Nas últimas semanas, a onda de calor deixou (e ainda deixa) os termômetros 5°C acima da média em todo o Espírito Santo. Mas a temperatura extrema não é sentida igualmente por todos os moradores. Nas comunidades, o teto das casas esquentam, não há ventiladores e, debaixo de um sol escaldante, os moradores precisam subir e descer os morros. Além disso, ainda lidam com a falta d'água constantemente.
Para essas pessoas, falta o básico e as casas são construídas em regiões periféricas do jeito que dá, sem planejamento e "ventilação cruzada" - termo que os arquitetos utilizam para definir a forma como o vento entra e refresca a residência.
A respiração ofegante e o suor são sensações frequentes da autônoma Márcia Helena Carias. O sol forte castiga, mas o problema não é só esse. Todo dia, ao menos quatro vezes, ela precisa subir e descer para voltar para casa no Morro do Romão, em Vitória.
Entre os malabarismos para driblar o calor, está ficar fora de casa. Ela e os filhos estão provisoriamente na casa da irmã - que é mais fresca.
Calor tem de sobra, o que falta para muitas famílias é o básico: vento.
“Muito calor, tem vezes que preciso abrir a porta da geladeira e deixar aberta para dar uma refrescada. É calor demais, o ventilador não dá conta. A poeira é muito forte também”, afirmou o assistente de logística Leonardo Vasconcelos Dias.
Para diminuir os contrastes entre bairros da periferia e outras localidades, o arquiteto e urbanista, Alexandre Ricardo Nicolau, está organizando um projeto de assistência técnica habitacional para reformar algumas residências. O bairro escolhido para iniciar o projeto é Jaburuna, em Vila Velha.
“As melhorias habitacionais vão focar em algumas questões específicas, como ventilação, adequar parte elétrica, impermeabilizar vazamentos, construção de banheiros, vamos buscar parcerias com lojas e empresas para viabilizar esse trabalho”, explicou Alexandre Ricardo Nicolau.
A casa da dona Francisca Batista dos Santos é uma das primeiras avaliadas por Alexandre. Uma única janela tem a missão de refrescar a casa. “Quando não está ventando, é uma quentura que ninguém aguenta”, afirma.
Mudanças, mesmo que simples, podem mudar o cenário de muitas casas. Para o arquiteto, alterar a realidade dessas famílias pode transformar toda a sociedade.
O projeto de Alexandre ainda está no início. Para fazer triagem, ele conversa com os moradores das residências, pois as casas precisam passar por interdição. O morador precisa entender e aceitar. Para angariar os fundos, ele vai buscar parcerias com iniciativas privadas.
Operações que podem significar uma vida mais digna. Para fazer com que para muitos moradores, o dia azul representa um dia bonito, não mais um dos vários problemas enfrentados.
“Quando se fala de calor e de infraestrutura, os moradores tentam resolver nem que seja colocando uma piscina provisória, uma caixa d’água, banho de mangueira. Quando não falta água, é outro problema grave que as favelas enfrentam. E a gente busca esse campo da orientação, porque o poder público precisa atuar nesses casos. Como promover o melhor ambiente para essas famílias? No caso de temperaturas elevadas, estamos falando de situações extremamente adversas que essas famílias enfrentam”, afirmou Gabriel Nadipeh, presidente da Central Única das Favelas (Cufa).
Com informações do repórter João Brito, da TV Gazeta
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