Um homem sacou uma arma nesta quarta-feira (6) após uma briga em Raleigh, no estado americano da Carolina do Norte, e os tiros mataram seu filho - um bebê de dois anos - e um outro homem, de 27, além de ferir a tia da criança. No mesmo dia, na Filadélfia, um homem disparou mais de dez vezes para matar uma pessoa. Pouco depois, na mesma cidade, outro ataque a tiros matou mais uma pessoa.
Na terça (5), os EUA registraram dezenas de crimes do tipo. Na segunda (4), feriado da independência do país, ocorreu o último grande ataque em massa: um homem abriu fogo de cima de um telhado contra uma multidão e matou sete pessoas, além de ferir mais de 40, em Highland Park, na região de Chicago.
Os registros constam no monitoramento do Gun Violence Archive (GVA), que acompanha a violência armada nos EUA desde 2013. Os dados da ONG apontam que, só neste ano, 10.260 pessoas foram mortas por armas de fogo no país, ou uma pessoa a cada 26 minutos nos primeiros 186 dias do ano. É um número que vem aumentando ano após ano. Em 2014, foram 12.352. Em 2021, 20.944. Assim como o total de vítimas, também cresce a cada ano o número de feridos a tiros: 86% de 2014 a 2021.
Ainda que em alta, os números de mortes por arma de fogo estão abaixo dos registrados no Brasil, um dos países mais violentos do mundo, em que mais de 36 mil pessoas foram assassinadas com tiros no ano passado, de acordo com os dados mais recentes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Mas o assunto tem repercutido mais nos EUA devido à alta dos ataques em massa, definidos pelo GVA como casos em que quatro ou mais pessoas são mortas ou feridas, como no episódio em Illinois. Só neste ano já houve 320 incidentes do tipo, mais de 12 por semana, em mais uma estatística em alta: em todo o ano de 2021, foram 692 ocorrências, contra 272 em 2014, segundo o monitoramento da ONG.
Os ataques em massa têm provocado consternação no país, sobretudo após dois massacres em maio: um atentado com motivação racista em Buffalo, no estado de Nova York, que matou dez pessoas negras; e o ataque a uma escola infantil em Uvalde, no Texas, que deixou 19 crianças e duas professoras mortas.
Sempre que ocorrem episódios do tipo, volta ao debate público a discussão sobre a facilidade no acesso a armas de fogo nos Estados Unidos. O atirador de Highland Park, que matou sete pessoas no 4 de Julho, tinha cinco armas, incluindo fuzis e revólveres, todas compradas legalmente.
O tema divide a sociedade americana, tanto eleitores como políticos: republicanos defendem restrições mínimas à compra e à posse de armas, enquanto democratas apoiam aumentar o controle.
O presidente Joe Biden, um democrata, propôs a proibição da venda de armas semiautomáticas com cartuchos de alta capacidade e o aumento da idade mínima para a compra desses armamentos, de 18 para 21 anos. Ele não conseguiu avançar com os projetos e ainda sofreu reveses: no fim de junho, a Suprema Corte, de maioria conservadora, decidiu que o porte de armas em público não pode ser restringido por leis estaduais, abrindo espaço para que mais pessoas armadas circulem pelas ruas.
Por outro lado, após os massacres de maio, republicanos e democratas chegaram a um acordo e aprovaram um pacote de medidas que inclui a ampliação da checagem de antecedentes de compradores de armas de fogo e mais recursos federais a programas de saúde mental.
Ainda que as medidas sejam consideradas tímidas para frear o aumento da violência armada no país, o acordo foi celebrado como a maior reforma na legislação sobre o tema em três décadas. Após o ataque em Illinois, Biden exaltou o pacto, "que inclui ações que salvarão vidas". "Mas ainda há muito trabalho a fazer, e eu não vou desistir de lutar contra a epidemia da violência armada", afirmou o democrata.
Além dos dados do Gun Violence Archive, números do FBI, a polícia federal americana, apontam na mesma direção. Os dados mais recentes, de 2020, contavam 21,5 mil assassinatos (com todos os tipos de armas, incluindo facas e outras armas brancas), o pior ano da violência em mais de 20 anos, desde 1998.
Ao longo do tempo, a distribuição geográfica da violência mudou. Cidades que antes concentravam a maior parte dos crimes violentos do país, como Nova York e Los Angeles, tornaram-se mais seguras a partir dos anos 1990. Por outro lado, regiões no interior, como Albuquerque (Novo México), Memphis (Tennessee), Milwaukee (Wisconsin) e Tulsa (Oklahoma), bateram recordes históricos de assassinato.
Proporcionalmente em relação à população, o estado da Luisiana registrou os níveis mais altos de homicídio, de acordo com os números do FBI.
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