De uma falsa carta contra os militares atribuída ao presidente Arthur Bernardes nas eleições 1922 até o rumor de que a conexão 5G, do século 21, dissemina o novo coronavírus, as fake news têm sido usadas para tentar manipular os capítulos da História (e de cada história). No contexto de 2022, a potência de artilharia tecnológica para disparar em massa as mensagens falsas e a força dos algoritmos podem se transformar, inclusive, em sérios prejuízos à democracia.
A luta contra a desinformação e os desafios dos profissionais de comunicação nessa pauta foram os principais pontos abordados na palestra "Jornalismo: como se proteger das fake news", ocorrida na manhã desta sexta-feira (5) no auditório da Rede Gazeta, em Vitória. O encontro marcou o lançamento da 25ª edição do Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta e teve como convidados os jornalistas Thássius Veloso e Carolina Morand. A mediação ficou por conta de Geraldo Nascimento, chefe de Redação da Rede Gazeta. Também nesta sexta, foram abertas as inscrições para concorrer a uma das 10 vagas do programa (inscreva-se clicando aqui).
"Plantar notícia falsa contra um adversário político é mais velho do que andar para a frente. Mas agora existe uma estratégia para o desmonte da verdade. É mais fácil você plantar a desconfiança em um ambiente em que as pessoas desconfiam de tudo, da vacina, da imprensa... Então é mais fácil que a pessoa desconfie também da urna eletrônica. Vai se criando um clima de desconfiança. A mentira sempre existiu, mas é lógico que existem interesses atrás disso, e as redes sociais são o veículo para disparar isso em massa. E ficamos aqui enxugando gelo, todos exaustos", afirma Carolina Morand, apresentadora do programa "Ponto Final CBN" e do podcast "Ao Ponto", de O Globo.
Jornalista especializado em tecnologia, comentarista da Globo News, da CBN e editor do site TechTudo, Thássius Veloso falou sobre como as ferramentas hi-tech vêm sendo aperfeiçoadas para enriquecer os lados opostos da moeda, o da comunicação comprometida e o da desinformação. Como exemplo positivo, citou os recursos dos Web Stories, em que se pode contar jornalisticamente fatos por meio do formato semelhante à revista, uma opção com ampla distribuição digital. Sobre o lado obscuro, ele menciona os artifícios como os deep fake, em que é possível criar vídeos cada vez mais realistas, mas com interferências determinantes em imagens e áudios, com troca de rostos e vozes.
"As pessoas interessadas em criar essas versões sofisticadas estudam, investem dinheiro, porque isso é o que faz continuar existindo o businnes delas, o bussines da mentira, do domínio político a partir dessa mentira (...). É preciso sempre ficar muito atento para esses dois lados, ou seja, compreender o que o consumidor e o leitor querem e ao mesmo tempo criar o antídoto para essas manipulações", pontuou.
Na análise de Carolina, o jornalismo demorou para acordar para o poder do alcance das fake news, que trabalham com o viés de confirmação. "As pessoas acreditam no que elas querem acreditar. É muito fácil acreditar numa notícia que bate com o que você acredita. O jornalista tem de estar alerta porque não está imune a isso também."
Expandindo a temática para a área da tecnologia, Thássius Veloso informou que os algoritmos muitas vezes são construídos para explorar a polarização e a radicalização, elevando o engajamento e entregando publicidade mais direcionada a cada grupo.
"A pessoa começa vendo vídeo de dancinha e daqui a pouco é cada coisa que aparece... Então, este é um desafio não só das empresas de comunicação, é também das big techs [grandes empresas de tecnologia]. Elas também precisam chegar junto. Se uma companhia está falando com 2 bilhões de pessoas, como ela não é uma empresa de comunicação de massa em algum sentido? Então, é mais uma faceta que esta nova geração vai ter de entender para restabelecer a verdade."
Carolina lamenta a resistência à verdade demonstrada por certa parte do público. "A polarização chegou a um ponto em que as pessoas estão muito impermeáveis ao ouvir a verdade."
Os dois jornalistas abordaram também sobre a diversificação dos formatos para apresentar a notícia, o que tem sido um desafio e ao mesmo tempo oportunidade para os comunicadores. A pluralidade abraça desde o vídeo de menos de um minuto do Tik Tok até um podcast com mais de três horas de duração. "Temos de vencer a preguiça e estar em todos os formatos. O que muda é o jeito de embalar o conteúdo", observa Carolina.
O campo de possibilidades também é outro fator de atração para a boa comunicação, acrescenta: "Continuo achando o jornalismo a profissão mais legal do mundo. O mercado é complicado. Tem plantão, a gente sabe. Mas as oportunidades de trabalho mudaram muito. A formação em Comunicação ainda pode abrir muitas portas. Nunca se produziu e nunca se consumiu tanta notícia. O que a gente tá vivendo demonstra o quanto o jornalismo é importante e essencial".
Thássius Veloso complementa: "Você tem que colocar a verdade no que você faz e se manter curioso. O mais legal do jornalismo é contar uma história, e são muitas as possibilidades. Hoje em dia tem jornalista trabalhando na seleção de notícias do LinkedIn, pensando para o Metaverso..."
Logo após a palestra de lançamento, foram abertas as inscrições para quem quiser concorrer ao Curso de Residência da Rede Gazeta. O cadastro pode ser feito até o dia 14. Estão aptos a participar da disputa formados a partir de dezembro de 2020 ou estudantes que tenham previsão de se formarem até dezembro de 2022. Pela plataforma Gupy, o candidato poderá responder ao teste de perfil e ao teste de língua portuguesa e atualidades, que já estarão disponíveis com o cadastro.
REVEJA A PALESTRA DE LANÇAMENTO DO CURSO DE RESIDÊNCIA
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