Vídeos e relatos colhidos pela agência de notícias afegã Asvaka mostram pessoas caindo de um Boeing C-17, da Força Aérea dos Estados Unidos, ao tentarem fugir de Cabul, capital do país, tomada ontem pelo grupo Talibã.
Por volta das 4h30 da manhã desta segunda-feira (16) (horário de Brasília; 12h no horário de Cabul), a agência veiculou, no Twitter, que "moradores próximos ao Aeroporto de Cabul afirmam que três jovens que se seguravam com força nos pneus de um avião caíram em cima de casas de pessoas".
Ainda de acordo com a agência, a queda "fez um barulho alto e assustador". Pouco tempo depois, a agência veiculou um vídeo do C-17 decolando e, em determinado momento, duas pessoas caindo da aeronave.
Em seguida, outros dois vídeos foram veiculados pela Askava. No primeiro, creditado a um jornalista de uma rádio persa nos Países Baixos, é possível ver afegãos se pendurando no avião da Força Aérea dos EUA enquanto ele começava a decolar.
Em outro, de outro ângulo — na pista do Aeroporto de Cabul —, é possível ver ao menos duas pessoas caindo do C-17, com diversas pessoas observando o fato.
Desde que o grupo fundamentalista islâmico tomou, sem resistência, o controle de Cabul, o caos se instaurou no aeroporto da capital do Afeganistão. Ainda não há um balanço oficial, mas há relatos de que, nesta segunda-feira, de três a cinco pessoas morreram em meio a um tumulto no Aeroporto de Cabul, tomado por pessoas em busca de sair do país.
Por ora, o Taliban não obteve o controle do aeroporto, que tem sido a única porta de entrada e de saída do país. Nesta segunda-feira, militares dos Estados Unidos suspenderam as operações aéreas no local.
Os voos comerciais foram cancelados, e apenas viagens militares ocorreram no local. "Por favor, não venha para o aeroporto", disse uma autoridade do aeroporto.
Durante o tumulto, tropas dos EUA, que estavam no aeroporto para ajudar os cidadãos americanos a embarcarem, atiraram para o alto. "A multidão estava fora de controle", afirmou um oficial à Reuters. "O disparo foi feito apenas para neutralizar o caos."
Entre domingo e segunda, voos comerciais foram suspensos e grandes companhias aéreas, entre elas a Emirates e a United Airlines, anunciaram que, por enquanto, vão evitar o espaço aéreo afegão.
A formação do Talibã remonta aos anos 90, quando mujahideens afegãos e guerrilheiros islâmicos se uniram para combater a ocupação soviética no Afeganistão. A própria CIA (Agência de Inteligência Central) dos Estados Unidos é apontada como uma das apoiadoras da formação do grupo na época.
Entre 1992 a 1996, os combatentes lutaram contra outros grupos mujahideens rivais, até a tomada de Cabul, do então presidente Burhanuddin Rabbani. A partir de então, o grupo controlou 90% do país até 2001.
A queda se deu na esteira dos atentados de 11 de setembro nos EUA. Na época, o governo americano enfrentava outro grupo extremista, a Al-Qaeda, do então líder Osama bin Laden.
Em 1999, o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) adotou uma resolução que vinculou Al-Qaeda ao Talibã como entidades terroristas e impôs diversas sanções contra os grupos.
Em 11 de setembro de 2001, membros da Al-Qaeda sequestram quatro aviões, jogando dois no World Trade Center em Nova York, um no Pentágono em Washington DC e o último em um campo em Shanksville, na Pensilvânia.
O então presidente americano, George W. Bush, declarou "guerra ao terror", prometendo caçar Osama bin Laden no Afeganistão. O republicano falou diretamente ao Talibã, ao pedir que o grupo "entregasse às autoridades dos Estados Unidos todos os líderes da Al-Qaeda que se escondem em sua terra", ameaçando com "o mesmo destino" a eles, caso não o fizessem.
Suspeitando que o Talibã estivesse abrigando Bin Laden, forças americanas e britânicas bombardearam o país em outubro do mesmo ano. Logo em seguida, em uma incursão terrestre, forçaram a retirada dos talibãs das grandes cidades. Bin Laden, no entanto, conseguiu fugir. A ONU convidou depois as principais facções afegãs para formarem um governo provisório.
O grupo se refugiou nas fronteiras do país com o Paquistão e passou os últimos 20 anos buscando formas de retomar o poder.
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