64% mais letal (com 95% de confiança de que o aumento esteja entre 32% e 104%). O risco de morte passou de 0,25% dos infectados para 0,41%.
O aumento da letalidade foi maior em homens e aumentou com a idade. "Mais dados são necessários para tirar quaisquer conclusões significativas sobre etnia ou status socioeconômico", disse o professor de microbiologia celular da Universidade de Reading, Simon Clarke.
Estudos preliminares feitos pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e pelo Imperial College também haviam indicado um número maior de mortes em infectados pela B.117.
O virologista clínico Julian Tang, da Universidade de Leicester, acha porém que será preciso confirmar os resultados com novas análises no segundo trimestre deste ano, porque, durante o inverno, temperaturas mais frias podem exacerbar comorbidades que predispõem a mortes por Covid-19, como doenças cardíacas, diabetes, doenças pulmonares, renais e neurológicas crônicas.
A pré-existência dessas doenças não foi avaliada no trabalho publicado nesta quarta.
Detectada em setembro do ano passado, a variante britânica já chegou a 94 países --incluindo o Brasil-- e é responsável por 98% dos casos registrados no Reino Unido neste mês, segundo o Cog-UK (consórcio de genômica do país). O estudo publicado nesta quarta avaliou casos que ocorreram entre novembro de 2020 e janeiro de 2021, quando a B.117 ainda não era predominante.
Os mecanismos que tornam o mutante britânico mais letal ainda são incertos, afirmou o professor Lawrence Young, virologista da Universidade de Warwick, mas podem estar ligados a uma replicação maior do vírus nas células humanas.
O mutante é também mais contagioso --estudos de transmissão sugerem que ele seja cerca de 50% mais infeccioso que variantes anteriores--, mas, até o momento, não há evidências de que eles escapem da proteção estimulada pelas vacinas contra Covid-19.
Uma preocupação, porém, foi a identificação de uma nova linhagem de B.117 com uma mutação adicional, também encontrada nas variantes identificadas na África do Sul (B.1.351) e no Brasil (P.1), que podem ser menos suscetíveis aos imunizantes.
Os novos resultados mostram "a importância de manter o número de casos suprimido", afirmou o pesquisador sênior em saúde global da Universidade de Southampton, Michael Head.
"Quanto mais transmissão, maior a chance de uma nova variante de preocupação emergir, inclusive mutantes que podem ter impacto no sucesso da vacinação."
De acordo com ele, reduzir rapidamente as restrições à circulação "seria uma aposta imprudente": "É preciso seguir com cautela no curto prazo para atingir as melhores perspectivas no longo prazo".
Em confinamento rigoroso desde o começo deste ano, o Reino Unido é também o país europeu mais avançado na vacinação. Quase 23 milhões de residentes já receberam a primeira dose de imunizante e 1,25 milhão já tomou as duas doses.
Número de hospitalizações, internações em UTI e mortes por Covid-19 têm caído desde meados de janeiro, e o governo começou a retomar as atividades com a reabertura das escolas, nesta segunda (8).
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