Classificado para três provas da natação em Tóquio, Guilherme Costa, 23, tinha uma ordem de preferência. Nadar primeiro os 400 m livre, depois os 800 m e por último os 1.500 m. Quando foi definido o programa olímpico, ele descobriu que vai estrear nos 400 m, em seguida terá os 800 m e no final disputará os 1.500 m. Exatamente como queria.
"A ordem ficou muito boa para mim porque minha principal prova vai ser no primeiro dia. Acho que o desgaste, desse jeito, não vai ser um problema", avalia o nadador à reportagem.
O "primeiro dia" mencionado é este sábado (24), quando ele cai na piscina para as eliminatórias dos 400 m livre. Na seletiva da natação brasileira, em abril, Guilherme fez o 14º melhor tempo do mundo da prova no ano, com 3min45s85. Quando o obteve, era o sétimo. Ele vê possibilidade de medalha com melhora nessa marca, com a qual quebrou os recordes brasileiro e sul-americano.
Apesar de dizer que o desgaste não será um problema, o nadador, que tem o apelido de Cachorrão, reconhece que disputar três competições olímpicas poderá levá-lo ao limite físico. Mas o brasileiro acredita que sua primeira participação olímpica faz parte de uma missão. Ele quer criar um movimento para que o país tenha mais competidores em provas mais longas.
O próprio Guilherme começou no nado de velocidade, que ainda vê como a preferência dos garotos que estão dando as primeiras braçadas no esporte.
"Eu sinto que tenho esse dever. No Brasil, a cultura é bem maior das provas de velocidade, em detrimento das de fundo e meio fundo, as que eu nado. Tenho certeza de que, se eu conseguir medalha em prova longa, isso vai mudar. E tem de mudar. O Brasil é um país muito grande. Não tem motivo para focar apenas um tipo de prova. A gente pode ter grandes resultados em todas", afirma.
Das 14 medalhas olímpicas conquistadas pela natação brasileira, dez foram em distâncias entre 50 m e 200 m. No nado medley, que mistura os quatro estilos, Ricardo Prado e Thiago Pereira foram prata (em Los Angeles-1984 e Londres-2012, respectivamente). Poliana Okimoto ficou com o bronze na maratona aquática de 10 km na Rio-2016.
A única conquista do país na história dos Jogos que se encaixa na descrição feita por Guilherme Costa é a de Testsuo Okamoto, bronze em Helsinque-1952. As referências nacionais recentes da modalidade são atletas de velocidade: Cesar Cielo, Gustavo Borges e Fernando Scherer.
"Eu me sinto pronto para um resultado histórico. Estou muito bem e não acho que precise de muito mais coisa [para chegar à medalha]. Esta é a data ideal das Olimpíadas para mim. Eu sinto que é o meu momento e posso fazer coisas grandes. Principalmente nos 400 m, que é uma prova aberta, há muita gente com chances de medalhas", analisa.
As melhores marcas de 2021 na prova são de dois australianos. Jack McLoughin cravou 3min42s65 na classificatória do país e foi seguido por Elijah Winnington, que fez 3min43s27.
O brasileiro considera que poderia ter tido um tempo ainda melhor na classificação, não fossem os contratempos enfrentados. Um primo que estava em sua casa teve teste positivo para Covid-19 dias antes da seletiva, e Guilherme teve de se isolar em um hotel.
"O mais difícil foi pensar que meus pais poderiam também estar infectados. Tentei tirar isso da minha cabeça, até porque não havia nada que eu poderia fazer. Meus testes deram negativo, mas fiquei com muito medo de dar positivo e não poder nadar na seletiva", confessa.
Os 400 m são a prova em que ele mais aposta, mas isso não significa que ela seja a única à qual esteja dedicado. No Pan-Americano de Lima, em 2019, o nadador foi o primeiro brasileiro ouro nos 1.500 m desde 1951.
Uma das palavras que Guilherme mais usa é "pronto". Está pronto para as Olimpíadas. Pronto para buscar a medalha. Pronto para nadar três provas que não são de curta distância. Pronto para o desgaste físico que, ele reconhece, será grande.
"Estou só esperando chegar o meu momento e estar pronto para mostrar minha melhor versão. Tenho mentalizado a prova perfeita, os movimentos que tenho de fazer. É só nisso que penso."
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