Com o propósito de serem sustentáveis rumo ao futuro de baixo carbono, empresas do Espírito Santo vêm abraçando em suas atividades operacionais e corporativas os conceitos ESG (Environmental, Social and Governance), sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança.
Neste novo contexto, negócios se movem visando ao meio ambiente e também atentando-se para o modo como seus negócios são geridos, como seus colaboradores são tratados e como seus clientes têm avaliado as ações.
Para detalhar suas práticas, representantes da Vale, da ArcelorMittal e da Suzano, patrocinadoras do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta, conversaram com a turma de dez alunos da edição 2022 programa.
Os encontros, virtuais, também serviram para levantar pontos que serão tratados na segunda temporada do podcast “Papo Residência”, que estreia sua segunda temporada em novembro próximo, sob o título “Mundo ESG: o que muda pra você”. Os conteúdos terão produção, roteiro e locução dos residentes.
Com os impactos ambientais gerados em todo o mundo e, em especial na Amazônia, é necessário reduzir os efeitos e investir em melhorias durante os processos por meio de novas tecnologias. Neste cenário, empresas investem cada vez mais em formas de recuperar o que já foi degradado para evitar problemas futuros e a falta de recursos.
É fundamental, ainda, ter compromissos voltados para reduzir esses impactos e buscar formas de trazer ganhos para a natureza e para as pessoas. Esse é o panorama exposto pela gerente de Soluções Baseada na Natureza da Vale, Patricia Daros, ao falar sobre as ações que devem ser tomadas em conjunto. "É um esforço coletivo. A gente precisa de todo mundo olhando pra isso'", afirmou Patrícia.
O ESG é um dos pilares fundamentais para a sobrevivência de uma organização no mercado, defende ela. Apesar de o conceito abranger os três pontos de forma separada, é importante ressaltar que as áreas de governança ambiental, social e corporativa trabalham juntas.
Ter um olhar para o futuro é determinante para a sobrevivência de uma organização no mercado. Hoje, complementa, mais do que nunca, é necessário repensar na forma de agir não só corporativamente falando, mas também de maneira individual.
“A empresa que tem o recurso natural como seu principal produto precisa, mais do que nunca, estar atenta a esse recurso e à forma com que ele é usado”, assinalou.
Para sobreviver, as empresas entendem que é necessário acompanhar as transformações do mundo e as exigências dos clientes. Um ponto importante é fazer alianças que articulem soluções para os problemas enfrentados pela sociedade.
Nesse sentido, um dos compromissos da Vale até 2030 é atingir o top 3 nos requisitos sociais das principais avaliações externas, retirar 500 mil pessoas da extrema pobreza e contribuir com áreas indígenas e comunidades tradicionais na promoção dos seus direitos, valorização da cultura e e no desenvolvimento.
Todas as produções das empresas geram impactos na área social, ambiental e de governança. Em 20 anos, o Brasil perdeu 6% dos campos e florestas, enquanto a silvicultura cresceu 71,4%. Com isso, as empresas vêm buscando formas de mitigar esses danos, além de pensar em produções sustentáveis para o futuro.
Um exemplo de execução das ações da Suzano foi a implementação de uma área de manejo que consiste em destinar um campo somente para a produção, com a plantação de eucalipto, e outro para preservação. Esse local de proteção tem mais de um milhão de hectares, uma área sete vezes maior que a cidade de São Paulo. Já no Espírito Santo, chega a aproximadamente 6,5 mil hectares.
“Não necessariamente esse um milhão está em perfeito estado de conservação. Por isso, temos o processo de restauração. Estimamos que cerca de 100 mil hectares desse um milhão que a gente tem de áreas conservadas necessite de alguma ação de restauração”, explicou Tathiane Santi Sarcinelli, consultora de meio ambiente florestal.
O cuidado se estende ainda à fauna. Nas regiões com presença de animais ameaçados de extinção, há monitoramento com critérios de importância. Tathiane contou que essa ação ainda é mais forte em locais com riscos mais altos, como beiras de rios.
Para ela, aplicar o ESG vai além de exercer o que preconiza cada uma das letras, pois também passa pelo trabalho de envolvê-las de forma harmoniosa. Por isso, uma das metas da Suzano é tirar 200 mil pessoas da linha da pobreza até 2030, através da biodiversidade.
Já na governança, a busca é incluir minorias em cargos de liderança e inserir assuntos como diversidade dentro da empresa.
“Se a gente quer mudar alguma coisa, a gente tem que ter protagonismo, e tem que trabalhar por dentro.” Foi assim que o engenheiro João Bosco, gerente-geral de Sustentabilidade e Relações Institucionais da siderúrgica ArcelorMittal, introduziu sua fala sobre ESG. Suas atribuições na empresa se baseiam no mesmo tripé que sustenta a sigla (Ambiental, Social e Governança), pois, para além do enfoque em sustentabilidade e comunicação interna, ele lida diretamente com a comunidade externa.
Isso não é por acaso. João Bosco é enfático ao afirmar que uma empresa é feita de gente, e essa relação entre instituição e indivíduo deve ser harmoniosa: “Vou continuar (trabalhando na ArcelorMIttal) até quando o meu propósito for alinhado com os propósitos e os valores da empresa”. Esse alinhamento pode ser verificado pelo histórico da multinacional, que há 20 anos já trabalha com ações baseadas em um modelo dinamarquês de sustentabilidade, formulados na década de 50.
O modelo é visto por seis frentes e engloba as dimensões política, social, ambiental, cultural, espiritual e econômica. Essa referência revela que o ESG, em sua essência, não é novidade. Para o engenheiro, a sustentabilidade não foi substituída pela sigla. A tríade não é algo novo e nem maior que os preceitos que a antecedem, mas sim um jeito que o mercado encontrou de mensurar os impactos sustentáveis de forma clara para as tomadas de decisão dos investidores.
Há uma interação entre todos esses princípios. Trazer essa visão holística faz com que as pessoas se tornem responsáveis e parte do todo, inspirando um senso de pertencimento. "O ESG está muito mais próximo da gente, e a gente vive isso no dia a dia, e talvez a gente não perceba", comenta Bosco.
A ArcelorMitttal é a primeira produtora de aço das Américas a receber o selo ResponsibleSteel. O Certificado garante o padrão de sustentabilidade para todo processo de produção do aço, com 12 princípios ambientais, sociais e de governança. Além disso, a empresa é responsável por um dos maiores programas de investimentos ambientais da América, o Programa Evoluir. ´No total, R$ 1,14 bilhão é investido em 310 ações de melhorias operacionais.
Em 2015, quando o Espírito Santo passou por crise hídrica, a ArcelorMittal reduziu em 31% o consumo de água de forma sustentável, tornando-se a primeira empresa racionada pela Cesan. Foi assim que a siderúrgica criou a maior planta de dessalinização do Brasil e a primeira do Grupo no mundo. Essas ações são vistas pela empresa como um investimento para o futuro. "A gente tem que garantir segurança hídrica para o negócio e para a sociedade", afirma João Bosco. Há metas a serem batidas ainda, como o objetivo de neutralizar o carbono em 25% até 2030.
Para além de serem vistas pelos stakeholders como uma boas opções de investimento, empresas que atuam em pautas baseadas em ESG trazem consigo o lucro como função social. Nas palavras do gerente-geral, "o lucro é essencial, mas tem que ser um lucro ético, um lucro justo".
Matéria produzida pelos residentes do 25º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo foi feito sob a orientação da editora do programa, Andréia Pegoretti.
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