Érica Sena, da marcha atlética, "bateu na trave" em muitas oportunidades. Depois de três quartos lugares em Mundiais e um bronze no Pan-Americano de Lima, em 2019, a brasileira fazia uma ótima prova em Sapporo rumo à medalha de bronze nas Olimpíadas de Tóquio-2020, mas, a menos de um quilômetro do fim da prova, ela sofreu uma punição, e ficou sem medalha.
Na marcha atlética, os pés dos atletas não podem perder o contato com o solo. Quando isso acontece, é a chamada flutuação. Érica vinha em terceiro lugar, e já tinha duas punições. Perto da linha de chegada, ela foi advertida pela terceira vez e, assim obrigada a fazer uma parada de dois minutos que fez com que sua vantagem ruísse. Ela acabou na 11ª colocação.
"Foram os dois minutos mais longos da minha vida. Infelizmente aconteceu, era algo que não esperava. Nenhum atleta conta com isso, mas aconteceu, e agora é bola para frente. É assumir o erro, trabalhar em cima disso e melhorar", disse, em um vídeo publicado no Instagram.
Ela esclareceu que não tentou ultrapassar uma atleta da Colômbia que sustentava a segunda colocação, mas, sim, se distanciar da chinesa, uma das campeãs mundiais da modalidade.
"Muita gente achou que eu recebi a terceira plaquinha porque eu quis arriscar uma prata, e, na verdade, não foi assim. Durante a competição, as três atletas, tanto a colombiana, tanto eu quanto a chinesa estávamos com duas advertências, as três já estavam assustadas, com medo de acontecer o que aconteceu comigo", afirmou.
"Minha ideia, faltando duas voltas, era acelerar um pouco para garantir o bronze, deixar a chinesa para trás. Mas como a colombiana estava assustada, ela freou um pouco, diminuiu o ritmo, e, em consequência, eu acelerei para deixar a chinesa. Quem me conhece, sabe que eu venho batendo na trave em muitos anos, em campeonatos de atletismo muitas vezes em quarto lugar, então a gente sempre saía com esse gostinho, e, nessa competição, eu queria fazer diferente. Jogos Olímpicos dão um gostinho diferente, tiram o gás de onde não tem para conseguir a medalha."
Apesar de não questionar a decisão dos juízes, Érica disse acreditar que uma decisão baseada apenas na visão humana facilita que injustiças sejam cometidas na modalidade. Ela contou que há uma tecnologia em desenvolvimento para mitigar eventuais erros.
"O atleta do meu nível, quando comete essas faltas, não sabe que está cometendo. O julgamento é através dos árbitros que estão no circuito, e nós achamos totalmente injusto. Estão tentando desenvolver um chip para colocar no tênis e medir a elevação dos atletas. Seria a única alternativa para que essa prova não seja injusta. Da forma que é, ela sempre vai ser injusta. Quando é o ser humano que julga, ele sempre deixa a desejar."
Passados apenas dois dias desde a decepção na prova, ela fez um balanço positivo da participação olímpica, já pensa no próximo ciclo, com a preparação para Paris-2024.
"Saber que a gente pode brigar de igual para igual com essas atletas... Quem conhece a marcha atlética sabe que a chinesa que estava atrás de mim é a atual campeã olímpica, atual campeã do mundo, não era qualquer atleta, era por isso que eu tinha que tomar uma decisão naquele exato momento. Dei tudo de mim naquela prova. Ficou a minha alma, o meu suor, todo meu trabalho naquela competição", contou.
"Foram dias difíceis, dias superados. Cheguei nos Jogos, fiz minha participação, quase que a gente realiza um sonho. Perder uma medalha olímpica dói muito. É difícil de aceitar e acreditar, mas vamos continuar firme, trabalhando. O sonho continua, e, se Deus quiser, na próxima competição será diferente", concluiu.
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