O enfrentamento dos impactos da pandemia sobre a rotina da escola aprofundou os debates em torno da educação híbrida como caminho para um novo jeito de ensinar, estudar e aprender. É um terreno cheio de nuances, em que devem entrar na conta tanto os prejuízos com o baixo índice de inclusão digital no Brasil, quanto os benefícios trazidos pelas novas tecnologias.
De acordo com a doutora em Educação Maria Inês Fini, a educação híbrida é a combinação do processo de ensino-aprendizagem presencial com atividades remotas. E ressalta: o ensino remoto não substitui o presencial, nem o contrário, porque as duas experiências coexistem de modo integrado em um caminho de aprendizado permanente, criativo e engajado.
Para Maria Inês, não existe um modelo padrão de educação híbrida, pois cada escola, a partir das características dos professores, das famílias e dos estudantes, constituirá o método como se dará esta combinação de modo a contribuir com a maior autonomia do pensamento, interação e motivação dos alunos, com a valorização do papel de orientação do professor e com a ampliação da jornada escolar.
“A escola montará um outro projeto pedagógico com divisões de tarefas entre o presencial e o remoto, com metodologias, recursos e sistema de avaliação. Neste momento, a metodologia ativa mais facilmente usável é a de projetos. O aluno irá pesquisar, discutir ideias, questionar e aprender a organizar argumentos, independente do uso ou não de plataformas digitais”, explica a presidente da ANEBHI.
Segundo o doutor em Educação Carlos Fabian de Carvalho, membro do Fórum Estadual de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e professor da Rede de Ensino de Vitória, houve um esforço formativo dos professores para utilização das plataformas, aplicativos e metodologias ativas. No entanto, grande parte dos estudantes da rede pública não teve acesso aos recursos digitais no mesmo momento em que suas famílias enfrentavam a falta de alimento, de moradia e de emprego.
“A tecnologia é fundamental e pode agregar muito se vier atrelada a políticas intersetoriais de geração de renda e emprego, de formação de espaços de inclusão digital, de ampliação da cultura local, de alfabetização e de combate ao déficit educacional agravado pela perda do tempo de vida escolar”, pondera Fabian.
Na avaliação do vice-presidente do Sindicato das Empresas Particulares de Ensino do Espírito Santo (Sinepe-ES), Eduardo Gomes, a permanência do modelo presencial é fundamental, porque valoriza o afeto e traz uma possibilidade de conexão mais humana. Ao mesmo tempo, o aprendizado no modelo remoto abre novas possibilidades de interação e descobertas, que incluem o intercâmbio entre escolas.
“Por exemplo, posso ter um professor de uma escola de Manaus falando com os meus alunos a respeito do Rio Amazonas com muito mais propriedade de vivência. O modelo remoto, dentro do ensino híbrido, me dá a possibilidade de alcançar realidades que antes eu não teria. Isso não está restrito ao remoto exclusivo, porque estas interações podem acontecer a partir dos equipamentos da sala numa aula presencial”, cita Eduardo.
De acordo com o representante do Sinepe-ES, o conceito híbrido é um aprendizado em construção que envolve investimento em equipamentos e serviços tecnológicos, a elaboração de metodologias e a recondução dos projetos de escola para a superação da dinâmica tradicional da sala de aula baseada apenas na transmissão de informação.
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