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ES é 'case de sucesso' em equilíbrio fiscal, avalia Caio Megale, da XP Investimentos

ES é 'case de sucesso' em equilíbrio fiscal, avalia Caio Megale, da XP Investimentos

Economista-chefe da XP será um dos participantes do Pedra Azul Summit, no próximo sábado (23); confira entrevista

Publicado em 18 de novembro de 2024 às 17:43- Atualizado há um mês

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Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos. (Divulgação/XP Investimentos)

O ano de 2025 será mais um período desafiador para a economia brasileira, tanto por questões internas quanto pelo cenário global. Analisando com clareza os contextos, porém, é possível apontar caminhos para uma trajetória de mais equilíbrio e desenvolvimento. A perspectiva emerge da avaliação do economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, que se prepara para a próxima edição do Pedra Azul Summit, encontro de líderes realizado pela Rede Gazeta entre a sexta-feira (22) e o sábado (23).

O especialista será o responsável por abrir o sábado de evento, no Painel 2 - Panorama Econômico, ao lado do ex-governador e presidente executivo da Indústria Brasileira das Árvores (IBÁ), Paulo Hartung. A conversa será mediada pelo consultor financeiro e comentarista da CBN Teco Medina. Em conversa com a reportagem de A Gazeta, Caio Megale apontou os principais temas cruciais para economia em 2025: a regulamentação da reforma tributária, o pacote fiscal em elaboração e, claro, o panorama geopolítico global. O especialista também analisou o momento capixaba, que se coloca como exemplo a ser seguido por outros entes federativos. Leia abaixo:

No próximo sábado você estará no Painel 2 do Pedra Azul Summit, o “Panorama Econômico”, ao lado do ex-governador e presidente executivo da IBÁ (Indústria Brasileira das Árvores) Paulo Hartung. De que assuntos devem tratar?

  • Vamos abrir os trabalhos do sábado de evento, com a moderação do Teco Medina [consultor financeiro e comentarista da CBN]. A ideia é falar um pouco do curto prazo: da incerteza fiscal, a política, o pacote fiscal que está por vir, o que isso significará mais adiante. Também de inflação, Banco Central, perspectiva de crescimento, porque o Brasil está crescendo bem ainda e precisamos avaliar se isso vai se manter no ano que vem. Como é um evento com empresários do Espírito Santo, representantes de empresas, a ideia é traçar um pouco o panorama de investimento real, com foco no planejamento.

Então podemos esperar projeções para este final de ano e também para o decorrer de 2025?

  • É isso. E não só do Brasil, não vamos abordar só temas brasileiros. Precisamos falar, por exemplo, da vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, da desaceleração da economia da China, e de como os conflitos no Oriente Médio afetam o cenário para o ano que vem.

Que efeitos podemos esperar da vitória de Trump no Brasil e no Espírito Santo?

  • Os efeitos no Brasil são bem indiretos: o Brasil exporta pouco para os Estados Unidos. Exporta muitas commodities com os preços mais ou menos tabelados, bem definidos pelos mercados globais. Não tem um produto muito claro que o Trump focaria em elevar tarifas e isso fosse nos afetar, à exceção talvez do aço. Esse é um primeiro ponto. Claro que, indiretamente, se a China tiver problemas com os Estados Unidos — e diferente dos Estados Unidos, a China é muito importante para as nossas exportações — e tiver uma desaceleração, sofrer mais com uma guerra comercial, isso pode nos pegar por tabela. Um canal que é importante ficar de olho é o do petróleo e energia. Trump vem dizendo que vai acelerar a produção doméstica, isso pode jogar o preço do petróleo para baixo, o que é ruim para nós, porque o Brasil é um exportador importante do petróleo, importante tanto para a balança comercial quanto para a arrecadação fiscal. Por fim, é importante a questão do dólar forte, e isso claramente já está afetando. Ele ganhou, o dólar valorizou, porque tem essa ideia do governo desenvolvimentista, “Make America Great Again” [Tornar a América Grande Novamente, em inglês, lema da campanha de Donald Trump].

Que outros desafios podemos destacar para o ano que vem? A regulamentação da reforma tributária é o principal?

  • Nós temos três temas no Congresso Nacional que vão ser muito importantes. O primeiro é o tema da reforma tributária. A regulamentação de fato andou rápido no começo do semestre e depois deu uma parada, uma acomodada. Outro é o pacote fiscal em preparação. A gente ainda não sabe o que é direito, mas o ministro da Economia, Fernando Haddad, antecipou que vai ser preciso uma Proposta de Emenda Constitucional. Mudanças na concessão de benefícios, abono salarial, gastos mínimos com saúde e educação, tudo isso vai ser discutido e acho muito difícil ser debatido esse ano, vai ser um tema quente no começo do ano que vem. E por fim, outros temas orçamentários de forma geral. O governo precisa de aumento de receita para fechar as contas. Junto com o Orçamento mandou uma proposta de isenção de imposto sobre os juros sobre capital próprio para empresas e aumento da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido.

A troca de comando no Banco Central vai seguir com destaque?

  • No curto prazo, esse tema já foi. Já temos o nome definido, Gabriel Galípolo já foi sabatinado pelo Senado, ele tem tido uma interlocução muito boa com empresas, mercado, governo. Mas a discussão pode voltar à tona se a inflação continuar alta e o BC não tiver espaço para reduzir claramente os juros no ano que vem. É uma dúvida.

Com a reforma da previdência completando cinco anos, esse debate volta a ser uma questão?

  • No curto prazo isso não está muito colocado. O tema da previdência vai ter um bom refresco se mudar a indexação do salário mínimo, é uma das coisas colocadas no pacote. O problema previdenciário cresce muito com a regra do salário mínimo indexado ao PIB. Se tiver um limite de crescimento do salário mínimo, junto com o arcabouço fiscal, ajuda um pouquinho. Mas diante de tantos desafios assim, e da dificuldade de tramitação, não é uma pauta sendo colocada claramente pelo ministro Haddad. Se não tiver muito apoio do Executivo, e parece que não tem, é uma pauta espinhosa.

Como você posiciona o Espírito Santo no cenário econômico nacional?

  • Sem dúvida alguma, o Espírito Santo nesse ambiente macro ainda muito complicado, está muito bem posicionado. É um Estado com as contas organizadas, muita clareza do equilíbrio, que tem uma diversificação econômica muito interessante. Você vê empresas fortes, um litoral relevante, está perto dos mercados consumidores, tem um custo de produção e previsibilidade de produção melhores do que em estados vizinhos. Nós temos bons clientes no Espírito Santo. É claro que o Estado sente a chacoalhada macro global e macro local, mas é um case de sucesso que reforça a importância do equilíbrio das contas públicas para o desenvolvimento.

Você vem falando sobre a necessidade de uma sinalização clara do governo federal no sentido de cortar gastos. Já percebe alguma movimentação mais concreta nesse sentido por parte do presidente Lula?

  • Acho que o senso de urgência cresceu claramente. As despesas públicas vêm crescendo já há três anos, a um ritmo bastante acima da inflação. Tem um pedaço disso que tinha a ver com a pandemia, mas esse contexto ficou para trás há um tempo e continuamos com despesas crescentes, que estão se refletindo em incertezas no equilíbrio do endividamento público brasileiro, o câmbio fica desvalorizado, os juros ficam mais altos. Isso pode colocar em risco um dos grandes projetos do ministro Haddad, que foi o arcabouço fiscal. Minha percepção é de que esse assunto tomou conta do governo, inclusive do presidente Lula, que parece engajado nisso. E por que é tão importante que isso aconteça rapidamente? Porque todo mundo sabe que 2026 é ano de eleição, e em ano de eleição nenhum governo, em nenhum lugar do mundo, faz ajustes. Se não fizer agora, dificilmente vai fazer.

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