Criar um ensino mais próximo do estudante, dando a ele autonomia para escolher o que estudar, é um debate antigo e também um desafio no ambiente educacional. Mas, a partir do ano que vem, os primeiros passos para essa mudança começam a ser dados, com a implementação do novo ensino médio no país.
Nesse novo modelo de ensino-aprendizagem, o currículo é dividido em dois: formação geral básica, com disciplinas integradas em quatro áreas de conhecimento, e itinerários formativos, que vão aprofundar em áreas de interesse do estudante. A carga horária passa a ser de 3 mil horas.
Esse novo modelo passa a valer em 2022, mas em muitas escolas esse processo de transição já começou há algum tempo. No Espírito Santo, na rede estadual de ensino a carga horária já foi ampliada, por exemplo. “Todas as nossas escolas já funcionam com uma carga horária de 1.000 horas e com estudo orientado e projeto de vida, que ajuda o aluno a reconhecer as habilidades e traçar um plano ao longo do ensino médio”, destaca o secretário de Estado da Educação, Vitor de Angeli.
Na rede estadual, os itinerários vão ser implementados a partir do 2º ano do ensino médio. No entanto, como os alunos precisam escolher por qual vão optar no início do ano que vem, já foi feito um mapeamento do que será oferecido.
“No início deste ano, fizemos uma pesquisa com os alunos, para saber os interesses deles. Nós orientamos as escolas para a definição dos seus itinerários, mas deixamos que elas participassem desse processo. Quantos e quais vão ser oferecidos vai variar de acordo com as características de cada escola”, afirma o titular da pasta de Educação no Estado.
A escola estadual Maura Abaurre, em Vila Velha, por exemplo, vai oferecer dois itinerários de aprofundamento: um em Esporte, Ciências e suas Linguagens e outro em Energias Renováveis. “Nossa escola tem tradição de participar da Olimpíada de Ciências, temos laboratórios e um espaço para proporcionar um desenvolvimento maior nessa área de ciência e tecnologias”, destaca o diretor da unidade, Tiago Guerçon.
O novo modelo causa entusiasmo, mas também apreensão entre os estudantes. “Acho que o novo ensino médio vai estimular o aluno a escolher o projeto de vida dele e a se interessar mais pela escola. É positivo, mas tudo que é novo deixa a gente apreensivo, não é?", comenta Juan Corrêa, estudante do 9º ano da rede estadual.
Também aluna do 9º ano, Cecília Andrade, da Escola América, em Vitória, concorda com Juan. Para ela o modelo que será implementado em 2022 é uma oportunidade de explorar habilidades durante o ensino médio. “A gente vai poder se aprofundar na área que se interessa e ver se é aquilo mesmo que a gente quer. E se não for, dá tempo de mudar”, pontua.
Essa possibilidade de mudança de área de interesse durante o ensino médio, aliás, é uma das preocupações de Juliano Campana, diretor-geral do colégio em que Cecília estuda. Por isso, a unidade vai oferecer, em um primeiro momento, um único itinerário com as quatro áreas de conhecimento, em vez de vários itinerários.
“O que nós buscamos foi fazer uma formação geral mais aprofundada e, para além da carga horária estabelecida, permitir que o estudante faça um aprofundamento e atividades da área de preferência dele", explica Juliano. "Não queremos que a formação geral básica seja tão básica, porque, caso o aluno decida mudar de área, garantimos que ele teve uma boa base, pensando no desempenho dele no Enem”, complementa.
Na avaliação do diretor-geral da Escola América, a grande mudança se dá na forma de o professor ensinar, que inclui, por exemplo, mais ênfase nas chamadas metodologias ativas, em que o aluno ganha protagonismo no processo de ensino-aprendizagem. Por isso, a escola tem investido na formação dos profissionais.
Para o professor de Matemática Gilson Abdala, o novo modelo é bem-vindo, pois o professor vai ter mais liberdade na sala de aula e estimular a autonomia do estudante. “Eu já trabalho com metodologias ativas nas minhas aulas. Agora, acredito que os alunos vão conseguir aprimorar mais as áreas que eles têm interesse e desenvolver habilidades para a vida, seja para curso superior, seja para formação técnica”, opina.
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