O consumidor brasileiro tem sofrido quando o assunto é o preço da gasolina. Isso porque uma sequência de aumentos está impactando o valor final na bomba. Na última sexta-feira (19), por exemplo, um novo acréscimo foi anunciado, elevando em 15,2% o valor do óleo diesel e 10,2% o da gasolina. Em algumas cidades do Espírito Santo, motoristas estão encontrando o litro da gasolina a mais de R$ 6. E, segundo especialistas, o cenário pode piorar.
Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que vai zerar os impostos federais de gás de cozinha e dos combustíveis como uma medida de redução no valor. No entanto, para especialistas do segmento e para o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro-ES), a iniciativa pode não ser eficaz a longo prazo.
Segundo o economista, diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras e diretor do Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC), Claudio Costa, a atual política de preços é o principal vilão dessa conta, que acaba não fechando para os brasileiros.
Afinal, no preço do combustível que chega às bombas estão inclusos o valor do barril do petróleo no mercado internacional, a oscilação do câmbio e todos os riscos de uma empresa importadora de petróleo levar o material bruto até o refino. Ou seja, tudo é feito em dólar, que já ultrapassa os R$ 5,40, enquanto o salário do brasileiro permanece em real.
“Inicialmente, essa política de preços previa aumentos mensais, mas depois se pensou em aumentos diários. Não há controle sobre essa medida, pois a base de preço do petróleo é o Golfo do México, que é em dólar, isso multiplicado pela taxa de câmbio. E sobre esses dois fatores: preços do barril do petróleo e taxa de câmbio, não se tem qualquer controle sobre eles. Se um dos dois subir, não há como controlar”, observa Costa.
Na tentativa de aliviar os bolsos dos brasileiros, o presidente declarou que irá zerar os impostos federais, jogando o país, inclusive, numa pressão junto aos governadores, já que a população pode exigir também a redução do ICMS cobrado em cada Estado. O que não fica explicado é que mesmo com esse alívio provocado pela retirada do imposto, o preço pode continuar a subir, já que o valor do barril de petróleo dobrou nos últimos quatro meses.
“O preço do barril foi de US$ 40 em 2020 a US$ 63 no mês passado. No ano passado, durante a pandemia, o barril chegou à metade do preço, mas esse valor não foi repassado para as bombas. Aliás, ele nem chegou, pois a Petrobras está exportando mais petróleo, o que faz com que muitos importadores comprem de outros mercados mais baratos e tragam para o Brasil, subutilizando as refinarias no país. Ou seja, o preço já vem maior antes mesmo de chegar aos postos de gasolina”, analisa o geógrafo Francismar Cunha Ferreira, que está realizando sua tese de doutorado sobre os efeitos econômicos e territoriais da Petrobras.
Na sexta-feira (19), também foi anunciada a troca do controle da estatal por Bolsonaro: sai Roberto Castello Branco e entra o general de reserva do Exército Joaquim Silva e Luna. Para o coordenador geral da Frente Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, a expectativa com o novo presidente da Petrobras é que haja reformulações no planejamento estratégico e na política de preços hoje praticada.
“Essa política de preços tem de ser alterada, adotando o que foi praticado até 2013 e que é usado em países produtores de petróleo, inclusive os EUA, em que o preço internacional do barril de petróleo não é repassado para a população. Em simulações já foi mostrado que retirar o imposto federal reduziria em R$ 0,34 o preço do diesel, assim como se o ICMS fosse zerado, o valor seria de centavos. Ou seja, não teria qualquer impacto diante da atual política de preços”, defende.
Com o combustível mais caro, outra luz de alerta se acende junto à população, uma vez que toda a economia do país depende do petróleo para girar. Isso porque o Brasil é o terceiro maior mercado de derivados de petróleo e o transporte é basicamente dependente desse insumo. O que pode acarretar em reajuste de preços nos supermercados, de alimentos, entrega de produtos, desencadeando numa redução do poder de compra do brasileiro.
Quando perguntado sobre concorrência, o diretor de comunicação do Sindipetro-ES, Etory Sperandio, observa que a Petrobras deixou de ter o monopólio desde 1997, com a Lei do Petróleo, que autoriza a exploração, extração e refino desse recurso mineral. “O mercado é aberto desde essa época e não teve nenhuma empresa que instalou refinaria no Brasil, que é o terceiro maior mercado de combustíveis no mundo. Esse critério de a Petrobras vender seus ativos para gerar uma concorrência saudável é uma falácia, pois a possibilidade de extrair e refinar o petróleo aqui já existe”, pontua.
No Espírito Santo, a Petrobras tem passado por uma transformação, restando poucos ativos pertencentes à empresa, sendo que a maioria já foi vendida ou está à venda. Para ele, dificilmente a sede da Petrobras em Vitória deverá permanecer, a exemplo de outros Estados em que a sede administrativa já foi desativada.
“Isso é muito ruim para a economia do Espírito Santo. Corremos o risco de ver ir embora os ativos, a renda e a pesquisa realizada pela empresa nesses anos em que está no Espírito Santo. Toda a produção irá para as mãos de empresas privadas e até internacionais, que não têm comprometimento com o desenvolvimento do país e nem do Estado, que dificilmente irão absorver toda a mão de obra dos trabalhadores que serão demitidos”, observa Sperandio.
Para ele, a economia capixaba fica comprometida, pois perde também tudo o que está no entorno, desde escolas, restaurantes, lojas e até mesmo o mercado imobiliário, já que muitos dos trabalhadores demitidos terão de repensar seu padrão de vida.
Para defender a permanência da empresa no Estado, o Sindipetro-ES está realizando uma campanha de conscientização, com informações sobre a empresa e os desinvestimentos da Petrobras no Espírito Santo e o que isso pode acarretar para os capixabas. As informações podem ser encontradas no site www.petrobrasficanoes.com.br.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta