A pandemia da Covid-19 tornou a tarefa de lecionar ainda mais desafiadora para educadores em todo o mundo. Ela acelerou algumas mudanças que já estavam em curso como novas práticas e metodologias de ensino, novas dinâmicas relacionais entre escola, alunos e familiares e, consequentemente, levantando questionamentos sobre o papel do professor.
Para o gestor da Escola Monteiro, Eduardo Gomes, a experiência do ensino remoto colocou em evidência algumas das dificuldades enfrentadas pelos professores. Ela mostrou para familiares e responsáveis – que agora podem acompanhar as aulas de perto – a complexidade na criação de rotinas de ensino que engajem o aluno no processo de aprendizagem.
"Os pais que tiveram que acompanhar os filhos em aulas remotas e ajudar em tarefas da escola, viram que é difícil. Isso trouxe à tona o quanto o papel do professor é complexo, de fazer com que o aluno aprenda e se dedique, despertar o interesse”, comenta.
Esse exemplo mostra que o advento de recursos tecnológicos de ensino não exclui o papel do professor de guiar e orientar a aprendizagem, que continua sendo uma peça chave para o acesso ao conhecimento e desenvolvimento dos alunos. Ainda assim, os que decidem seguir a carreira docente, muitas vezes, encaram uma realidade de baixos salários e más condições de trabalho.
Uma pesquisa realizada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em mais de 40 países apontou que a média salarial do professor no Brasil é 13% inferior à média da América Latina. Neste cenário, o Espírito Santo aparece na 3º posição entre os menores salários do país.
Os dados da pesquisa mostram que há um longo caminho a se percorrer para que a profissão, uma das mais relevantes para a construção de uma sociedade mais crítica e justa, possa receber um reconhecimento à altura de outras carreiras de ensino superior.
Eliza Bartolozzi, professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Ufes, explica que a questão da valorização profissional dos professores perpassa a história da educação brasileira, envolvendo várias dimensões que precisam ser asseguradas para mudar essa situação. Para gerar mudança, segundo ela, a responsabilidade deve ser dividida entre governo, escola e famílias.
“Entendo que a resposta para essa questão da valorização docente passa por decisões governamentais e também por decisões internas às escolas, sensibilizando famílias e estudantes sobre os problemas que perpassam a educação e de que o desenvolvimento da educação depende do apoio das famílias e de políticas de financiamento mais robustas e da garantia da autonomia dos professores”, destaca.
Apesar da importância de uma remuneração condizente com a formação e relevância social do professor, o processo de valorização e reconhecimento da profissão também engloba outras dinâmicas do trabalho. Eliza ressalta que, assim como em outras carreiras, educadores também precisam de outros estímulos e incentivos.
“Uma carreira docente com possibilidade de progresso funcional; concurso público de provas e títulos; formação e qualificação; tempo remunerado para estudos, planejamento e avaliação assegurados no contrato de trabalho; reconhecimento social, autorrealização e dignidade profissional são apenas alguns aspectos”, completa.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta