Foi durante as chuvas de 2008, após uma cabeça d’água assombrar a rotina dos moradores de Caeté, na zona rural de Jerônimo Monteiro, que a família Araújo decidiu começar a trabalhar pela recuperação de áreas degradadas na região. Nesta terça-feira (22), 16 anos depois, o projeto da família foi um dos vencedores da 13ª edição do Prêmio Biguá em Cachoeiro de Itapemirim, que reconhece projetos sustentáveis no Sul do Espírito Santo.
Chegando a 13 anos de história, o objetivo do prêmio é destacar projetos e pessoas que estão à frente de soluções comprometidas com o bem-estar do planeta. Ao todo, foram 52 projetos inscritos nesta edição, dividida em seis categorias: Ensino Superior, Empresas, Escola, Poder Público, Produtor Rural e Sociedade Civil.
Maria Helena Vargas ressalta que, nesta edição, o prêmio contou com exemplos de ações que demandam pouco recurso, mas que dependem da vontade do poder público e da sociedade para se tornarem realidade. "É uma corrente do bem, que vai ajudando o meio ambiente, criando uma onda de boas práticas em meio a tantas notícias preocupantes na área ambiental”, enfatiza a gestora.
O projeto da família Araújo, em Jerônimo Monteiro, conquistou o primeiro lugar na categoria Produtor Rural. Com o título “Plantando sobre pedras: vida para as futuras gerações”, o objetivo da iniciativa, que começou em 2008, era recuperar a área degradada pela chuva na propriedade Fazenda Caeté, por meio do reflorestamento e da adoção de práticas que buscavam a conservação da água e do solo.
Os organizadores trabalharam para conter processos erosivos iniciados após as fortes chuvas, recuperando nascentes e fornecendo condições favoráveis à reestruturação da vida no ambiente degradado. De acordo com a família, as ações promoveram o reflorestamento ao redor das residências e a recuperação de pontos de erosão.
Na categoria Ensino Superior, o projeto que conquistou o primeiro lugar foi “O uso de biocarvões produzidos com resíduos de madeira de laranjeira para o tratamento de esgoto em Jerônimo Monteiro”, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) na cidade. O projeto investigou o uso de carvão proveniente de laranjeiras para o trato do esgoto sanitário no município, ao invés de usar apenas itens como o cascalho e a areia, que são mais comuns.
“[O projeto] tem esse intuito de colocar um resíduo sem valor agregado e dar o seu devido valor, transformando-o em um produto que pode, e que tem, conseguido tratar o esgoto sanitário de uma forma eficaz e econômica”, explica a pesquisadora Iara Nobre Carmona, responsável pela iniciativa.
Já na categoria Empresas, o projeto vencedor foi “Mulheres de Fibra”, da Associação de Artesanato Mãe-Bá, em Anchieta. O projeto foca na utilização da fibra da taboa, uma planta nativa da região, nas atividades da entidade. Por meio de técnicas tradicionais de artesanato, os membros da associação transformam essa fibra em produtos que não apenas preservam a cultura local, como também oferecem uma alternativa econômica viável para a comunidade.
“Com a retirada da planta, que é presente na nossa lagoa, isso ajuda na oxigenação da mesma, porque, se ela fica lá e ninguém tira, a raiz dela apodrece e não dá uma boa oxigenação. Então, retirando, isso ajuda na preservação do meio ambiente e gera renda para os nossos artesãos”, explica Carmelita Nascimento Furlan, responsável pelo projeto.
O projeto da escola municipal Eliseu Lofêgo, em Cachoeiro de Itapemirim, conquistou o 1º lugar da categoria Escola. Com o nome “Escola Verde: Encantamento Sustentável”, a iniciativa promoveu a revitalização do ambiente escolar, promovendo a conscientização sobre o descarte correto do lixo, a replicação de mudas das plantas cultivadas no ambiente escolar, a produção de adubos naturais por meio do recolhimento de cascas de legumes e frutas, bem como a utilização de adubos naturais no cultivo das plantas.
Para a gestora Daniela Passoni Altoé, responsável pela atividade, a conquista do prêmio significa muito mais que o reconhecimento público. “É sinal que estamos no caminho certo. Nós estamos colhendo os frutos de nosso projeto, criando o sentimento de pertencimento e responsabilidade com o meio ambiente em todos que fazem parte da nossa comunidade escolar”, ressalta.
Na categoria Poder Público, o projeto que conquistou o 1º lugar foi a iniciativa “Ecobarreira”, da Prefeitura Municipal de Ibatiba. O objetivo era reduzir a contaminação por resíduos sólidos nos corpos hídricos do município. Para isso, o município identificou e mapeou as áreas de maior concentração de resíduos sólidos, construindo e instalando ecobarreiras flutuantes com materiais recicláveis, como galões plásticos.
Segundo os organizadores, desde a instalação da Ecobarreira, o município já retirou cerca de 205 kg de resíduos dos rios em apenas quatro meses de funcionamento. “É uma prova de que quando nós nos dedicamos a algo que acreditamos, o impacto pode ser muito maior do que a gente podia imaginar. O prêmio representa o reconhecimento de um trabalho que visa transformar, contribuir para um futuro mais sustentável. É uma motivação para a gente poder continuar buscando soluções mais sustentáveis e inovadoras”, ressalta o engenheiro ambiental da prefeitura, Ítalo dos Santos Dias.
Na categoria Sociedade Civil, o vencedor foi “Horta Solidária”, da Apac Feminina de Cachoeiro de Itapemirim. A iniciativa é focada em trabalhar a horta de forma solidária e com consciência ambiental, sem a utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos. O projeto ainda aproveita a água proveniente de uma nascente para garantir a irrigação sustentável, econômica e sem contaminação. Para os idealizadores, a ação acaba se tornando uma via de mão dupla, que beneficia a todos.
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