A pandemia de Covid-19 impactou diversos setores da sociedade, e a educação não ficou de fora. Escolas fecharam as portas, professores trocaram os quadros pelas telas e os alunos levaram a sala de aula para dentro de casa, forçando todos os envolvidos na educação de crianças e adolescentes, mesmo os pais, a rever rotinas e processos.
Foi necessário criar novos espaços de aprendizagem e metodologias de ensino. Muito se fala, com razão, dos prejuízos provocados pela necessidade do isolamento social aos estudantes e, é claro, dos enormes obstáculos a milhares de alunos que não dispunham de internet, dispositivos ou mesmo infraestutura para estudar em casa.
Tanto os problemas quanto as inovações desse período, que ainda não acabou, deixaram importantes lições. “Vi trabalhos muito potentes sendo realizados, que oportunizaram um espaço mais coletivo. Isso nos instiga a repensar a forma como ensinamos e aprendemos”, destaca o secretário de Educação do Espírito Santo, Vitor de Angeli.
A pandemia também acelerou a transformação digital nas escolas. Se em algumas as atividades on-line já eram uma realidade, na maioria delas computadores, internet e metodologias híbridas de ensino ainda engatinhavam. Isso quando não passavam de mera promessa.
Nas instituições de ensino particulares do Espírito Santo, houve um intenso trabalho de readequação para manter as escolas operando e garantindo, assim, a educação dos alunos. "Evoluímos anos em meses, com garantias como o ensino híbrido – que mescla o aprendizado em sala de aula com ensino remoto e é uma forte tendência educacional", afirma o presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Estado do Espírito Santo (Sinepe/ES), Moacir Lellis.
O movimento dos quadros para as telas levou muitas redes de ensino a repensar o uso de tecnologias, como foi o caso do Marista. “Não tentamos transpor o que havia no ambiente presencial, mas pensamos em como as ferramentas poderiam ser utilizadas respeitando as especificidades daquele momento e dos alunos”, conta o analista de tecnologia educacional, Kledson Abílio de Souza.
No cômputo geral até o momento, muito embora o convívio social tenha sido comprometido, as relações se estreitaram dentro do ambiente escolar. E o que antes era uma dificuldade para as escolas, acabou virando um trabalho em conjunto. “Criamos uma grande comunidade no WhatsApp. Esses grupos nos permitiram ter mais mais acesso aos pais e trazê-los para dentro da escola”, afirma Josemaria Soares, que atua como diretora da Escola Estadual Teotônio Brandão Vilela, em Cariacica.
Ainda que tenha sido um período desafiador, o vice-presidente do Sinepe/ES, Eduardo Costa Gomes, acredita que o resultado é positivo para o segmento educacional. “É certo que estamos mais fortes e mais bem preparados para qualquer tipo de situação. É lógico que não podemos tirar de cena a gestão de saúde. Com isso, precisamos reforçar ainda mais a ideia de prevenção dentro e fora das escolas”, enfatiza.
A educação não é e nunca será a mesma depois da pandemia. Mas o que fica de lição para o futuro? A seguir, confira uma lista de seis fatores que, na opinião dos especialistas consultados pela reportagem, devem ser o dever de casa dos educadores e responsáveis a partir de agora:
Ao trazer a sala de aula para dentro de casa, muitas famílias se aproximaram desse ambiente escolar, antes restrito a conversas com professores e reuniões de pais e mestres. Os responsáveis pelas crianças tiveram a oportunidade de acompanhar de perto as necessidades dos filhos e “se colocar no lugar dos professores”. Com a troca de saberes e experiências, os alunos só têm a ganhar e, com eles, também a educação no país.
A tecnologia mostrou-se indispensável na pandemia, mas também expôs barreiras de acesso dentro da comunidade escolar. Ficou clara a necessidade de inclusão digital, principalmente na educação pública, para permitir que novas ferramentas de aprendizagem sejam exploradas. Esse caminho é indispensável não apenas para a vida escolar, mas também para o percurso profissional e a formação cidadã dos estudantes.
Na visão de educadores, o convívio social mostrou-se irrevogável para a vida dos estudantes. Mesmo sem a possibilidade de encontros presenciais, a troca de experiências ganhou valor dentro do ambiente escolar, ultrapassando a importância de qualquer conteúdo na formação de um aluno.
Com as aulas remotas, sem possibilidade de realizar encontros físicos, os professores lançaram mão de novos métodos de avaliação. Metodologias ativas, já usadas em muitas escolas, ganharam destaque para explorar habilidades e atrair o interesse dos estudantes. A (nada boa) e velha "decoreba", tão criticada por especialistas em educação, tem cada vez menos espaço nas salas de aula.
Mesmo com todas as tecnologias, a importância do professor no processo de ensino-aprendizagem, que é uma troca de experiências, ficou ainda mais perceptível. A pandemia exigiu muito do professor e reforçou a demanda pela valorização da profissão. A autonomia é dos alunos, mas o papel mediador e problematizador do professor ganhou destaque.
A formação continuada sempre foi uma preocupação, tanto que é uma das 20 metas do Plano Nacional de Educação. Mas a necessidade de criar novas formas de ensino e de identificar as dificuldades de aprendizado dos alunos na pandemia expôs a urgência de investimento na qualificação permanente dos educadores. Acompanhar as mudanças do mundo e dos estudantes demanda um novo olhar para a educação.
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