As Olimpíadas são o maior evento esportivo do mundo. A cada quatro anos, os olhos dos amantes do esporte permanecem fixamente voltados para os atletas mais rápidos, fortes e habilidosos do planeta, que conquistaram com suor a tão sonhada vaga olímpica. Muitos deles terão, em Tóquio, a oportunidade de fazer sua primeira aparição no palco mais nobre do esporte.
Os Jogos, porém, não dão a oportunidade apenas aos atletas de estrearem em Olimpíadas. A cada ciclo, novos esportes podem ser acrescentados - mesmo que apenas para a edição em questão - e ganham a chance de terem espaço no rol de modalidades olímpicas.
No caso de Tóquio, serão muitas novidades. Caratê, escalada esportiva, surfe e skate farão sua primeira aparição em Olimpíadas. Além disso, alguns esportes retornam após um tempo de fora. O beisebol e o softbol terão atletas no Japão depois de 13 anos sem aparecer nos Jogos.
Por fim, Tóquio também terá novas categorias de esportes que os fãs já estão familiarizados. O basquete 3x3, variação disputada por trios e em meia quadra, e o BMX freestyle, que são as competições de manobras livres de bicicletas. As Paralimpíadas também terão novidades: foram incorporados o taekwondo e o badminton para a edição de Tóquio.
Aqui, vamos focar nos quatro esportes que estarão nos Jogos Olímpicos pela primeira vez: caratê, escalada esportiva, surfe e skate. Estes dois últimos, inclusive, reúnem 16 atletas brasileiros e representam grandes chances de medalhas para o país.
A estreia do caratê nos Jogos Olímpicos de Tóquio é emblemática. O esporte foi criado em meados do século XVII em Okinawa, arquipélago com mais de 150 ilhas no oceano pacífico e que faz parte do território nipônico. Nos anos 1920, o esporte ganhou o território japonês e, nas décadas de 1980 e 1990, se popularizou e se espalhou pelo mundo.
Foi nessa época que teve início uma reformulação da modalidade para aproximar a arte marcial do esporte. O diretor técnico da Federação de Caratê do Espírito Santo e técnico da seleção brasileira sub-21, Carlos Alberto Alves, explicou que a evolução da metodologia da luta culminou na realização do sonho de estar nas Olimpíadas.
"O método do caratê hoje tem o foco de ser esporte olímpico, os jovens acabam vindo para essa área por ser um esporte voltado a ser olímpico. Era um sonho desde os anos 1990 e ainda é o sonho de todo o praticante ter o caratê nos Jogos Olímpicos, que é um dos maiores eventos do mundo. Só em ter o caratê nos Jogos Olímpicos, independentemente do Brasil estar lá ou não, já tem uma importância grande", disse.
Em Tóquio, o caratê será disputado em duas categorias. O kata, que em japonês significa "forma", consiste em uma espécie de luta imaginária, na qual o atleta desfere combinações de golpes como socos e chutes entre 102 formas reconhecidas. Sete juízes avaliam aspectos como força, equilíbrio, velocidade e ritmo e atribuem notas.
Na outra categoria, o kumite, cuja tradução é "luta com mãos", dois lutadores disputam em uma área demarcada por três minutos. Os golpes acertados valem três pontos e vence aquele que atingir primeiro uma vantagem de oito pontos ou o que obtiver a pontuação mais alta ao final do período. Em casos de empates, leva a disputa quem pontuou primeiro, ou, se o placar permanecer zerado por toda a luta, há uma avaliação dos juízes para definir o vencedor.
Para Carlos Alberto, a partir da inclusão nos Jogos Olímpicos, mesmo que seja apenas na edição de Tóquio, representará um crescimento para o esporte. Isso, segundo ele, não apenas entre os jovens que buscam se tornarem atletas de alto nível, mas em todas as faixas etárias como uma forma de manter a saúde física e mental em dia.
"A tendência é o esporte crescer. Com certeza, a partir dos Jogos Olímpicos, o caratê vai evoluir mais, a procura vai ser maior. Não só nos jovens, mas pessoas da terceira idade vão querer praticar o esporte como forma de manter a saúde. As confederações vão fazer um trabalho forte, correr atrás de apoio e trabalhar em cima de atletas, temos uma geração boa. O trabalho vai continuar e o crescimento vai acontecer", afirmou.
Nascido em meio à natureza, a escalada esportiva ganhou a chance de conquistar seu lugar no panteão de esportes olímpicos nesta edição. É uma modalidade exigente, que requer esforço físico e até malabarismo dos atletas. No Brasil, começou a ser praticada com viés esportivo no ano de 1912, com a conquista do Dedo de Deus, na Serra dos Órgãos, que fica no Rio de Janeiro. Já no Espírito Santo, em 1947, com a conquista do Pico do Itabira, em Cachoeiro de Itapemirim.
Um dos expoentes capixabas da modalidade é Oswaldo Baldin. O escalador explicou que a inclusão nos Jogos Olímpicos representa um momento único para o esporte, uma vez que permite maior visibilidade de um esporte que é praticado há muitos anos. Ele também ressaltou que, em Tóquio, foi adotada a escalada indoor, ou seja, praticada dentro de um ambiente montado.
"É um momento único, inédito e aclamado por muita gente, principalmente os atletas que praticam a escalada de forma competitiva. É um esporte muito completo e com muitas vertentes e forma de se praticar. A escalada nas Olimpíadas é uma vertente da escalada competitiva que já existia há muitas décadas. À nível de competitividade, é um momento muito importante para a visibilidade do esporte, para esses atletas e para essa modalidade, que é a escalada indoor", destacou.
Oswaldo explicou que, nas Olimpíadas, a escalada será disputada em três categorias diferentes. Apesar das especificidades e diferenças entre os três tipos, cada atleta terá que realizar provas de todas as categorias, o que, segundo Oswaldo, não foi tão bem aceito entre a comunidade da escalada e representou um desafio maior na preparação de cada um dos competidores.
"A escalada em bouldering, que é escalar pequenas paredes, só que são paredes completamente negativas, exigentes atleticamente. A escalada guiada, que são paredes maiores, que tem que escalar com corda em vias geralmente negativas e tetos, envolve muita dificuldade atlética. E a escalada de velocidade, que é menos popular entre os escaladores competitivos, mas que as olimpíadas exigiram, que é puramente na velocidade e sem muita técnica. Os atletas aclamavam por competir de forma independente, porque tem atleta que é especialista só em bouldering, tem atleta que é especialista só em escalada guiada. Então, juntar tudo foi um desafio muito grande para esses atletas, para se prepararem, porque a maioria não fazia as três coisas. Foi um desafio extra", detalhou.
O Brasil já conta com expoentes do surfe mundial, como Adriano Mineirinho, Ítalo Ferreira, Gabriel Medina e Tatiana Weston-Webb. A talentosa geração canarinha ganhou o apelido de Brazilian Storm, ou seja, a Tempestade Brasileira, que conquistou quatro titulos da WSL, o circuito mundial, na última década.
As esperanças de medalhas brasileiras no surfe ficam por conta de Gabriel Medina e Ítalo Ferreira no masculino e Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima no feminino. Os atletas terão a missão de desbancar países que historicamente possuem grande tradição no esporte, como os Estados Unidos, a Austrália e a África do Sul.
As provas serão disputadas em formato de baterias, cada uma com 30 minutos de duração e com quatro a cinco atletas disputando as ondas simultaneamente. A classificação é conquistada a partir da somatória das notas referentes às duas melhores ondas surfadas. Os avaliadores analisam dificuldade do movimento, variedade das manobras e velocidade de execução, entre outros fatores.
Criado na Califórnia, estado na Costa Oeste dos Estados Unidos, nos anos 1940 por surfistas que queriam trazer a adrenalina do mar para as ruas nos períodos de ondas pequenas, o skate rapidamente se popularizou pelo mundo e ganhou principalmente o público jovem. Foi incorporado para as Olimpíadas de Tóquio em meio a polêmicas, como o uso recreativo de maconha, popular entre os praticantes.
Das 80 vagas destinadas ao skate em Tóquio, o Brasil conta com 12 representantes, o que aumenta as chances de medalha. A principal esperança é Letícia Bufoni, que é um dos maiores nomes do esporte mundial. Klevin Hoefler e Rayssa Leal, de apenas 12 anos, são outros destaques brasileiros.
Serão duas categorias. A street, ou "rua", em português, que simula uma via pública com obstáculos como escadas, rampas e corrimões. Os atletas devem realizar manobras que são avaliadas conforme critérios como originalidade e velocidade. Os competidores têm sete tentativas e classificam-se aqueles com maior somatória das notas adquiridas.
A outra categoria, chamada de "park" (parque, na tradução do inglês), consiste em uma pista em formato de piscina arredondada. Os competidores devem realizar manobras, podendo chegar a mais de três metros do chão. Serão três tentativas e as manobras serão avaliadas, com os melhores avançando de fase.
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