O tratamento incorreto do esgoto gerado pela população e despejado desordenadamente ao longo do Rio Itapemirim ainda é um entrave para a saúde das águas do principal recurso hídrico da Região Sul do Espírito Santo. Durante a Expedição Biguá, realizada no mês de setembro, pela TV Gazeta Sul, flagrantes foram registrados ao longo do percurso. Bons exemplos também mereceram destaque.
Em um dos pontos da estação de tratamento de Castelo, em Aracuí, às margens do rio que leva o mesmo nome da cidade, a cor da água e o mal cheiro evidenciam que algo está errado. É muito decepcionante. A cor da água que sai parece leite e o odor é muito forte. Nós estamos de máscara e não estamos suportando. Se está tendo algum tipo de tratamento, ele não é totalmente eficiente. Tem alguma falha no sistema, analisou a ambientalista Dalva Ringuier, que acompanhou os expedicionários.
Quem sente de perto esse descaso, já não tem mais esperança que algo possa mudar. Eu creio que não tem melhoramento. Esse tempo todo não melhorou. O que a gente espera?, questionou a aposentada Rita Beri.
A Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) informou que o plano de saneamento é cumprido e hoje 50% do esgoto em Castelo é coletado e tratado. Disse ainda que busca investimento para melhorias no sistema para viabilizar a coleta e tratamento de esgoto em todos os bairros.
O descaso se repete em Iúna. Uma obra de Estação de Tratamento de Esgoto, orçada em mais de R$ 19 milhões, que estava em andamento no ano passado, agora, parou. Uma senhora obra para cuidar do meio ambiente e está parada. Recorrer a quem?, lamentou Fábio Ferreira de Paula, do Projeto Amigos do Verde.
A Cesan afirmou que rescindiu o contrato de concessão de obras em Iúna, em Ibatiba e Irupi devido a descumprimentos do contrato. Uma nova licitação está em andamento e a previsão de captação é 2021.
A obra parada fica bem ao lado do projeto de Fábio Ferreira. O objetivo de seu projeto é reflorestar a margem do Rio Pardo, que corta Iúna. Mas, em meio à área de preservação, um flagrante de desrespeito: óleo sendo jogado sem tratamento diretamente na área, indo em direção ao rio. Mesmo que esse óleo seja de uma oficina, a empresa precisa ter um sistema separador de água e óleo, que deve ser fiscalizado pela prefeitura, argumentou o biólogo Helimar Rabello.
O secretário de Meio Ambiente de Iúna, João Paulo Bretz, disse que vistoriou as caixas de separação de todos os estabelecimentos que geram esse tipo de resíduo na região e que as caixas estavam limpas, não havendo resíduo de óleo na saída para a rede.
Como era uma quantidade pequena de óleo suspensa na água, foi feita a limpeza no local e a lavagem da tubulação. Com o secretário de Obras, constataram que o produto era algum resíduo que estava nas paredes dos tubos da rede, que por alguma razão recebeu água e liberou o óleo na tubulação.
Na bacia do Rio Itapemirim, o Projeto Águas e Paisagens, custeado pelo governo do Estado, contempla as cidades de Ibatiba, Iúna, Irupi e Conceição do Castelo, mas só na última o tratamento de esgoto começou a funcionar.
Em Conceição do Castelo, há um sistema de esgotamento sanitário onde foram implantados 16 mil metros de rede coletora de esgoto, e realizadas mais de 2,3 mil ligações de imóveis na rede. O projeto também possui três elevatórias de esgoto bruto e uma Estação de Tratamento de Esgoto, com capacidade para tratar 15 litros por segundo.
Não é somente o esgoto que prejudica a preservação da bacia do Rio Itapemirim, as construções irregulares também se tornaram um problema. No Rio Castelo, por exemplo, um dos afluentes do Itapemirim, e em Cachoeiro de Itapemirim, milhares de casas foram erguidas às margens do rio.
O Secretário de Meio Ambiente de Castelo, Victor Emanuel Schettino, afirma que essas construções não são mais permitidas na cidade. Apesar de nossa legislação falar em 15 metros, devido ao código florestal anterior, seguimos o federal, que é de 50 metros. Então, não licenciamos mais imóveis perto do rio, disse Schettino.
Em Pacotuba, distrito de Cachoeiro, construções ocupam o que era área de preservação permanente, que deveriam estar ocupadas por mata ciliar. Não é o rio que foi até as casas, as casas foram até o rio, toda essa área tem uma planície de inundação natural do rio. Então, quanto mais se constrói aqui, quanto mais se ocupa, menos área para o rio extravasar. E aí, quem está aqui sofre esse impacto todo, frisou o biólogo Helimar Rabello.
A dona de casa Bárbara Cristina Baltazer mora há 23 anos às margens do Itapemirim, não tem condições de se mudar e sofre com as enchentes. O sonho da minha filha é sair daqui, comprar uma casa no alto para ela. Se Jesus me abençoasse, eu ia para outra casa, disse emocionada a dona de casa.
Sobre as construções irregulares em Cachoeiro, a prefeitura informou que a área de preservação permanente do Rio Itapemirim compreende uma faixa de 100 metros de afastamento e, entre córregos, uma faixa de 30 metros de afastamento. Este ano foram emitidas 17 intimações de embargo de obra e regularização. Em todo o ano passado, foram 25.
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