> >
500 km de percurso e volta às origens: a emoção de quem viaja para votar

500 km de percurso e volta às origens: a emoção de quem viaja para votar

Para exercer a cidadania, eleitoras não medem esforços e até pedem dinheiro emprestado para conseguir ir às urnas

Publicado em 1 de outubro de 2022 às 07:05

Ícone - Tempo de Leitura 3min de leitura
Fernanda Muniz Fernandes e Geisibel Pires
Fernanda Muniz Fernandes e Geisibel Pires moram longe da cidade natal, mas seguem o ritual de ir às urnas nas eleições. (Arquivo pessoal)
Lívia Bonatto*
Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]

A capixaba Fernanda Muniz Fernandes mora há 10 anos na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo estando a 500 km de distância da zona eleitoral em que está inscrita, ela não mede esforços para votar no bairro de Pitanga, área rural do município da Serra e local onde tem um encontro com a urna desde os 16.

A atriz de 30 anos destaca que, em uma década vivendo longe do lugar de origem, justificou o voto apenas uma vez. A cada dois anos, ela mantém um ritual: viaja para a terra natal, aproveita para rever a família e escolhe os seus candidatos. Desta vez, em especial, para cumprir essa tradição, precisou pedir dinheiro emprestado a uma amiga para conseguir comprar a passagem.

Esse jornada da cidadania também vem sendo seguida à risca por Geisibel Pires, 41. Natural de Vitória, ela mora atualmente em Nova Venécia, no Noroeste do Estado. Neste fim de semana, a bibliotecária encara seis horas de viagem e 250 km de trajeto para exercer seu direito de voto na Capital. Para esta capixaba, o sentimento de pertencimento social e a participação nas eleições não têm preço, têm valor. Compensam o sacrifício de tanto tempo no ônibus e o custo da passagem.

Aspas de citação

Eu me esforcei um pouquinho, peguei um trabalho extra e juntei dinheiro pra viajar. Cada indivíduo é um ser único. Então, se você tem essa oportunidade de votar, que muitos até querem, mas não podem, tem que aproveitar. Justificar, para mim, é como anular essa participação. Voto desde os 16 anos e nunca justifiquei nenhum voto na minha vida, e não tenho intenção. Se eu precisar um dia, vai ser por uma necessidade extrema

 Geisibel Pires
Bibliotecária
Aspas de citação

Mesmo em eleições municipais, Fernanda e Geisibel fazem questão de votar na cidade em que cresceram e onde suas famílias residem. As duas também compartilham a ideia de que retornar ao lugar de origem é uma oportunidade de reviver memórias. A bibliotecária conta que não tem planos de transferir o título de eleitor para o interior, pois voltar para a Capital é também uma forma de reencontrar parentes e amigos. "Tem pessoas que eu vejo só em época de eleição. É um gostinho especial.”

Fernanda tem o mesmo sentimento, mas diz que talvez a transferência do domicílio eleitoral esteja próxima de ocorrer.

Aspas de citação

Tem essa questão afetiva com a votação, porque toda vez que eu preciso votar fico na casa dos meus pais. Então, é um motivo para visitá-los. Mas talvez esta seja a última eleição que eu viaje para votar. Pretendo finalmente transferir o meu título para o Rio de Janeiro nessa cidade.

Fernanda Muniz Fernandes
Atriz
Aspas de citação

VOTO EM TRÂNSITO

Ao ser perguntada sobre a solicitação do voto em trânsito, Geisibel respondeu que desconhecia essa alternativa. "Não conheço o voto em trânsito. inclusive, quando fui perguntar no cartório eleitoral sobre transferência, não fui informada, ninguém me falou sobre isso.” A bibliotecária só passou a ficar ciente dessa possibilidade durante a entrevista para este conteúdo de A Gazeta.

Quem está fora da cidade onde reside durante as eleições tem direito de exercer a cidadania por meio do voto em trânsito. Desde 2010, quando essa modalidade passou a vigorar, há uma seção especial para que pessoas possam votar, em capitais ou em municípios com mais de 100 mil eleitores, para os cargos de presidente, governador, senador e deputado federal, estadual ou distrital.

Fernanda Muniz Fernandes pontua que soube há pouco tempo que essa opção era possível, depois de terminado o prazo para solicitar.

Mas o desconhecimento não é regra. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recebeu 332.548 requerimentos de eleitores para realizar o voto em trânsito no primeiro turno das eleições de 2022. Comparando com o último pleito, de 2018, houve um crescimento de 278% nos pedidos. O prazo para solicitar a habilitação para votar, neste domingo, em trânsito ou em seção distinta da origem, expirou no dia 18 de agosto.

*Lívia Bonatto é aluna da 25ª turma do Curso de Residência em Jornalismo. Este conteúdo teve orientação da editora  do programa, Andréia Pegoretti. 

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais