A luta entre a italiana Angela Carini e a argelina Imane Khelif, válida pela primeira rodada da categoria até 66kg do boxe feminino nas Olimpíadas de Paris, durou apenas 45 segundos.
Carini foi atingida por um golpe no rosto logo no início e se dirigiu ao corner para arrumar o capacete, mas abandonou a luta na sequência. A italiana revelou um problema anterior no nariz e descartou que a decisão tenha relação com a polêmica envolvendo a adversária.
”Eu entrei no ringue e tentei lutar. Eu queria ganhar. Recebi duas injeções no nariz e não estava conseguindo respirar. Isso me fez muito mal”, disse Carini.
Assim que o árbitro decretou a vitória de Imane Khelif, Carini se recusou a cumprimentar a adversária e, ainda no ringue, não segurou as lágrimas.
A luta esteve envolvida em uma polêmica antes mesmo de ser iniciada. Isso porque Imane Khelif foi autorizada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) a participar dos Jogos Olímpicos mesmo depois de ter sido reprovada em testes de gênero.
No Mundial de Boxe do ano passado, realizado na Índia, Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting - que também vai disputar as Olimpíadas - foram desclassificadas pela Associação Internacional de Boxe (IBA) após a realização de testes de DNA. O presidente da entidade Igor Kremlev disse que “elas tinham cromossomos XY”.
”Não sou ninguém para julgar e não tenho nada contra minha adversária. Eu tinha uma tarefa e tentei executá-la. Tudo o que aconteceu antes do jogo não teve absolutamente nenhuma influência”, garantiu Carini.
O governo italiano, através da Ministra da Família, Eugenia Roccella, classificou como “muito preocupante saber que duas pessoas transgênero foram admitidas nas competições de boxe feminino”.
”É muito preocupante saber que duas pessoas transgênero foram admitidas nas competições de boxe feminino, homens que se identificam como mulheres e que, em competições recentes, foram excluídas. É surpreendente que não existam critérios certos, rigorosos e uniformes, e que precisamente nos Jogos Olímpicos, que simbolizam a lealdade, possam haver suspeitas de uma competição desigual e até potencialmente arriscada”, afirmou Roccella.
A estreia da taiwanesa Lin Yu-ting na categoria até 57kg será nesta sexta-feira, 2, contra Sitora Turdibekova, do Usbequistão.
Khelif, porém, nasceu menina e cresceu mulher cis - identificada com o gênero atribuído a ela quando nasceu. Na infância, inclusive, criada em uma vila rural, não pôde participar de esportes porque o pai "não aprovava boxe para meninas". Não se trata, portanto, de uma questão de atleta transgênero. Algo que o próprio COI faz questão de ressaltar.
"Elas perderam e venceram contra outras mulheres através do tempo e precisamos deixar muito claro, isto não é uma questão transgênero. Sei que sabem disso, mas houve alguns erros de reportagem, é muito importante dizer que não é uma questão de transgêneros", salientou o porta-voz do COI, Mark Adams.
"Muitas mulheres podem ter testosteronas em níveis chamados de "masculinos" e ainda serem mulheres, ainda podem competir como mulheres, complementou.
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