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Expedição Biguá mostra marcas deixadas pela maior enchente do Sul

Expedição Biguá mostra marcas deixadas pela maior enchente do Sul

Imóveis danificados, rio assoreado e sonhos interrompidos. Oito meses após a tragédia, uma nova expedição, realizada pela TV Gazeta Sul, mostra os desafios para impedir que o episódio se repita

Publicado em 13 de outubro de 2020 às 16:41

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Edson Fernando Andrade, produtor rural de Iúna
Edson Fernando Andrade, produtor rural de Iúna. (Reprodução/ TV Gazeta Sul )

Em janeiro deste ano, 11 cidades da Região Sul do Espírito Santo viveram a maior enchente de sua história. Imóveis foram danificados, levados pela força das águas do Rio Itapemirim. Vidas e sonhos foram interrompidos. Oito meses após a tragédia, uma nova expedição, realizada pela TV Gazeta Sul, mostra os desafios para impedir que o episódio se repita.

No mês de setembro, dois ambientalistas percorreram, junto à equipe da TV, mais de 700 quilômetros ao longo dos principais afluentes da bacia hidrográfica do Rio Itapemirim. O rio abrange 17 municípios no sul do Estado e uma cidade mineira.

As consequências da falta de conservação trouxeram danos à vida ambiental e humana. O produtor rural Edson Fernando Andrade, morador do interior de Iúna, no Caparaó, perdeu uma das pernas e quatro dedos da mão amputados durante um deslizamento de terra em sua propriedade. Ele tentava salvar um secador de café, quando o equipamento caiu sobre ele.

Seu sonho ainda é voltar a trabalhar na roça, como antes. “Tem muitas coisas que ainda tenho dificuldade de fazer hoje, como carregar peso, não consigo fazer quase nada, infelizmente. Olho para lá (morro) e é uma lembrança muito ruim. Tinha muita vegetação e todo ano colocavam fogo, e devido a esse fogo que acho que essa barreira desceu. Não tinha raiz nenhuma segurando mais. A preservação é algo importante para o meio ambiente e para agente. Se tivesse muita mata não tinha descido a barreira. Tinha muitos planos e foram interrompidos”, disse o produtor rural.

Conservação da vegetação para evitar a erosão do solo. (Reprodução/ TV Gazeta Sul )

O biólogo Helimar Rabello, reforça a importância de conservação da vegetação para evitar a erosão. “É preciso manter aquela vegetação no topo. Quando você coloca fogo e passa meses sem folha nenhuma, mata as raízes também. O solo fica solto, quando encharca e chove muito, não tem as raízes para segurar e desce tudo”, explica Rabello.

Dentro do rio, o ecossistema também mudou. Segundo o professor de ecologia do Instituto Federal do Espírito Santo, no campus de Alegre, Bruno de Lima Preto, a enchente trouxe desequilíbrio. “Temos diversos proprietários rurais que fazem a produção de peixes e camarões na região. Numa enchente desse tamanho, tivemos uma quantidade enorme de peixes que foi introduzida no rio e não temos predadores comuns para espécies exóticas e vamos ter um desequilíbrio ambiental”, comenta o professor.

NA CIDADE

Se no campo, a falta de preservação marcou vidas, nos centros urbanos, também. A dona de casa Maria Elisabete, mora em Castelo, uma das cidades mais afetadas pela enchente. Por lá, mais de 1,8 mil pessoas ficaram desalojadas e 50 casas foram danificadas. “Quando chove, eu vigio o rio. Subiu um pouco, a gente já fica meio cismado, fica todo mundo aglomerado em cima do morro. Ninguém tem coragem de ficar dentro de casa”, disse a dona de casa que hoje mora em dois cômodos que restaram do imóvel.

Dona de casa, Maria Elisabete, moradora de Castelo
Dona de casa, Maria Elisabete, moradora de Castelo. (Reprodução/ TV Gazeta Sul )

As construções às margens do rio foram tomadas pelas águas, principalmente em Cachoeiro de Itapemirim, quando o rio atingiu a marca dos 12 metros acima do nível normal.

“Todas as edificações deveriam estar afastadas desse rio a pelo menos 50 metros. Isso garantiria segurança da passagem das águas de cheia sem atingir as casas e isso, não foi respeitado. O que acontece é que essa agua é estrangulada de uma parte da cidade para outra. Se o outro lado também tem problema com edificações, essa água tende a subir e atingir áreas que normalmente não seriam atingidas em favor dessas construções”, analisa o agente do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).

Além das construções, há o despejo de lixo e esgoto no rio. O cachoeirense Alfredo Martins, mora às margens do Rio Itapemirim. Ele construiu próximo a água sabendo as consequências e não nega que a tragédia poderia ter sido evitada. “Fico triste e revoltado em ver o modo que a população trata nosso rio. O rio não invadiu nada de ninguém, a culpa é da própria população que esta agredindo covardemente o rio. Ele só foi onde é o caminho dele”, diz o morador.

MONITORAMENTO

A Região Sul do Espírito Santo, ao longo das bacias do Rio Novo e Itapemirim, vai receber estações de monitoramento de chuva e vazão que vão compor um sistema de alerta de eventos extremos na região, como inundações. Em agosto deste ano, órgãos do governo do Estado sobrevoaram a região para identificar os pontos que receberão os equipamentos.

As cidades de Castelo, Cachoeiro de ItapemirimAlfredo ChavesVargem AltaIconha e Piúma, castigadas por inundações em janeiro deste ano e têm um histórico de cheias dos rios que impactam a população, estão na análise. As primeiras estações devem começar a ser instaladas até o final do ano.

“Isso vai facilitar bastante, visto que nós já estamos vivendo essa questão de mudanças climáticas e que cada vez esses eventos, tanto de seca e quanto de cheias serão mais extremos e teremos que nos adequar a esta nova realidade”, analisa a vice presidente do Comitê das Bacia Hidrográfica do Rio Itapemirim, Carina Prado.

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Com informações de Mônica Camolesi, repórter da TV Gazeta Sul. 

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