No Brasil, apenas 6% das pessoas confiam umas nas outras. Esse é um dos dados da pesquisa “O Brasil no Espelho: Um estudo dos valores brasileiros”, que foi apresentada nesta sexta-feira (22) pelo cientista político e diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa, Felipe Nunes, no primeiro dia do Pedra Azul Summit, realizado pela Rede Gazeta.
Para o cientista político, esse dado revela o motivo da dificuldade brasileira de avançar economicamente. "Temos o menor índice de confiança interpessoal. O nível de desconfiança é tão absurdo que só confiamos na família próxima. Esse alto grau de desconfiança pessoal é fatal nos negócios", frisa.
O segundo efeito dessa informação é político e institucional. Nunes questionou como o brasileiro vai confiar na imprensa, no judiciário, nos políticos e em outras autoridades, se não confia um no outro?
“Precisamos de um novo pacto capaz de restabelecer a confiança uns nos outros. Sem isso, será impossível constituir economia forte e instituições políticas respeitadas e capazes de regular a nossa vida política", afirmou o diretor da Quaest.
Felipe Nunes ressaltou que existem mecanismos para recuperar a confiança e despolarizar o país. O primeiro passo é fazer com que o brasileiro passe a acreditar que o outro não é inimigo. O segundo passo destacado por ele é voltar a estabelecer lugares de convivência.
"Todos nós moramos numa bolha. Todos nós. O problema é que esse sistema força a gente a ficar feliz demais, de ficar vendo só o que a gente já acha que é certo, aumenta preconceito, autoritarismo e violência, porque a gente para de viver com o contraditório", enfatizou.
Além da desconfiança, a pesquisa mostrou ainda que o brasileiro tem insegurança e está preocupado com violência, crimes e tráfico de drogas. "No Brasil, 59% da população não se sentem seguros andando nas ruas", afirma.
A pesquisa também apontou outras características da sociedade brasileira. Em resumo, Felipe Nunes citou que, de acordo com o levantamento, o brasileiro é religioso e coloca a família em primeiro lugar. Foram entrevistadas 10 mil pessoas em 312 municípios em todo o país.
O estudo mostra que, para 97% dos brasileiros, Deus é importante na vida e, para 96%, Deus está no comando da sua vida. Outros 86% avaliam que a fé vale mais que a ciência. Dessa forma, Felipe Nunes evidencia como a fé é importante para descrever o país.
A família apareceu no topo do que os entrevistados consideram o mais importante da vida, com 27%, atrás apenas de saúde e bem-estar, com 28%. A pesquisa mostrou também que 80% dos brasileiros consideram que família são pessoas em quem se pode contar ou confiar mesmo sem ter parentesco, o que mostra a presença das outras configurações familiares.
Algumas questões apontadas na pesquisas também mostram uma sociedade conservadora. Para 88%, é importante preservar os costumes, enquanto 81% consideram que a mulher cuida melhor da família e dos filhos. Já 60% acham aceitável bater nos filhos caso passem dos limites.
A questão da meritocracia também foi levantada. A pesquisa mostrou, segundo Nunes, que o brasileiro não acredita em mobilidade social e nem que o trabalho duro vai levar para algum lugar. "Isso justifica porque, na pesquisa, 56% afirmaram que acham que pessoas pobres não fazem esforço para deixarem de ser pobres", comentou o cientista político.
Outro destaque levantado por Nunes é sobre o chamado "jeitinho brasileiro", que é visto de maneira diferente entre as classes sociais. Para os mais ricos, é considerado corrupção e, para os de renda mais baixa, é uma maneira de dar conta dos seu problemas.
A pesquisa apresentou aos entrevistados 137 questões, o que resultou em um total de 11 dimensões que ajudam a explicar o Brasil:
Ao fazer uma conexão com as eleições e seus resultados, o cientista político ressaltou que é preciso olhar o Brasil pelas identidades. Para Nunes, atualmente os valores que os candidatos e políticos representam têm mais influência no voto do que como vai a economia do país, por exemplo.
"O fato de o candidato representar os seus valores passou a ser uma variável importante. As identidades políticas e como a gente se vê no mundo passou a ser determinante, assim como nos comportamos no mundo", destaca.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta