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Vórtice polar: o que é o fenômeno que derrubou as temperaturas nos EUA e congelou a costa leste

Vórtice polar: o que é o fenômeno que derrubou as temperaturas nos EUA e congelou a costa leste

Vórtice polar é um fenômeno climático que ocorre o tempo todo: são ciclones que se formam nos polos, na região da média e da alta troposfera e da estratosfera. Esses ciclones permanentes ficam mais fortes e mais amplos durante o inverno, e perdem a força no verão.

Publicado em 7 de janeiro de 2025 às 07:44

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Imagem BBC Brasil
Em Washington, houve um acúmulo de 13 a 23 cm de neve. (Reuters)

Pelo menos seis pessoas morreram em uma tempestade de inverno que tomou conta de uma parte dos Estados Unidos e levou ao fechamento em massa de escolas, caos nas viagens e cortes na rede de eletricidade.

Sete Estados dos EUA declararam situação de emergência: Maryland, Virgínia, Virgínia Ocidental, Kansas, Missouri, Kentucky e Arkansas.

Mais de 2,3 mil voos foram cancelados, com quase 23 mil atrasos também relatados devido ao clima extremo relacionado a um fenômeno chamado vórtice polar (entenda mais sobre ele a seguir).

Cerca de 190 mil pessoas estão sem eletricidade nesta terça-feira (7/1) em todos os Estados que estão no caminho da tempestade.

Neve e granizo devem continuar a cair durante o dia em grande parte do nordeste dos EUA, de acordo com o Serviço Nacional de Clima (NWS, na sigla em inglês).

Quando a chuva se dissipar por uma área maior do país, espera-se que o ar frio do Ártico mantenha as condições geladas na América do Norte por mais algumas semanas.

Em Washington — onde aconteceu na segunda-feira (6/1) a reunião para certificar a vitória de Donald Trump na eleição de novembro — houve um acúmulo de 13 a 23 cm de neve.

A ex-esquiadora olímpica americana Clare Egan foi encontrada praticando esqui cross-country no National Mall, a via central da capital dos EUA.

Ela disse à Associated Press que pensava que seus "dias de esqui talvez estivessem para trás", depois de se mudar para a cidade.

As crianças, que deveriam voltar às aulas na segunda-feira após as férias de inverno, aproveitaram um dia de neve enquanto os distritos escolares estavam fechados de Maryland até o Kansas.

Em outras partes dos EUA, a tempestade de inverno trouxe condições perigosas nas estradas.

No Missouri, a patrulha rodoviária do Estado disse que pelo menos 365 pessoas sofreram acidentes no domingo (5/1), o que deixou dezenas de feridos e pelo menos um morto.

No Kansas, um dos locais mais atingidos, as notícias relataram que duas pessoas morreram em um acidente de carro durante a tempestade.

Na cidade de Houston, no Texas, uma pessoa foi encontrada morta por causa do frio em frente a um ponto de ônibus na manhã de segunda-feira, divulgaram as autoridades.

Na Virgínia, onde 300 acidentes de carro foram relatados após a meia-noite de segunda-feira, as autoridades pediram que os moradores evitem dirigir em grandes partes do Estado.

Pelo menos um motorista morreu, de acordo com relatos da mídia local.

Matthew Cappucci, meteorologista sênior do aplicativo MyRadar, disse à BBC que Kansas City viu a neve mais pesada em 32 anos.

Algumas áreas perto do rio Ohio se transformaram em "pistas de patinação" com as temperaturas gélidas, acrescentou ele.

"Os arados estão presos, a polícia está presa, todo mundo está preso. Portanto, fique em casa", orientou.

Imagem BBC Brasil
A onda de frio também é resultado de outro fenômeno que ocorre no alto da atmosfera: a corrente de jato polar, um fluxo forte e concentrado de ar em uma direção específica. (Reuters)

O que é o vórtice polar

O vórtice polar é um fenômeno climático que ocorre o tempo todo: são ciclones que se formam nos polos, na região da média e da alta troposfera (região mais baixa da atmosfera) e da estratosfera.

Eles se mantêm em diferentes velocidades — e graças a eles o ar frio permanece sobre os polos.

Esses ciclones permanentes ficam mais fortes e mais amplos durante o inverno, e perdem a força no verão.

Segundo especialistas, múltiplos fatores climáticos podem fazer com que esse ar acabe liberado, desça em direção ao sul e vá para camadas inferiores da atmosfera.

O resultado é o atual quadro de frio intenso que assola a América do Norte, que ganhou o nome de tempestade Blair.

Em partes do Canadá, foram registradas temperaturas de -40 °C.

A onda de frio também é resultado de outro fenômeno que ocorre no alto da atmosfera: a corrente de jato polar, um fluxo forte e concentrado de ar em uma direção específica.

Isso é o que impulsiona a forte frente fria e faz com que áreas de baixa pressão se movimentem.

Esses sistemas de baixa pressão produziram as grandes nevascas dos últimos dias. Mas, atrás dessas áreas de baixa pressão, vem o ar frio de verdade: os ventos glaciais que trazem as baixas temperaturas do polo norte.

A força do vento combinada com o ar extremamente frio é que causa os problemas que acontecem nessas ocasiões.

A previsão é que essa massa de ar frio que vem do Ártico siga para o sul, atravesse grande parte do país durante a próxima semana, e chegue até a Costa do Golfo.

O fenômeno acontece com certa frequência no inverno do hemisfério norte. Em 2014, mais de cinco mil voos foram cancelados e ao menos 16 pessoas morreram em uma onda de frio congelante no meio-oeste dos Estados Unidos.

Em 2019, o vórtice polar deixou dezenas de milhões de pessoas abaixo de 0 ºC na mesma região.

Imagem BBC Brasil
Neve e granizo devem continuar a cair durante o dia em grande parte do nordeste dos EUA, de acordo com o Serviço Nacional de Clima. (Reuters)

A culpa é das mudanças climáticas?

O meteorologista Simon King, apresentador da BBC, explica que é bem incomum ver uma tempestade de inverno tão grande nos EUA e com temperaturas tão abaixo da média, tão ao sul.

Segundo ele, mesmo em alguns Estados nas Planícies Centrais, no fim de semana, houve de 30 a 38 centímetros de neve — a mais pesada nevasca da última década.

King destaca que, embora exista um aquecimento global geral, há algumas áreas, como as regiões do Ártico, que estão esquentando mais rápido do que o resto do globo.

Algumas pesquisas sugerem que a diferença na mudança de temperatura provavelmente enfraquecerá ainda mais o Vórtice Polar e, portanto, resultará em mais interrupções, permitindo que o ar frio do Ártico seja deslocado para latitudes mais baixas.

Então, embora muitos possam pensar que em um mundo em aquecimento não haverá tempestades de inverno, esse não é necessariamente o caso.

Ainda que as temperaturas médias geralmente aumentem nos Estados, haverá esses períodos curtos, mas potencialmente severos, de inverno intenso, pontua o meteorologista.

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