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Variante delta faz Europa temer "outono sombrio" e rediscutir restrições

Variante delta faz Europa temer "outono sombrio" e rediscutir restrições

Na previsão de especialistas, a variante delta pode ser responsável por 70% dos novos casos da Europa em agosto e 90% em setembro, tornando a próxima estação ainda mais sombria

Publicado em 21 de julho de 2021 às 16:02

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Pessoas usam máscara para se proteger do coronavírus em Milão, na Itália.
Pessoas usam máscara para se proteger do coronavírus em Milão, na Itália. (Mick De Paola/Unsplash )

As férias de verão europeu começam a esquentar, mas o continente "caminha sobre gelo fino", para usar a expressão escolhida pela primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, em referência à expansão da variante delta .

O mutante, cuja capacidade de infecção é no mínimo o dobro da do Sars-Cov-2 original, levou apenas um mês para se tornar dominante no Reino Unido, primeiro país da Europa a que chegou, em abril.

Em seguida, atravessou o canal da Mancha e hoje está em todos os países acompanhados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) na Europa.

Na previsão de especialistas, a variante delta pode ser responsável por 70% dos novos casos da Europa em agosto e 90% em setembro, tornando a próxima estação ainda mais sombria.

O risco é de "um ressurgimento mortal no outono" segundo o diretor regional da entidade, Hans Kluge. Ele aponta para a combinação entre uma variante mais contagiosa e a maior interação humana: 36 dos 53 países acompanhados pela entidade retiravam restrições no começo deste mês.

A liberação de viagens turísticas lotou aeroportos, aviões e trens, e grandes eventos voltaram a acontecer. Nas últimas duas semanas, o Festival de Cinema de Cannes reuniu 28 mil inscritos, sem contar os milhares de pedestres que se aglomeraram nas calçadas na esperança de ver celebridades.

De acordo com relatório divulgado nesta quarta (21) pela OMS, o número de novos casos no continente, que começou a subir na virada de julho, saltou 21% na última semana, embora o número absoluto esteja em patamar muito inferior ao do auge da pandemia.

Internações hospitalares e mortes continuam sob controle, mas Kluge diz que essa aparente bonança pode ser uma ilusão.

"Já estivemos aqui antes. No verão passado, os casos começaram a crescer entre os mais jovens e deles passaram aos mais velhos, levando a uma devastadora perda de vidas no outono e no inverno. Não podemos cometer esse erro novamente", afirmou.

O acesso a vacinas é uma diferença fundamental entre 2020 e 2021, mas a porcentagem de europeus completamente imunizados ainda está longe de oferecer segurança: na média, só 20% tomou todas as doses recomendadas.

"Vimos algumas evidências de escape imunológico, especialmente após apenas uma dose da vacina. Nossa avaliação é que isso representa um risco significativo em termos de transmissão na comunidade", disse a responsável por emergências da OMS-Europa, Katy Smallwood.

A atual situação do Reino Unido mostra que não é exagero. Nação europeia mais avançada na vacinação, o país já deu as duas doses a quase 70% de seus adultos. Ainda assim, tanto o número de casos quanto o de mortes está em alta desde que o governo começou a retirar restrições antipandemia.

Nas últimas quatro semanas, os diagnósticos semanais triplicaram entre os britânicos, e os óbitos mais que dobraram. O Reino Unido foi o vice-líder mundial nos novos casos semanais, com quase 300 mil e uma alta de 41%, bem perto da Indonésia, que passa por uma crise sanitária.

Apesar disso, o governo manteve o "Dia da Liberdade" nesta segunda, permitindo a reabertura praticamente total, inclusive de casas noturnas.

Na última semana, conselheiros científicos alertaram o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para o risco de que o NHS (sistema público de saúde) fique sobrecarregado até o final de agosto.

Nos cálculos dos cientistas, o ritmo atual da pandemia pode passar de cerca de 800 hospitalizações por dia a até 2.000 no final do próximo mês, com até 200 mortes diárias.

Enquanto o Reino Unido avança com sua reabertura, Grécia, Portugal, Espanha e França começam a reimpor restrições.

O caso mais gritante é o da Holanda, onde o número de novos casos diários se multiplicou por sete. No último sábado, o governo reimpôs um toque de recolher para coffee-shops e bares e proibiu o funcionamento de casas noturnas.

Boa parte de Portugal e a região espanhola da Catalunha também adotaram limites de horário para restringir a circulação noturna.

O uso obrigatório de máscaras e toques de recolher foram adotados no sudoeste francês e na Córsega, e o presidente Emmanuel Macron anunciou que seria obrigatório apresentar um certificado de vacinação completa para frequentar restaurantes, cafés, cinemas, teatros e shoppings, além de transporte coletivo.

As novas regras provocaram uma disparada nas reservas para aplicação de vacina, mas também uma onda de protestos nas ruas, e o governo pode ser forçado a reduzir multas e flexibilizar algumas limitações.

Mesmo na Alemanha, onde a pandemia está em ritmo muito mais lento, o Ministério da Saúde manteve a proibição de reuniões de mais de 10 pessoas para os não totalmente imunizados. O governo também afirmou que o levantamento de restrições em nível nacional dependerá do avanço na vacinação.

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