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Da notícia da morte à doação de órgãos, mãe em luto narra decisão

Da notícia da morte à doação de órgãos, mãe em luto narra decisão

Filho de moradora de Cachoeiro de Itapemirim morreu precocemente, aos 20 anos; mãe narra experiência, agradece a profissionais de Saúde e exalta o que chama de "milagre da vida"

Publicado em 22 de setembro de 2023 às 13:55

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Sara Oliveira
Repórter / [email protected]

Uma mãe que mora em Cachoeiro de Itapemirim, na região Sul do Espírito Santo, perdeu o filho precocemente, aos 20 anos. Em meio à dor, uma ação: decidir doar os órgãos do jovem. Gláucia Faro conta, em entrevista emocionante à TV Gazeta, como foi o momento em que recebeu a notícia da morte cerebral do filho — que havia sofrido anteriormente uma parada cardiorrespiratória, e a importância do acolhimento de profissionais da Saúde em instantes tão delicados.

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Não tivemos dúvida. A decisão correta a ser tomada era essa: doar os órgãos do nosso filho para levar o milagre da vida a outras pessoas

Gláucia Faro
Mãe do Mateus | Em entrevista ao Matheus Passos, da TV Gazeta Sul
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A entrevista

Como o óbito de Mateus ocorreu em São Paulo, onde o jovem cursava Engenharia Naval na Universidade de São Paulo (USP), os órgãos dele foram transplantados em pacientes internados naquele Estado. Coração, córneas, rins e fígado foram destinados à doação. "Toda mãe acha o filho maravilhoso, mas o meu especificamente era um menino excelente. Sempre foi estudioso [...] trouxe muita alegria e muito orgulho pra gente", lembrou.

Amor e fé

Apesar de nunca ter imaginado passar por uma situação dessa, nem ter conversado diretamente com o filho sobre doação de órgãos, a mãe entendeu que a decisão era a mais correta naquele momento. “Não teve dúvida. Era o momento que a gente queria que a vida do Mateus continuasse em outra pessoa. Para mim, era um momento do milagre da vida. Tudo aquilo que eu sempre acreditei, que eu sempre professei, da minha espiritualidade, da minha vida cristã, aquilo que eu sempre construí enquanto fé, era o momento de colocar em prática. Não dava agora para negar tudo aquilo que eu construí no decorrer da vida, então era um ato de compaixão, de amor, de prática de um evangelho que eu sempre acreditei", explicou Gláucia, que é católica.

Acolhimento de profissionais da Saúde

Outro ponto importante no processo de decisão foi o apoio e suporte que a família recebeu da equipe da Saúde responsável pelo transplante. “Mesmo no momento de dor, de profunda angústia, de você se deparar com um filho que já tinha partido, a gente teve muito amparo pela equipe da doação de órgãos. Mesmo diante daquela dor, do coração dilacerado, a palavra que eu tenho é que eu fiquei encantada com a equipe que coordena a doação de órgãos", reforçou.

Agradecimento ao SUS

"O Sistema Único de Saúde (SUS) é algo que eu não tenho palavras para dizer. Que coisa fantástica. Fantástica no sentido do acolhimento, da responsabilidade, da competência, da forma como a coisa foi conduzida, com extrema delicadeza, com extrema humanidade, esclarecimento, com acolhimento. A equipe foi de uma generosidade com a gente. Nós parecíamos ser as pessoas mais importantes do mundo naquele momento, como se nós tivéssemos fazendo algo grandioso"

Mateus faleceu no fim de agosto e o sepultamento ocorreu em Cachoeiro de Itapemirim.

Lista de espera no ES

 2.104 pessoas aguardam pelo transplante de órgãos no Espírito Santo. De acordo com a Sesa, entre os fatores que influenciam no tempo de espera por um órgão, estão a disponibilidade e a recusa da família do possível doador. O número de recusa familiar para doação de órgãos chega a 50% no Estado — ou seja, a cada 10 pessoas que morrem e poderiam ter os órgãos doados, cinco famílias concedem a autorização. 

Protocolo

Beatriz Colodetti, enfermeira da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) do Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Cachoeiro de Itapemirim, explica como é o protocolo em casos de morte encefálica. “Tem o primeiro, o segundo exame, dois médicos diferentes, especialistas capacitados para fazer esses exames, em seguida tem o teste de apneia, e o exame complementar. Quando a gente fecha o protocolo, a gente chama a família novamente para conversar e dar o diagnóstico”, explica.

Nessas horas, o grau de informação faz toda a diferença. Beatriz explica que o desejo pela doação tem que ser livre e esclarecido. 

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Por isso que a gente fala sobre a importância de todos falarem em casa sobre o desejo de doação, avisarem aos familiares. Porque quando chega na entrevista, a gente pergunta se ele, em vida, falou sobre doação, se ele tinha esse desejo

Beatriz Colodetti
Enfermeira da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante
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Para quem assim como a Glaucia decide pela doação, a certeza é de dever cumprido, já que uma única pessoa pode salvar até oito vidas. Enquanto isso, a mãe vai aprendendo a lidar com a dor que ficou. "Uma hora da gente está bem, outra hora tudo o que a gente vê lembra o filho, mas acho que esse é um processo natural do luto, da perda, ainda mais da forma tão brusca como foi. É doloroso, mas a gente está caminhando", finalizou.

(Com informações do repórter Matheus Passos, da TV Gazeta)

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