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'Precisamos de pacto para restabelecer confiança uns nos outros', diz diretor da Quaest

'Precisamos de pacto para restabelecer confiança uns nos outros', diz diretor da Quaest

O cientista político Felipe Nunes apresentou a pesquisa "O Brasil no Espelho: um estudo dos valores brasileiros", nesta sexta (22), no primeiro dia do evento realizado pela Rede Gazeta

Publicado em 22 de novembro de 2024 às 17:30

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Felipe Nunes é diretor da Quaest Consultoria
Felipe Nunes é diretor da Quaest Consultoria. (Carlos Alberto Silva)

No Brasil, apenas 6% das pessoas confiam umas nas outras. Esse é um dos dados da pesquisa “O Brasil no Espelho: Um estudo dos valores brasileiros”, que foi apresentada nesta sexta-feira (22) pelo cientista político e diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa, Felipe Nunes, no primeiro dia do Pedra Azul Summit, realizado pela Rede Gazeta.

Para o cientista político, esse dado revela o motivo da dificuldade brasileira de avançar economicamente. "Temos o menor índice de confiança interpessoal. O nível de desconfiança é tão absurdo que só confiamos na família próxima. Esse alto grau de desconfiança pessoal é fatal nos negócios", frisa. 

O segundo efeito dessa informação é político e institucional. Nunes questionou como o brasileiro vai confiar na imprensa, no judiciário, nos políticos e em outras autoridades, se não confia um no outro?

“Precisamos de um novo pacto capaz de restabelecer a confiança uns nos outros. Sem isso, será impossível constituir economia forte e instituições políticas respeitadas e capazes de regular a nossa vida política", afirmou o diretor da Quaest. 

Felipe Nunes ressaltou que existem mecanismos para recuperar a confiança e despolarizar o país. O primeiro passo é fazer com que o brasileiro passe a acreditar que o outro não é inimigo. O segundo passo destacado por ele é voltar a estabelecer lugares de convivência.

"Todos nós moramos numa bolha. Todos nós. O problema é que esse sistema força a gente a ficar feliz demais, de ficar vendo só o que a gente já acha que é certo, aumenta preconceito, autoritarismo e violência, porque a gente para de viver com o contraditório", enfatizou.

Além da desconfiança, a pesquisa mostrou ainda que o brasileiro tem insegurança e está preocupado com violência, crimes e tráfico de drogas.  "No Brasil, 59% da população não se sentem seguros andando nas ruas", afirma.

A pesquisa também apontou outras características da sociedade brasileira. Em resumo, Felipe Nunes citou que, de acordo com o levantamento, o brasileiro é religioso e coloca a família em primeiro lugar. Foram entrevistadas 10 mil pessoas em 312 municípios em todo o país.

O estudo mostra que, para 97% dos brasileiros, Deus é importante na vida e, para 96%, Deus está no comando da sua vida. Outros 86% avaliam que a fé vale mais que a ciência. Dessa forma, Felipe Nunes evidencia como a fé é importante para descrever o país.

A família apareceu no topo do que os entrevistados consideram o mais importante da vida, com 27%, atrás apenas de saúde e bem-estar, com 28%. A pesquisa mostrou também que 80% dos brasileiros consideram que família são pessoas em quem se pode contar ou confiar mesmo sem ter parentesco, o que mostra a presença das outras configurações familiares. 

Algumas questões apontadas na pesquisas também mostram uma sociedade conservadora. Para 88%, é importante preservar os costumes, enquanto 81% consideram que a mulher cuida melhor da família e dos filhos. Já 60% acham aceitável bater nos filhos caso passem dos limites. 

Aspas de citação

A pesquisa é importante para descobrir as nuances do que até onde o Brasil tolera e o que ainda é um estigma na sociedade. E também é uma boa forma de ver a força da família nesse processo

Felipe Nunes
Diretor da Quaest Consultoria e Pesquisa
Aspas de citação

A questão da meritocracia também foi levantada. A pesquisa mostrou, segundo Nunes, que o brasileiro não acredita em mobilidade social e nem que o trabalho duro vai levar para algum lugar. "Isso justifica porque, na pesquisa, 56% afirmaram que acham que pessoas pobres não fazem esforço para deixarem de ser pobres", comentou o cientista político.

Outro destaque levantado por Nunes é sobre o chamado "jeitinho brasileiro", que é visto de maneira diferente entre as classes sociais. Para os mais ricos, é considerado corrupção e, para os de renda mais baixa, é uma maneira de dar conta dos seu problemas.

Pedra Azul Summit 2024(Carlos Alberto Silva)

A pesquisa apresentou aos entrevistados 137 questões, o que resultou em um total de 11 dimensões que ajudam a explicar o Brasil:

  1. Religiosidade
  2. Família
  3. Identidade nacional
  4. Honestidade
  5. Meritocracia
  6. Discriminação
  7. Sexualidade
  8. Insegurança
  9. Confiança
  10. Comportamento social
  11. Ideologia

Ao fazer uma conexão com as eleições e seus resultados, o cientista político ressaltou que é preciso olhar o Brasil pelas identidades. Para Nunes, atualmente os valores que os candidatos e políticos representam têm mais influência no voto do que como vai a economia do país, por exemplo.

"O fato de o candidato representar os seus valores passou a ser uma variável importante. As identidades políticas e como a gente se vê no mundo passou a ser determinante, assim como nos comportamos no mundo", destaca.

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